Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
10/02/2004 - 08h57

"Apocalipse" questiona sociedade motorizada

Publicidade

ALEXANDRE MATIAS
free-lance para a Folha

"Imagine que um grupo de cientistas pede um encontro com as lideranças políticas do país para discutir a introdução de uma nova invenção. Os cientistas explicam que os benefícios da tecnologia são incontestáveis e que a invenção aumentará a eficiência e tornará a vida de todos mais fácil. O único lado negativo, eles alertam, é que, para funcionar, 40 mil pessoas inocentes terão de morrer a cada ano. Os políticos decidem adotar ou não a nova invenção?"

Esta suposição é feita por um professor durante um seminário sobre legitimidade política e abre o primeiro capítulo do livro "Apocalipse Motorizado". Após propô-la e observar algumas reações contra a suposta invenção, o mesmo professor responde: "Nós já a temos: o automóvel".

É neste tom --incisivo e determinante-- que a série de artigos reunidos em "Apocalipse" apontam para aquilo que consideram, senão a raiz, a materialização dos principais problemas da sociedade moderna. Organizada pelo tradutor Léo Vinícius, que assina o livro com o pseudônimo Ned Ludd, a coletânea inclui textos clássicos do novo pensamento de esquerda, como "A Ideologia Social do Automóvel", de André Gorz, além de textos sobre a realidade brasileira do assunto.

No entanto, Vinícius reluta contra a idéia de um "movimento anticarro": "São diferentes movimentos que questionam na teoria e na prática o uso de automóveis, a construção de estradas etc., por perceberem que destroem o ambiente, matam pessoas em quantidade, roubam espaço público, tornam a cidade e a vida cotidiana mais insuportáveis, criam e amplificam desigualdades sociais...".

"Por desenvolverem alguma prática que se contraponha visivelmente ao absolutismo dos automóveis e à expansão do seu uso, são muitas vezes enquadrados como "movimento anticarro", mas muitos desses movimentos são considerados também como movimentos ecologistas, anarquistas ou anticapitalistas, e com razão não ficariam muito felizes por serem rotulados como 'anticarro'", continua o organizador.

Ele cita que a ação prática de movimentos idealistas, como o grupo holandês radical Provos, que na década de 60 passou a deixar bicicletas brancas em locais públicos para livre uso da população, num protesto de natureza semelhante ao manifesto em "Apocalipse". "O que era um plano de loucos nos anos 60 virou política pública três décadas depois em cidades européias como Rochelle (França) e, mais recentemente, Helsinque (Finlândia)."

Além do problema do transporte público, os artigos abordam outros aspectos, igualmente centrais no debate político atual, como as seguidas crises energéticas, a poluição, o aumento das taxas de mortalidade no trânsito, o colapso da engenharia de tráfego e o uso do carro como símbolo de status --só para ficarmos em suas conseqüências diretas.

Vinícius escolhe um trecho como uma boa conclusão sobre o tema: "Não há nada de revolucionário em relação a algo tão racional como a abolição do carro, embora possa ter que haver uma revolução para liquidar os interesses multinacionalmente investidos que impedem que tal racionalidade seja alcançada". "E não é preciso ter carteirinha de subversivo para se convencer disso."

APOCALIPSE MOTORIZADO - A TIRANIA DO CARRO EM UM PLANETA POLUÍDO
Organização:
Leo Vinícius
Editora: Conrad
Quanto: R$ 22 (162 págs.)
 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página