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15/03/2004 - 09h56

Escuta aqui: Eu amo minha esposa e o rock brasileiro

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ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR
Colunista da Folha de S.Paulo

Você já deve ter visto o adesivo em algum carro: "Eu amo minha esposa".

Supostamente, uma declaração pública de amor à patroa, tão enorme (a declaração, não a patroa) que não cabe entre as quatro paredes fininhas de um apartamento. Precisa ser exposta, colada em um vidro traseiro ou num pára-choque --ali, bem clara: "EU AMO MINHA ESPOSA!".

Não sei que ás da psicologia inventou esse slogan de tamanho sucesso. Porque não é preciso ser exatamente a reencarnação de Sigmund Freud (ou, para ser mais exato, de Joseph Goebells, o "mastermind" da propaganda totalitária) para perceber que a frase significa exatamente o oposto do que divulga.

Ela significa, na verdade, "eu odeio minha minha vida", "meu salário é péssimo" e, mais precisamente, "eu detesto o que sou, mas, já que o pouco que tenho é tudo o que tenho e jamais vou ter, vou me apegar a isso como um exercício final e desesperado de auto-estima e, por isso, vou fingir, conscientemente ou não, que "EU AMO MINHA ESPOSA"!

A lógica mentirosa desse adesivo é a mesma de publicações que cobrem de maneira dócil a vida de celebridades. "Olha, você que está nos lendo, saiba que fulana, muito famosa e milionária, detesta badalação, só bebe socialmente, não usa drogas, vai buscar os filhos na escola como todo mundo, adora fazer compras no supermercado, faz questão de tratar bem os fãs que dela se aproximam".

Traduzindo: "Olha, você que está nos lendo e detesta sua vida besta, faça o favor de acreditar que a da celebridade X é bem parecida, ela também não faz nada de interessante, e que o momento de maior emoção do dia é aquele em que ela busca seus filhinhos no colégio."

Agora vem a encrenca: acho que lógica parecida move também uma certa mentalidade que se leva super a sério e se apega desesperadamente ao rock brasileiro e a outras formas brasucas de manifestação artística.

Não pretendo desmerecer de saída o pop brasileiro. Não tenho vontade nem cultura (principalmente!) para isso. Os poucos heróis munidos de paciência para acompanhar esta coluna sabem que meu conhecimento de rock do Brasil, por exemplo, é quase nenhum.

Mas estou falando do extremo oposto ao de "Escuta Aqui" --de textos com os quais tenho contato por dicas de leitores (geralmente), conversas de amigos (menos) etc.

É gente que gasta espaço equivalente ao de três ou quatro "Escuta Aqui" para discutir um único disco dos Titãs, dos Engenheiros do Hawaii, coisas desse naipe. Ou que discorre sobre qualquer porcaria que esteja na esquina de casa, qualquer tosqueira que passe na TV. Teóricos de quarteirão, para resumir.

Aí voltamos ao adesivo "Eu amo minha esposa", porque o raciocínio é o mesmo: "Passagem aérea é coisa cara no Brasil, viajo pouco e, quando viajo, tenho uma dificuldade do cão para me comunicar, para abordar as pessoas; falar e ler outra língua decentemente é um inferno, então deixa eu fingir, conscientemente ou não, que esse disco dos Titãs é superimportante, que esse programinha de TV aqui vale uma teoria de 20 páginas, deixa eu fingir que minha vida é legal".

BRASAS

A cidade que ferve

Tenho lido aqui e ali, em sites legais, blogs bem informados, revistas da hora, que existe só um lugar no mundo, hoje, onde há idéias em cada esquina e os jovens fervem 24 horas por dia, sete dias por semana. Chama-se Tallinn, capital da Estônia, uma das ex-repúblicas soviéticas. Se esteve lá, me escreva.

Anônimo conhecido 1

"Escuta Aqui" da semana passada foi sobre o músico Jandek (pronuncia-se Djéndék), ermitão do Texas. "Ninguém conhece, muito menos no Brasil", pensei. Até que vieram os e-mails... A leitora Andrea Pasquini, por exemplo, viu até o documentário "Jandek on Corkwood", sobre o esquisitão!

Anônimo conhecido 2

O leitor Dagoberto Donato se disse emocionado ao ler, neste espaço, sobre seu querido Jandek. Outro leitor, Augusto Olivani, revelou ter a discografia completa de Jandek --quase 40 vinis! E Guilherme Barrella contou que nunca ficou tão surpreso quanto ao ver o nome de Jandek no Folhateen!

Correção

Leitora atenta, Júlia Mastrocoola (grande sobrenome!) avisa que, na semana passada, chamei de John Freese o baterista Josh Freese, da banda californiana A Perfect Circle. A Perfect Circle é o grupo paralelo do Maynard James Keenan, mais conhecido pelo seu trabalho na banda Tool.

CD PLAYER

Pause
"Human Mind Trap", Midnight Movies


Trio faladíssimo de L.A., os Midnight Movies têm como atração a cantora Gena Oliviers, de voz muito parecida com a de Nico, do Velvet Underground. O som é xerox do Stereolab.

Pause
"Franz Ferdinand", Franz Ferdinand


Pause também para esta sensação britânica, que tem quatro tipos de música: as que imitam Strokes, as que imitam Rapture, as que imitam mais ou menos Strokes, as que imitam mais ou menos Rapture.

Eject
"America's Sweetheart", Courtney Love


Mesmo que a média das canções desse álbum fosse boa (não é), o Eject seria merecido pelo destroço em que se transformou a voz de Courtney Love. Ao vivo, haja computador para disfarçar...

Álvaro Pereira Júnior, 40, é editor-chefe do "Fantástico" em São Paulo. E-mail: cby2k@uol.com.br
 

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