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09/03/2004 - 05h21

Ciclo resgata raridades do regime militar

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MARCIO PINHEIRO
free-lance para a Folha de S.Paulo

Recordar é viver. Mas quem não viveu o período terá a chance de conhecer, a partir de hoje no Centro Cultural São Paulo, como eram os conturbados anos do movimento militar no Brasil (1964-1985), na mostra "Golpe de 64 - Amarga Memória".

Serão exibidos 68 filmes de ficção e documentários para lembrar os 40 anos do movimento que tomou o poder em 31 de março de 1964 no Brasil. O evento vai até o dia 24 e é gratuito.

Nos 14 dias de programação, serão projetados filmes contra o movimento ("Pra Frente Brasil"), obras que contribuíram para a imagem do regime ("Independência ou Morte") e trabalhos censurados, além da exibição de filmetes institucionais do movimento exibidos na TV na época e nunca mais vistos pelo público.

Outra raridade presente na mostra são dois programas do controvertido jornalista Amaral Neto encontrados no Arquivo Nacional do Rio de Janeiro. O historiador e autor de "Reinventando o Otimismo - Ditadura, Propaganda e Imaginário Social no Brasil" (FGV), Carlos Fico, explica que, embora mostrassem as grandes obras do governo militar (como as reportagens sobre a rodovia Transamazônica) e ser considerado por alguns como "porta-voz" dos militares, os programas de Amaral Neto não eram bem vistos pelos integrantes da AERP (Assessoria Especial de Relações Públicas, então órgão de propaganda política da Presidência da República).

Segundo a jornalista Denise Assis, autora de "Propaganda e Cinema a Serviço do Golpe 1962-1964" (Mauad), Amaral Neto, "o cineasta do Brasil grande", "foi o braço da ditadura na TV".

No âmbito dos documentários, a estrela da mostra é Jean Manzon, com 13 filmes. Para Assis, Manzon foi o mais importante documentarista do período "pela ideologia que ele imprimiu aos filmes, de defender e mostrar o milagre brasileiro para um público externo, além de, do ponto de vista estético, ter sido um precursor", como em "Nordeste, Problema Número 1" (1964).

Para Assis, as obras mais significativas da mostra são o filme "Pra Frente Brasil" (1982), de Roberto Farias, e o documentário "Jango" (1984), de Silvio Tendler, por serem "produções feitas num período ainda fechado. Uma exibe o sistema de tortura. A outra, a imagem de um presidente banido".

Já Fico diz que não há um filme mais significativo sobre o regime. "Os filmes já feitos são quase sempre vítimas dos mitos e estereótipos, com redução dos militares ao papel de torturadores e transformação de 'guerrilheiros' em heróis românticos." No entanto, o professor classifica os filmetes produzidos pela AERP como "marcantes". Os filmetes eram propagandas do regime que duravam cerca de um minuto. Eles serão compilados e exibidos em uma sessão única de 75 minutos.

Assis também destaca "Os Inconfidentes" (1972), de Joaquim Pedro de Andrade, que, ao contrário de "Pra Frente Brasil" e "Jango", não fazia um discurso direto contra o movimento.

Outros filmes que contam a história do Brasil feitos sob o regime militar tinham o intuito de enaltecer figuras da República visando fortalecer o regime. "Esse marketing foi altamente nocivo porque a geração tomou horror aos símbolos nacionais. Por um bom tempo ninguém podia ver bandeira, o símbolo da República, porque houve uma overdose, uma enxurrada de uso indevido desses símbolos pelos militares", explica Assis.

"Hoje reconheço que 'Independência ou Morte' (1972), de Carlos Coimbra, é um bom filme. Mas na época ficou antipatizado porque o filme fazia uma apologia do regime militar."

Segundo o curador da mostra, Reinaldo Cardenuto Filho, o critério de seleção dos filmes é a raridade e ser, de preferência, do período entre 1961 a 1985 para "tentar mostrar como o cinema retratou a sociedade daquela época". "Queremos que o espectador sinta como era viver naquela época." Por isso filmes recentes como "O que É Isso, Companheiro" (1997), de Bruno Barreto, e "Lamarca" (1994), de Sergio Rezende, estão de fora da programação.

MOSTRA GOLPE DE 64 - AMARGA MEMÓRIA -
Onde: Centro Cultural São Paulo (r. Vergueiro, 1.000, Paraíso, tel. 3277-3611)
Quando: de hoje ao dia 24
Quanto: entrada gratuita
 

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