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14/02/2004 - 04h59

Evento pede regulação na cultura com liberdade

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VALMIR SANTOS
da Folha de S.Paulo

Em suas iniciativas reguladoras para as áreas da comunicação e da cultura, o governo e o Congresso não devem atropelar a liberdade de expressão.

Foi essa a percepção mais evidente entre as 76 personalidades (artistas, produtores, acadêmicos, publicitários, arquitetos, jornalistas etc) que participaram do "Conteúdo Brasil - Seminário de Valorização da Produção Cultural Brasileira", realizado anteontem no Teatro da Universidade Católica, o Tuca, em São Paulo.

"A liberdade de expressão foi enfatizada sobretudo por artistas e produtores culturais, mas todos os participantes têm a compreensão de que as áreas não estão suficientemente reguladas", afirma o coordenador-geral do evento, o jornalista Gabriel Priolli, 50, diretor da TV PUC-SP.

O seminário durou nove horas. Abriu com uma palestra do dramaturgo paraibano Ariano Suassuna. Na seqüência, os convidados foram divididos em cinco grupos de discussão.

Pautas: o impacto da produção estrangeira, as diversas formas de expressão e interdependência, qualidade na mídia, papel e limites do capital estrangeiro e impacto das novas tecnologias.

Cada grupo produziu uma síntese. O conteúdo dos debates e a apresentação das conclusões foram gravados e serão transcritos em documento a ser divulgado em breve, conforme Priolli.

Na abertura, Suassuna, 76, deu um show, quer dizer, uma aula-espetáculo. "Na minha terra, 'show' é uma interjeição para espantar galinha", afirma o filho de Taperoá (PB) que vive em Recife (PE), para quem "a independência e a identidade da cultura brasileira estão ameaçadas".

Para o cineasta Zelito Viana, 65, que mediou o grupo "As Diversas Formas de Expressão Cultural e Sua Interdependência", a influência estrangeira é uma introjeção inevitável. "A gente não sabe mais o nível da contaminação, por isso precisamos valorizar cada vez mais a cultura brasileira. Não adianta ser contra a chegada do rock", afirma Viana.

Antropofagia

Sobre o estrangeirismo na música, o sociólogo Hermano Vianna, 43, afirma encarar "com mais naturalidade essas absorções, essa antropofagia da cultura brasileira". Segundo ele, "a entrada da polca no Brasil [música típica de origem européia], por exemplo, foi importantíssima para a definição do samba como o conhecemos hoje".

Queda de referências

O ator Marco Nanini, 55, integrante da mesa "A Questão da Qualidade na Mídia e na Cultura", ressalva importância de trazer o "patrimônio cultural" para o centro da cena. "Temo que um dia sejamos obrigados a importar até programas de televisão, em vez produzirmos os nossos", diz.

No mesmo grupo, o jornalista e escritor Zuenir Ventura, 72, afirma que antigamente haviam os cânones que orientavam as preferências e gostos. "A queda de referências, modelos e padrões não se deu só no plano ideológico, mas também no cultural, quando o mercado passou a ser a medida de todas as coisas; quantidade acabou virando qualidade. Esse é o impasse", afirma.

O que leva Ventura à seguinte equação: "Nem todo sucesso é bom e nem tudo que é bom faz sucesso. E não se pode ser radicalmente contra o sucesso, por ser sucesso, e achar que tudo que não faz sucesso é bom".

O "Conteúdo Brasil" é uma promoção da Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP) e da Rede Globo de Televisão. Está previsto um segundo encontro na metade do ano.

"A expectativa é de que possamos dar o primeiro passo no sentido de repensar a produção nacional dentro dos novos desafios e oportunidades apresentadas pelo contexto e mercados atuais", avalia Priolli.
 

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