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22/02/2004
-
02h55
INÁCIO ARAUJO
crítico da Folha de S.Paulo
Ninguém faz superproduções históricas para falar do passado. Quando os italianos faziam "Cipião, o Africano", na década de 30, era com o objetivo de reencontrar as glórias de seus antepassados e reeditá-las, se possível, no continente africano, que, naquele momento, tentavam colonizar.
Quando Sergei Eisenstein realiza "Alexandre Nevski", também na década de 30, não é para glorificar o czar que expulsa os Cavaleiros Teutônicos de seu território, mas para conclamar a nação soviética a resistir aos blindados de Adolf Hitler.
Na Hollywood do pós-guerra, as superproduções são, com bastante freqüência, associadas ao anticomunismo, e possuem a virtude de colocar no mesmo plano judeus e cristãos, isto é, de observar uma cultura judaico-cristã que estaria ameaçada pelo materialismo.
Adoradores de imagem
O materialismo é, na maioria das vezes, representado por romanos, egípcios e bárbaros de forma geral: ou seja, os povos politeístas acabavam reduzidos a adoradores de imagens --o que existia à mão de mais próximo do ateísmo.
Nem só de ideologia esses filmes eram feitos. A corrida de bigas de "Ben Hur", a imagem de Moisés abrindo o mar em "Os Dez Mandamentos", a longa fila de cruzes em "Spartacus" são momentos capitais da idéia de espetáculo tal como cultivada em Hollywood: algo que nos impressiona, nos aplastra e ao mesmo tempo nos arrebata.
À medida que a Guerra Fria arrefece, e o Vietnã toma seu lugar, nos anos 60, os espetáculos históricos caem de moda. São evocados por um Jean-Luc Godard ("Eu te Saúdo, Maria"), por um Martin Scorsese ("A Última Tentação de Cristo"), em chaves de um modo ou de outro iconoclásticas, nos 80.
Nova onda
Pode ser que uma nova onda esteja se insinuando agora, primeiro com o "Gladiador" de Ridley Scott, agora com essa investida de Mel Gibson. Pode ser.
Mas o novo superespetáculo só será espetacular mesmo quando consagrar seus ícones: um Cecil B. DeMille, que tenha a capacidade de unir o mais sacro e o mais profano (ou o mais santo e o mais devasso), um Charlton Heston com seu ar bíblico, uma Jean Simmons, a indefectível romana convertida aos bons.
Análise: Novo superspetáculo só terá êxito com ícones
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crítico da Folha de S.Paulo
Ninguém faz superproduções históricas para falar do passado. Quando os italianos faziam "Cipião, o Africano", na década de 30, era com o objetivo de reencontrar as glórias de seus antepassados e reeditá-las, se possível, no continente africano, que, naquele momento, tentavam colonizar.
Quando Sergei Eisenstein realiza "Alexandre Nevski", também na década de 30, não é para glorificar o czar que expulsa os Cavaleiros Teutônicos de seu território, mas para conclamar a nação soviética a resistir aos blindados de Adolf Hitler.
Na Hollywood do pós-guerra, as superproduções são, com bastante freqüência, associadas ao anticomunismo, e possuem a virtude de colocar no mesmo plano judeus e cristãos, isto é, de observar uma cultura judaico-cristã que estaria ameaçada pelo materialismo.
Adoradores de imagem
O materialismo é, na maioria das vezes, representado por romanos, egípcios e bárbaros de forma geral: ou seja, os povos politeístas acabavam reduzidos a adoradores de imagens --o que existia à mão de mais próximo do ateísmo.
Nem só de ideologia esses filmes eram feitos. A corrida de bigas de "Ben Hur", a imagem de Moisés abrindo o mar em "Os Dez Mandamentos", a longa fila de cruzes em "Spartacus" são momentos capitais da idéia de espetáculo tal como cultivada em Hollywood: algo que nos impressiona, nos aplastra e ao mesmo tempo nos arrebata.
À medida que a Guerra Fria arrefece, e o Vietnã toma seu lugar, nos anos 60, os espetáculos históricos caem de moda. São evocados por um Jean-Luc Godard ("Eu te Saúdo, Maria"), por um Martin Scorsese ("A Última Tentação de Cristo"), em chaves de um modo ou de outro iconoclásticas, nos 80.
Nova onda
Pode ser que uma nova onda esteja se insinuando agora, primeiro com o "Gladiador" de Ridley Scott, agora com essa investida de Mel Gibson. Pode ser.
Mas o novo superespetáculo só será espetacular mesmo quando consagrar seus ícones: um Cecil B. DeMille, que tenha a capacidade de unir o mais sacro e o mais profano (ou o mais santo e o mais devasso), um Charlton Heston com seu ar bíblico, uma Jean Simmons, a indefectível romana convertida aos bons.
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