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11/02/2004 - 06h43

Corrupção de Gógol ressurge em peça

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PEDRO IVO DUBRA
free-lance para a Folha

Mote da que talvez seja a peça mais conhecida do russo Nicolai Gógol (1809-1852) --"O Inspetor Geral" (1836)--, a corrupção é tema também de "Os Jogadores", texto do mesmo período, sem notícia de encenação no Brasil, que inicia temporada hoje, com direção de Hugo Coelho, 48, na sala Paschoal Carlos Magno do teatro Sérgio Cardoso.

Se a primeira obra investe na hipocrisia dos habitantes corruptos da província que bajulam um viajante por engano, por acreditá-lo inspetor da capital, a última disseca as trapaças que povoam as mesas de carteado.

"O jeito de abordar o assunto se parece com o do 'Inspetor'. O gênio corrosivo de Gógol nele permanece, talvez com mais sutileza, cavalheirismo. A peça é uma reflexão sobre o jogo, trata do jogo que estamos jogando, do jogo que o Ocidente está jogando --um jogo de falsas alianças, de vigarice com charme, de uma ética doentia", diz o encenador.

Coelho, que assinou "Poema Sujo", de Ferreira Gullar, com Esther Góes e Rubens Corrêa, em 1980, também participa da peça presente como ator. Na trama, quatro jogadores, numa estalagem da Rússia czarista de 1830, unem-se para depenar um velho com posses. Como o homem não se anima a jogar, sondam o filho, que porta uma procuração para movimentar o dinheiro do pai. A comédia, a exemplo de "O Inspetor Geral", guarda um "turning point" acerca das identidades, que não deve ser adiantado.

Segundo o diretor, o texto original sofreu mudanças, que basicamente promoveram atualizações (sem o acréscimo de "brasileirismos" ou de referências contemporâneas) de linguagem, além da redistribuição isonômica de algumas falas entre as personagens.

"Houve uma 'dramaturgia' no texto, que foi escrito há mais de 150 anos. Precisamos fazer um 'aggiornamento'. Mas, do ponto de vista da duração, por exemplo, está muito próximo do original." Realizou a tradução e a adaptação o ator e diretor Marcos Daud.

A direção de Hugo Coelho intenta sugerir o realismo que a obra do criador de "Almas Mortas" comporta, sem exatamente realizá-lo de maneira fotográfica ou arqueológica. "Gógol é um clássico. Como tal, permite uma leitura cênica que vai da alta comédia à farsa, à sátira. Enveredei pelos princípios da comédia clássica, sem me prender a truques fáceis, a apelos, tentando atingir a inteligência do espectador", explica o encenador.

Para a criação do cenário foi chamada a artista plástica e cenógrafa Heloisa Bortz, que já viajou pelo interior da Rússia e que trilhou, como parte de seu processo de pesquisa, antiquários e a rua 25 de Março atrás de referências.

De ascendência russa, ela utilizou objetos da família na encenação, tal qual o indefectível samovar (caldeira portátil que mantém a água quente para a feitura, em geral, de chá). Seu trabalho pretende citar artistas russos, entre os quais sobressai o pintor Cerov, que, no final do século 19, foi retratista de nobres.

"Os Jogadores" foi produzido pelo ator Otávio Martins (ex-integrante da Companhia do Latão e intérprete do espetáculo "Vestir o Pai", de Mário Viana, dirigido por Paulo Autran). Os figurinos são de Bruno Otaviano e a luz foi desenhada por Luiz Fernando Vaz. Agnes Zuliani (que fez Anita Malfatti em "Tarsila", de Maria Adelaide Amaral) é assistente de direção de Hugo Coelho.

OS JOGADORES
Texto:
Nicolai Gógol
Direção: Hugo Coelho
Com: Otávio Martins, Edgar Castro, Barthomoleu de Haro, Eduardo Semerjian, Hugo Coelho, Alexandre Freitas, Luiz Serra, Robson Nunes e Daniel Warren
Onde: teatro Sérgio Cardoso - sala Paschoal Carlos Magno (r. Rui Barbosa, 153, Bela Vista, tel. 288-0136)
Quando: estréia hoje, para convidados, às 21h, e amanhã, às 21h, para o público; qua. e qui., às 21h; até 1º/4. 75 min. 14 anos
Quanto: R$ 20
 

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