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08/03/2004
-
09h42
INÁCIO ARAUJO
Crítico da Folha de S.Paulo
É estranho que "Noites de Lua Cheia" tenha demorado 20 anos a chegar ao Brasil: de todos os filmes de Eric Rohmer, este é possivelmente o mais popular e aquele que reúne mais qualidades para abrir ao espectador as portas do "sistema Rohmer".
O filme faz parte da série "Comédias e Provérbios" e ilustra um ditado que, traduzido literalmente, significa "quem tem duas mulheres perde a alma, quem tem duas casas perde a razão". Louise mora com Remy em uma casa de subúrbio rico, mas não agüenta muito ficar longe de Paris e de sua movimentação.
Apesar das reservas de Remy, ela decide montar um apartamento em Paris. O que cria uma situação conjugal ambígua, é claro. Não, contudo, para uma personagem de Rohmer, como Louise, que, como boa francesa, é uma completa racionalista, verbaliza admiravelmente seus pensamentos e acredita piamente em seu próprio discurso.
Remy não vê as coisas assim, e demonstra com clareza seu ciúme. Louise não quer que ele se sinta assim: ela preza enormemente sua liberdade, e preza igualmente a de Remy. Acredita que estarem longe não será, de modo algum, um problema para a relação.
É óbvio que a liberdade não será uma coisa assim tão fácil (exemplo: logo que se instala, liga para toda a caderneta de telefones, mas não encontra ninguém livre). A distância gerará situações quase infantis em que Louise terá de se esconder do próprio namorado.
Tudo isso faz de "Noites de Lua Cheia" um dos filmes mais leves, mais engraçados, e de andamento mais ágil de Rohmer. Em suma, é perfeito para que o espectador perceba o quanto a obra do cineasta tem de sutil e de cinematográfica.
Mais do que nunca, aqui fica claro que, apesar de falarem pelos cotovelos, os personagens de Rohmer não têm existência sólida no papel. Eles precisam da imagem --dessa magnífica fonte de mal-entendidos que é a imagem-- para que essa fina camada que separa a palavra da verdade se manifeste plenamente. "Noites de Lua Cheia" é um desses filmes que se vê e revê com prazer, muitas vezes.
Por fim, vale lembrar que a protagonista, Pascale Ogier, morta precocemente de ataque cardíaco um dia antes de completar 26 anos de idade, ganhou o prêmio de melhor interpretação feminina no Festival de Veneza de 1984 por sua atuação no filme.
Noites de Lua Cheia - Les Nuits de la Pleine Lune
Avaliação:
Produção: França, 1984
Direção: Eric Rohmer
Com: Pascale Ogier, Tchéky Karyo
Onde: em cartaz no Top Cine
Crítica: Eric Rohmer contrapõe vida conjugal e liberdade
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Crítico da Folha de S.Paulo
É estranho que "Noites de Lua Cheia" tenha demorado 20 anos a chegar ao Brasil: de todos os filmes de Eric Rohmer, este é possivelmente o mais popular e aquele que reúne mais qualidades para abrir ao espectador as portas do "sistema Rohmer".
O filme faz parte da série "Comédias e Provérbios" e ilustra um ditado que, traduzido literalmente, significa "quem tem duas mulheres perde a alma, quem tem duas casas perde a razão". Louise mora com Remy em uma casa de subúrbio rico, mas não agüenta muito ficar longe de Paris e de sua movimentação.
Apesar das reservas de Remy, ela decide montar um apartamento em Paris. O que cria uma situação conjugal ambígua, é claro. Não, contudo, para uma personagem de Rohmer, como Louise, que, como boa francesa, é uma completa racionalista, verbaliza admiravelmente seus pensamentos e acredita piamente em seu próprio discurso.
Remy não vê as coisas assim, e demonstra com clareza seu ciúme. Louise não quer que ele se sinta assim: ela preza enormemente sua liberdade, e preza igualmente a de Remy. Acredita que estarem longe não será, de modo algum, um problema para a relação.
É óbvio que a liberdade não será uma coisa assim tão fácil (exemplo: logo que se instala, liga para toda a caderneta de telefones, mas não encontra ninguém livre). A distância gerará situações quase infantis em que Louise terá de se esconder do próprio namorado.
Tudo isso faz de "Noites de Lua Cheia" um dos filmes mais leves, mais engraçados, e de andamento mais ágil de Rohmer. Em suma, é perfeito para que o espectador perceba o quanto a obra do cineasta tem de sutil e de cinematográfica.
Mais do que nunca, aqui fica claro que, apesar de falarem pelos cotovelos, os personagens de Rohmer não têm existência sólida no papel. Eles precisam da imagem --dessa magnífica fonte de mal-entendidos que é a imagem-- para que essa fina camada que separa a palavra da verdade se manifeste plenamente. "Noites de Lua Cheia" é um desses filmes que se vê e revê com prazer, muitas vezes.
Por fim, vale lembrar que a protagonista, Pascale Ogier, morta precocemente de ataque cardíaco um dia antes de completar 26 anos de idade, ganhou o prêmio de melhor interpretação feminina no Festival de Veneza de 1984 por sua atuação no filme.
Noites de Lua Cheia - Les Nuits de la Pleine Lune
Avaliação:
Produção: França, 1984
Direção: Eric Rohmer
Com: Pascale Ogier, Tchéky Karyo
Onde: em cartaz no Top Cine
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