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01/03/2004 - 09h41

Escuta aqui: No paraíso dos CDs, quase tudo é mais ou menos

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ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR
Colunista da Folha de S.Paulo

Estes versos são bonitos: "Te mandei um beijo/ Até amanhã você recebe" ("I blow you a kiss/ It should reach you tomorrow"). É uma tradução livre da letra de "Fugitive Motel", da banda inglesa Elbow. O álbum se chama "Cast of Thousands" e já saiu no Brasil. Tem 13 faixas, três delas muito boas. Dá 23,08% do total.

"Cast of Thousands" entrou para a minha coleção há duas semanas, comprado na Amoeba de Hollywood, a melhor loja de música desde o Big Bang.

Cada vez que entro (ou melhor, mergulho) na Amoeba, sobre a qual "Escuta Aqui" já falou tantas vezes, renovam-se as esperanças na música e na espécie humana.

Trata-se de um hipermercado de CDs, vinis, vídeos, pôsteres, DVDs e camisetas. Não há nada remotamente comparável no Brasil. Pense no maior supermercado que você já visitou. É mais ou menos isso. Só que melhor.

As prateleiras de novidades parecem não ter fim. Vários CDs trazem indicações do próprio "staff" da loja, formado por malucos colecionadores, gente que tem suas próprias bandas, aspirantes a críticos e "nerds" em geral. Se você viu o filme "Alta Fidelidade", tem uma idéia da atitude da rapaziada.

Mas eu falava em esperança. Basicamente, a esperança de encontrar aquele som que dilacera nossas convicções, aquela banda que eletrifica nossas terminações nervosas. O novo artista do qual o mundo todo vai ouvir falar em breve.

E lá vamos nós pegar CDs só porque a capa é bonita ou porque o nome do grupo é legal ou com base unicamente na indicação de um balconista "geek" de 21 anos que detesta todo artista conhecido por mais de 80 pessoas.

O ritual é o de sempre: pelo menos uma hora de compras desenfreadas, longa espera na fila para pagar (mas como? não dizem por aí que as lojas de música andam vazias?), depois o olhar de espanto do caixa, em seguida o arrependimento que faz desistir de alguns itens na hora de pagar, depois um brinde por ter gastado tanta grana (desta vez ganhei uma sacola bacana, de pano, com o logo da loja), então a volta para o hotel, arrumar tudo na mala, rasgar a embalagem plástica já no Brasil, colocar os CDs no aparelho de som e, finalmente... descobrir que 90% das músicas são fracas e/ ou chatas e/ou semi-acabadas (porque são de bandas iniciantes sem produção decente) e que praticamente todos os álbuns comprados dariam, no máximo, um bom EP com cinco músicas de nota acima de seis e meio.

E voltam então as já batidas teorias de por que a troca de músicas (paga ou não) pela internet dá tão certo e lembramos a dificuldade (incapacidade?) de jovens e velhos músicos de lançar álbuns consistentes.

Você que tem a infinita paciência de acompanhar "Escuta Aqui" talvez se lembre de que, em 2003, esta coluna ouviu apenas dois álbuns dignos do nome, sólidos da primeira à última faixa: "Welcome to the Monkey House", dos Dandy Warhols, e "Sumday", do Grandaddy.

Mas a esperança continua. Pelo menos, até a próxima visita à Amoeba (pronuncia-se Amiba). Até a próxima, então.

BRASAS

O terror da água - 1

Tive em mãos, na seção de filmes da Amoeba, duas versões do DVD de terror japonês "Dark Water": uma inglesa (não toca no meu aparelho) e outra que toca aqui no Brasil, mas que só tinha legendas em chinês. Bobeira total, acabei deixando as duas na loja. Se arrependimento matasse...

O terror da água - 2

Dirigido por Hideo Nakata (o mesmo de "Ringu", que originou "O Chamado"), "Dark Water" mostra mãe e filha vivendo em um apartamento em que chove 24 horas por dia, mesmo que o tempo lá fora esteja maravilhosamente ensolarado. Está sendo refeito nos EUA, com direção de Walter Salles.

Os melhores sons - 1

Já está na internet a nova relação de discos preferidos pelo staff da Amoeba. Se você for uma pessoa normal, garanto que nunca ouviu falar de pelo menos 90% dos artistas recomendados. Os caras detestam tudo o que é "comercial". Nem Strokes e White Stripes têm moral com esse povo.

Os melhores sons - 2

Em alta entre os "amoebamaníacos" estão nomes como Husbands (só meninas, de San Francisco), Octavius (hip hop eletrônico-experimental) e Exploding Hearts (power pop). Se a passagem para a Califórnia está cara (sabe como é?), existe a internet, a vontade de conhecer novidades etc. e tal.

CD PLAYER

Play
"Amores Perros", trilha sonora

No Brasil, o filme, de 2000, se chamou "Amores Brutos". Só vi há pouco. A trilha é desesperadamente linda. Destaques absolutos: "Corazón", com a dupla Titán, e "Lucha de Gigantes", com a banda Fiebre.

Pause
"Cast of Thousands", Elbow


Muito irregular o álbum desses britânicos cheios de melodia. Pecado irremediável é a faixa "Snooks (Progress Report)", que, sem exagero, parece Peter Gabriel da fase "Biko".

Eject
"Telecast", Telecast


Disseram para mim que Telecast, de Los Angeles, era o encontro dos Strokes com o Burt Bacharach. Lá fui eu escutar. Salva-se uma canção: "I'm No Calculator". Se tiver curiosidade, baixe.

Álvaro Pereira Júnior, 40, é editor-chefe do "Fantástico" em São Paulo
E-mail: cby2k@uol.com.br
 

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