Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
28/06/2008 - 11h00

Vitor Ramil lança sua Macondo particular em livro

Publicidade

SYLVIA COLOMBO
da Folha de S.Paulo, em Buenos Aires

da Folha Online

A primeira vez que Vitor Ramil, 46, inverteu o nome de sua cidade foi para que ele coubesse na letra de uma canção. Assim, Pelotas virou Satolep, lugar imaginário que ressurgiria em outras construções do cantor, compositor e escritor gaúcho.

No ano passado, ao lado do percussionista Marcos Suzano, Ramil lançou o álbum "Satolep Sambatown". Agora, sua Macondo particular surge também em forma de romance, "Satolep", que será apresentado na Flip na próxima sexta, dia 4, na mesa com o nome "Estética do Frio" (veja na pág. E5).

O título do encontro é uma espécie de conceito que Ramil criou nos anos 90, no Rio, para onde havia se mudado ao iniciar sua carreira. "Estava refletindo sobre a minha condição de artista brasileiro, mas que não se sentia identificado com o estereótipo relacionado ao tipo de música popular e comercial que se faz no Rio ou no Nordeste. Ao mesmo tempo, percebi que meu vínculo com o Sul e com a sonoridade que encontrava ao visitar o Uruguai ou a Argentina era forte", explicou à Folha, por telefone.

Desta busca surgiram álbuns como "Ramilonga - A Estética do Frio" e "Tambong", com elementos de MPB, música gaúcha e milonga. Certa semelhança com o modo de cantar e o timbre de voz de Caetano Veloso faz imaginar como seria a arte do baiano caso este tivesse nascido no Rio Grande do Sul.

Além dos discos, Ramil escreveu um romance, "Pequod", inspirado por viagens que fazia com o pai por terras uruguaias e argentinas quando garoto.

"Essa fase de auto-avaliação, de olhar de um país vizinho para o Brasil, foi importante para que pensasse sobre minha nacionalidade. No Sul é muito concreto esse sentimento de que, em certas coisas, não somos parte do Brasil. Eu me sentia mal ao imaginar que eu não podia fazer música brasileira porque essa tradição não me pertencia, mas isso era absurdo. Foi então que voltei a Pelotas e percebi que poderia acrescentar algo a essa tradição a partir de uma mirada sulista."

Pequenas ficções

"Satolep" tomou como inspiração um livro de fotos, o "Álbum de Pelotas", de 1922. Ali aparecem os velhos casarões, hotéis e praças da cidade. "Primeiro, comecei a criar pequenas ficções para cada uma delas, depois veio a idéia de um romance que as amarrasse."

A obra começa com a chegada a Satolep de um rapaz de 30 anos que quer, com esse retorno ao lugar onde nasceu, fechar um ciclo de suas voltas pelo mundo e fazer um balanço do que viveu. Ao desembarcar do trem, ao contrário do que seria natural, não busca a casa paterna. Aluga uma casa e nela instala seu estúdio fotográfico.

Seus passos em Satolep passam a ser guiados pelo encontro com figuras fictícias e outras baseadas em personagens reais nascidos em Pelotas. Entre elas, o escritor João Simões Lopes Neto (1865-1916), autor de clássicos sulistas como "Contos Gauchescos" e "Lendas do Sul", e o poeta Francisco Lobo da Costa (1853-1888).

A trama se desenrola a partir do momento em que um desconhecido lhe entrega uma pasta numa estação de trem. Ela contém textos que descrevem imagens ainda não tomadas pelas lentes do protagonista. Sem ler os escritos antes, o narrador sai às ruas, faz fotos e, ao retornar, depara-se com elas previamente traduzidas ao papel. Obcecado por saber do que se trata tal mecanismo, cada vez mais se envolve numa história cujo fim desconhece, mas que certamente contém seu destino.

Música

Ramil diz que, apesar de ter nascido numa família de músicos (ele é irmão dos membros da dupla Kleiton e Kledir) e de ter se projetado mais nessa área, a literatura sempre o atraiu. "Sou um cantor meio atípico. Não gosto muito de fazer shows, de estar nesse universo. Sempre disse que queria ser compositor, mas ter uma vida mais isolada, de escritor."

Seus projetos incluem a parceria com Jorge Drexler. Participou do CD "12 Segundos de Oscuridad", do uruguaio, e ambos devem fazer shows juntos no Brasil nos próximos meses. Em entrevista recente, Drexler se referiu a Ramil como "o melhor músico de sua geração".

Apesar de reconhecer as afinidades que seu trabalho tem com o de outros artistas que buscam recuperar tradições da região do rio da Prata e interpretá-las de modo contemporâneo, como Drexler e o argentino Kevin Johansen, Ramil estabelece um limite. "Eles podem tomar coisas como o tropicalismo ou a bossa nova com mais liberdade, experimentar com esses gêneros de modo mais espontâneo. Eu não. Por ter sido formado pela MPB, quando componho, trago essa herança comigo e tenho a obrigação de estabelecer um diálogo com esse passado, trazer algo novo a ele."

 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página