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23/01/2004 - 05h08

Ryan Adams vira rock do avesso em 4º disco

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LÚCIO RIBEIRO
colunista da Folha

Considerado o garoto difícil e esquisito do novo rock, o talentoso guitarrista e letrista Ryan Adams expele (mesmo!) esse delicioso disco-aborto chamado "lloR N kcoR" fazendo bom uso exatamente de suas esquisitices e de sua dificuldade de viver como um ser humano aparentemente incompreendido dentro do cruel mundo da música pop.

O que pode ser um lamento para o rapaz que saiu da música country alternativa americana para cair dentro da cena pop nova-iorquina é, para quem escuta suas canções, uma dádiva.

"lloR N kcoR" é "quase" o jeito correto de escrever fielmente o nome do novo CD de Ryan Adams. Seria se o teclado do computador conseguisse reproduzir o termo "Rock N Roll" como visto em um espelho, com letras invertidas além da escrita do fim para o início.

Zoeira

A brincadeira de Adams aqui está em pegar sua eterna companheira, a guitarra grunhenta, e zoar com clássicos do rock atual e nem tanto, nas 14 faixas do CD. Em "lloR N kcoR" tem Adams interpretando a seu modo Nirvana, REM, Stooges, U2, Strokes, Replacements, Smiths. Tem horas que até parece Bon Jovi.

O disco novo de Adams não era para ser o disco novo. O que era para ter sido o lançamento 2003 do guitarrista já estava batizado como "Love Is Hell", prontinho, na mão da gravadora, a Lost Highway.

Mas a gravadora embargou o lançamento, por considerar o disco "dark, incrivelmente depressivo", justificou Ryan Adams à revista americana "Rolling Stone".

O embaço do não-lançamento fez o guitarrista entrar de novo no estúdio e sair, em pouco tempo, com esse "lloR N kcoR".

O que seria o "Love Is Hell" saiu às lojas por Adams como dois EPs, o "Love Is Hell - Vol. 1" e o "Vol. 2". E todos na mesma época, novembro do ano passado. E todos bons.

"lloR N kcoR", que ganha agora sua edição brasileira, é mesmo completamente alto-astral, comparado com o clima "dark, incrivelmente depressivo" do que seria o "Love Is Hell" álbum.

Sai muita energia juvenil de dentro das guitarras de Adams, uma espécie torta de Neil Young da geração Strokes. Mesmo que suas ótimas letras sejam lamúrias teen bem construídas, não necessariamente um desfile literal de tristeza profunda.

"Respondão"

"Let me sing a song for you/ that's never been sung before" (Deixe-me cantar uma canção para você/ que nunca foi cantada antes), começa cantando Adams, em "This Is It", a canção que abre o disco, resposta definitiva à pergunta que os Strokes deixaram no ar no título de seu primeiro CD, "Is This It?".

"Everybody is cool playing rock & roll/ I don't feel cool at all" (Todo mundo é cool tocando rock & roll/ Eu não me sinto nada cool), canta Adams, em "Rock N Roll", recado direto do guitarrista para sua gravadora. O "Rock N Roll" desta vez está escrito sem inversões/distorções. E sem guitarra: nela o genioso Adams toca piano.

O disco é cheio de títulos que remetem à história do rock independente, como se fosse uma atualização. Além do "This Is It" de Adams para o primeiro dos Strokes, tem "She's Lost Total Control" (que mostra que a mulher de hoje está muito mais descontrolada que a "She's Lost Control" de Joy Division), "1974" (a "resposta" de Adams para "1969" dos Stooges).

A grande música do disco é mesmo "So Alive", o primeiro single. De letra apaixonada e ritmo urgente, Ryan começa como se fosse o Morrissey e sua guitarra fosse a de Johnny Marr.

Mas na hora do refrão baixa um A-Ha rápido no cantor e guitarrista. Ou, para ficar mais espirituoso, é a música em que Ryan Adams começa Smiths e termina... Bryan Adams, seu quase xará canadense.

Ryan Adams pode parecer sempre pretensioso. Mas sua música não é. "lloR N kcoR" é um grande disco de llor n kcor.

Avaliação:

lloR N kcoR
Artista:
Ryan Adams
Lançamento: Universal
Quanto: R$ 35, em média
 

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