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08/03/2004 - 09h25

Grupo Oficina leva "Os Sertões" para a Alemanha

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VALMIR SANTOS
da Folha de S.Paulo

Durante a Guerra de Canudos (1896-97), no sertão baiano, o Exército incluía no aparato bélico os canhões Krupp para intimidar os resistentes jagunços de Antônio Conselheiro.

Essa peça de artilharia era fabricada na região de Ruhr, norte da Alemanha, onde está localizada a cidade de Marl. Será justamente ali, num galpão pertencente a uma mineradora de carvão, que o grupo Oficina Uzyna Uzona apresentará sua transposição do épico "Os Sertões", de Euclydes da Cunha (1866-1909) para o teatro.

Evento internacional com sede em Recklinghausen --no norte do país--, o Ruhrfestspiele (festival de Ruhr, em português) convidou a companhia do diretor José Celso Martinez Corrêa para um projeto especial que se estende à vizinha Marl.

O Oficina fará a pré-estréia do quarto espetáculo, "A Luta". Também serão apresentadas "A Terra", "O Homem - Do Pré-Homem à Revolta" e "O Homem - Da Revolta ao Trans-Homem", encenações anteriores que, antes, ganham retrospectiva no Bexiga.

O curador do festival, Matthias Pees, reuniu-se no último sábado, em São Paulo, com o ator Marcelo Drummond, responsável pela produção do Oficina. Eles acertaram os últimos detalhes. Cerca de 60 pessoas, entre elenco e equipe técnica, embarcam para oito apresentações, duas de cada peça, entre 20 e 31 de maio.

Segundo Pees, 34, a companhia brasileira vai ocupar o galpão Grubenausbauwerkstatt, que já serviu de oficina para manutenção das máquinas de extração de carvão. Será criado espaço que lembre o teatro Oficina, com sua passarela e platéia disposta na lateral (600 pessoas). Além de "Os Sertões", o segmento teatral do Ruhrfestspiele, que começa no dia 30 de abril, vai até até 13 de junho e se espraia para áreas de dança, música e instalações, programou o grupo de rua do coreógrafo Bruno Beltrão, de Niterói, que leva quatro peças.

Entre os artistas internacionais, participam o argentino-espanhol Rodrigo García, com a cia. La Carnicería Teatro, e o coreógrafo francês Philippe Jamet.

Pees afirma que a trajetória do festival, lançado em 1946, é marcada pela resistência. Surgiu no pós-guerra como contraponto ao mais tradicional festival de música alemã, o de Bayreuth, dedicado à obra do compositor alemão Richard Wagner. Foi uma iniciativa dos sindicatos dos trabalhadores mineiros que não tinham acesso à alta cultura.

O diretor-artístico do Ruhrfestspiele, o também encenador Frank Castorf, orientou a curadoria a trabalhar neste ano com o tema "Sem Medo" ("No Fear"). "Sem medo do sistema social que está caindo na Alemanha e em outros países; sem medo do terrorismo que controla nossos sentidos; sem medo de apostar na vanguarda que não seja novidadeira; sem medo de que o espectador alemão não veja as atrações; enfim, sem medo de fazer festival que traga um projeto como "Os Sertões'", diz Pees.

Legendas

A cada sessão, haverá cerca de 45 minutos de introduções sobre "Os Sertões", pelo professor de literatura latino-americana e língua portuguesa na Universidade de Berlim, Berthold Zilly, que traduziu o épico de Euclydes da Cunha para o alemão dez anos atrás. Parte das falas será legendada.

O curador do Festival Internacional de Teatro de São José do Rio Preto (SP), Ricardo Fernandes, também confirma "Os Sertões" para a edição de 2004.

Leia mais
  • Retrospectiva de "Os Sertões" exibe peças anteriores
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