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31/01/2004 - 05h58

Escritor portenho Alan Pauls tem novo romance lançado na Argentina

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SYLVIA COLOMBO
da Folha de S.Paulo

Os personagens de Alan Pauls têm febre. Sedados pela dor, pelos remédios ou pelas drogas, movem-se num universo particular a que o escritor dá o nome de "ficção doente". Vencedor do prestigiado prêmio Herralde, um dos principais do mercado editorial espanhol, seu mais novo romance, "El Pasado", trata da história de um tradutor que vai perdendo a capacidade de entender as línguas que conhece. É também uma história de amor, em que um casal se separa depois de mais de dez anos juntos, mas a mulher segue cultivando seu amor.

Pauls, 44, é um dos principais nomes da nova geração de autores argentinos, e já amealhou elogios de gente como o veterano conterrâneo Ricardo Piglia e da crítica espanhola. "El Pasado" é o quarto romance deste portenho que também edita o suplemento cultural Radar, do irreverente jornal "Página 12" e é irmão do ator Gaston Pauls, um dos malandros do badalado "Nove Rainhas".

Saído do meio universitário, Pauls começou escrevendo ensaios de crítica literária sobre autores latino-americanos como os argentinos Manuel Puig, Borges e Roberto Arlt e o chileno Roberto Bolaño. Seu primeiro livro surgiu em 1984, o romance epistolar "El Pudor del Pornógrafo". Depois vieram "El Coloquio" (1990), uma espécie de policial em que seis amigos procuram reconstruir um crime passional, e "Wasabi" (1994, editado aqui pela Iluminuras), romance "de sensações", como o autor define, resultado de período que passou na França. "El Pasado" ainda não tem data de publicação prevista no Brasil.

O autor também faz crítica de cinema e escreve roteiros. É dele o argumento de "Vidas Privadas", primeira incursão do cantor Fito Paez como cineasta, numa história sobre a ditadura argentina.

Seu livro anterior lançado no Brasil, "Wasabi", sobre um homem que "comia" uma pomada, investigava temas relacionados ao corpo enquanto experimentava com a narrativa. O autor compara o romance anterior com o novo. "A essas duas experimentações acrescentaria a que tento fazer agora com a percepção. O que escrevo bem poderia se chamar "ficção doente", entendendo a doença como princípio de mutação que afeta tudo, corpo, alma, capacidade de narrar, relação com o mundo", diz, em entrevista à Folha.

Em "Wasabi", acrescenta, "a doença aparecia como um quisto que crescia desmesuradamente nas costas do narrador e nas tentativas que este fazia para curar-se. Agora, em "El Pasado", o protagonista, que é um tradutor, vai perdendo gradualmente todas as línguas que conhece. É o que ele mesmo chama de "meu pequeno Alzheimer linguístico". O que me interessa desses processos patológicos é que são integrais e que produzem novas formas de vida".

Seus personagens se drogam com frequência. Em "Wasabi", consumiam o remédio receitado para um quisto, em "El Pasado", tomam cocaína. "Mas a verdadeira droga, a droga profunda, é a doença, que os obriga a reorganizar toda a sua vida a partir dos sintomas que experimentam."

Em "El Pasado" há uma associação das Mulheres que Amam Demais que, ao contrário do usual, são defensoras da idéia de que se deve mergulhar cada vez mais na dedicação ao amor. Seria uma crítica a terapias convencionais?

"Elas são militantes que fizeram do amor uma causa quase política. A sensatez ou o consenso as aconselharia a limitar sua dedicação ao amor, que o adaptassem às condições reais, mas elas só pensam em afirmá-lo. Aquilo que outros vêem como uma disfunção, convertem em potência. Oliver Sacks fala do "povo surdo'; é possível, também, que exista um povo de mulheres que amam demais. Por que as síndromes amorosas não podem definir novas minorias políticas?"

Apesar de editar um suplemento cultural de um jornal diário, Pauls é cético sobre o papel do jornalismo frente à indústria de entretenimento. "Tenho uma relação paradoxal com a imprensa cultural. Por um lado eu mesmo a alimento e por outro não suporto sua obrigação de atualidade. A arte se torna cada vez mais um pretexto para que os meios possam impor fenômenos e tendências."

Como crítico e roteirista, Pauls acha que o bom momento do cinema argentino origina-se do desmoronamento de velhas crenças que regiam a indústria local.

"Principalmente a idéia de que o cinema tinha de ser primeiro industrial e depois "de arte", ou de que o bom cinema precisava de muito dinheiro e de conhecimento dos profissionais da indústria. O descobrimento mais importante do novo cinema argentino é o de que toda idéia artística deve ser uma idéia de produção, e toda idéia de produção é uma idéia artística. Uma lição que vale tanto para a nouvelle vague como para o cinema de Hitchcock."

Pauls está escrevendo um novo romance, que se chamará "Trance", sobre um casal de cineastas. "Eles ficam famosos no exíguo e influente mundo underground e, de repente, um crítico insidioso, secretamente apaixonado por ela, ou por ele, ou por ambos, escreve num jornal que o filme não é do casal mas sim de só um deles."

EL PASADO
Autor: Alan Pauls
Editora: Editorial Anagrama
Quanto: 24,5 (560 págs.)
Onde encomendar: www.casadellibro.com ou www.livcultura.com.br
 

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