Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
12/02/2004 - 04h06

Atriz Fernanda Montenegro assume classe média em filme

Publicidade

FABIO CYPRIANO
Enviado especial da Folha de S.Paulo a Berlim

"Jamais imaginei que iria voltar a Berlim e a esse festival com outro filme", conta entusiasmada a atriz Fernanda Montenegro, 74, no lobby do hotel Hyatt, a poucos passos do Berlinale Palast, sede do festival alemão.

Mal termina a frase, a atriz já é interrompida por um caçador de autógrafos alemão, que lhe passa cinco fotos para serem assinadas. Entre elas, um pequeno folder de "Central do Brasil", que já tinha um autógrafo do diretor Walter Salles.

Foi justamente com "Central do Brasil", há seis anos, que a atriz brasileira ganhou um Urso de Prata --o filme levou o Urso de Ouro--, em Berlim, dando início a uma saga que culminou com a sua indicação ao Oscar de melhor atriz, em 1999. Na capital alemã, desde o aeroporto, a atriz foi perseguida pelos "caçadores".

Agora, Fernanda está em Berlim para a estréia mundial de "O Outro Lado da Rua", de Marcos Bernstein, roteirista de "Central do Brasil", que, com a nova produção, estréia na direção.

O filme é exibido hoje, no Panorama Special, e já está com os mil ingressos esgotados. A sessão promete ser emocionante para Fernanda, pois ocorre na mesma sala, o Zoo Palast, antiga sede do festival, que aplaudiu a atriz por dez minutos, há seis anos, na estréia do longa-metragem do diretor Walter Salles.

"Sou imensamente grata a Berlim quando venho para cá, e é a quarta vez; procuro cumprir alguns rituais", conta a atriz. Entre eles, Fernanda já visitou os altares babilônicos, no Pergamo Museun, e pretende ainda ver o busto de Nefertite, outra de suas visitas costumeiras.

Desafio novo

"O Outro Lado", que traz ainda o ator Raul Cortez como protagonista, chega com um desafio novo para a atriz: apresentar um filme que foge aos temas recorrentes na cinematografia brasileira.

"A gente tem uma predominância de duas vertentes, histórias sociais, das misérias, e de produções sobre o Nordeste. No fundo, elas se misturam, pois falam dos desprotegidos, do desassossego, a temática que mais grita no Brasil. Já 'O Outro Lado da Rua' toca numa zona de classe média, daqueles que estão comendo três vezes ao dia, o que não é o que se espera de filmes brasileiros no exterior", conta a atriz, agora já em outra parte da cidade, o restaurante Maxwell, de um amigo do artista britânico Damien Hirst, e, por isso, forrado com obras do controverso líder da geração Young British Art, que viveu em Berlim na década de 90.

Além de participar do festival com uma obra que foge da temática dominante na produção nacional, Fernanda observa outra faceta inovadora no novo filme: "Há uma coragem no roteiro [também de Bernstein] em tocar num relacionamento com personagens de terceira idade, quando hoje existe uma superexposição da juventude. Não tenho nada contra ela, é bom que se diga".

"Por outro lado, trata-se de uma história delicada, que costumo chamar de impressionista. Somos pessoas de terceira idade com muito vontade de viver, com muito erotismo. Não podemos nos esquecer que a história se passa em Copacabana, no Rio, à beira do mar, que contém muito iodo e faz bem para as glândulas", afirma ainda Fernanda.

Em "O Outro Lado", Fernanda interpreta Regina, uma aposentada de 65 anos que denuncia pequenos delitos à polícia e vive observando os vizinhos com um binóculo. O instrumento ótico acaba se tornando uma metáfora da própria produção para a atriz: "Bernstein conduziu o filme com um olhar contemplativo, como o olho de quem observa através do binóculo". No Brasil, quem quiser observar Fernanda Montenegro no cinema tem que esperar até maio, já que a produção tem estréia programada apenas para o dia 28.

O jornalista Fabio Cypriano viajou a convite do Instituto Goethe de São Paulo e da organização da Berlinale.
 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página