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12/03/2004 - 08h25

Versão de "Tartufo" cutuca fanatismo e moral de aparências

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VALMIR SANTOS
da Folha de S.Paulo

A moral das aparências, das varas curtas com as quais o dramaturgo francês Jean-Baptiste Poquelin, o Molière (1622-73), cutuca o fanatismo religioso e a burguesia em "Tartufo" ("Le Tartuffe", 1664) ganha contornos mais visíveis na montagem protagonizada por Eduardo Moscovis, que estréia hoje temporada paulistana no Cultura Artística.

O diretor Tonio Carvalho acha oportuno ter um galã das novelas interpretando um personagem repugnante, amoral. Ao encantamento pela beleza física, diz ele, segue-se a decepção pelo caráter.

"A repugnância física é aparente, enquanto a moral é interior. Com o Eduardo em cena, o público está diante do belo, mas tem que assimilar com ele a prática do mal", diz Carvalho, que comandou a escola de atores da Globo, onde conheceu Moscovis.

"Muitas pessoas mais preparadas para agir na sociedade são preteridas por aquelas menos qualificadas, mas que têm uma bela aparência e são tratadas como celebridades", diz o diretor.

"Tartufo" é uma das comédias satíricas de Molière, uma crítica aos vícios da vida política, social e religiosa. No século 17, o texto foi censurado pela igreja e liberado quase uma década depois com modificações. Conta-se as artimanhas de um falso devoto, o personagem-título, acolhido na casa do rico Orgonte (Ernani Moraes), que se deixa fascinar para, quem sabe, salvar sua alma.

Disposto a tirar partido de tudo, Tartufo mobiliza a todos na família. Orgonte lhe oferece a filha Mariana (Leandra Leal) em casamento, mas ele vai se apaixonar pela mulher do burguês, Elmira (Vanessa Gerbelli). O sentimento amoroso é uma fresta que permite notar as contradições humanas do protagonista, aquém da explícita superfície do mau-caráter.

"É instigante como o riso em Molière vem como conseqüência do que a dramaturgia propõe, e não como preparação do ator", diz Moscovis, 35.

Cabe à empregada Dorina (Ana Lúcia Torre) a comicidade mais aberta, popular. Não menos inescrupulosa que os patrões, ela comete interferências decisivas no rumo na história e também o faz "em nome de Deus".

Carvalho e Moscovis (que trabalharam com Ana Lúcia em "Norma", em 2002) atentam para o discurso do fanatismo que também pretendem relevar no espetáculo, a espelhar conflitos do mundo contemporâneo.

Um fanatismo que a encenadora Ariane Mnouchkine e a companhia Théâtre du Soleil fizeram questão de enfatizar no "Tartufo" que montaram em 1995, justamente no país de Molière, seis anos antes dos ataques em 11 de setembro nos EUA.

No Brasil, o personagem já foi representado por Gianfrancesco Guarnieri (1964), Jardel Filho (1966) e Sérgio Mamberti (1985).

TARTUFO
Direção: Tonio Carvalho
Cenário e figurinos: José de Anchieta
Com: Vanessa Gerbelli, Sergio Módena, Oberdan Júnior e outros
Onde: teatro Cultura Artística - sala Rubens Sverner (r. Nestor Pestana, 196, Consolação, tel. 0/ xx/11/3256-0223)
Quando: estréia hoje, para convidados, e a partir de amanhã para o público (sex. e sáb., às 21h; dom., às 18h). Até 2/5.
Quanto: R$ 40 e R$ 50 (sáb.)
Patrocinador: BrasilTelecom
 

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