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27/05/2003 - 00h00

Bastidores revolvem era dos festivais

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PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Folha de S.Paulo

Um dos períodos-chave da música popular brasileira é revolvido por dentro em "A Era dos Festivais - Uma Parábola", de Zuza Homem de Mello, 69, musicólogo, pesquisador e testemunha ocular de boa parte da história.

Zuza fecha foco no período 1960-1972, restringindo a esse intervalo o que chama de "era dos festivais" --para ele, só ali houve eventos de íntima ligação entre participação política e estética.

O livro confere sabor de ineditismo a diversas passagens que cruzam bastidores (o autor foi técnico de som dos principais festivais da TV Record), pesquisa e contexto político.

Mello formula, por exemplo, nova versão sobre o suposto empate, em 66, entre "A Banda", de Chico Buarque, e "Disparada", de Geraldo Vandré e Théo de Barros.

Divulgação
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Livro faz revelações inéditas dos bastidores dos festivais de música

Sugere a figura do compositor Gutemberg Guarabyra como uma espécie de agente subversivo infiltrado na direção artística do Festival Internacional da Canção de 70, da Rede Globo. E descreve um cerco que o regime militar teria promovido sobre um levante de movimento black naquele mesmo festival, perturbando planos do então presidente Emílio Médici de integrar o FIC ao espírito "pra frente, Brasil" de 70.

Tendo guardado no cofre de sua casa as cédulas de votação do festival da Record de 66, Mello revela que "A Banda" seria a real vitoriosa, por sete votos a cinco. Diz que Chico teria exigido o empate, supostamente por acreditar na superioridade da rival "Disparada".

Procurado pela Folha para confirmar ou negar a nova versão, Chico não quis se manifestar.

O livro conta que Guarabyra, além de funcionário da Globo, mantinha estreitos laços com organizações de esquerda. Seu apartamento, situado em frente a uma delegacia, era também esconderijo e entreposto de armas. "Duvido que alguém soubesse disso até hoje, mesmo na Globo", diz Mello. "Nunca falou a ninguém, porque ninguém perguntou."

Guarabyra teria atuado na articulação da desistência conjunta de Chico, Tom Jobim, Paulinho da Viola e outros em participar do festival de 70, tumultuando o evento e denunciando assim as restrições impostas aos artistas pela censura militar.

Diz Guarabyra, que só recentemente revelou sua história ao escritor: "Eu não era um agente duplo, mas não achava justo usar um festival para fazer propaganda de um regime que tinha a oposição de todos os artistas".

Diz que escapou de "receber uma lição" porque fugiu para Brasília e conseguiu que se lesse no Congresso um manifesto dos autores, contando o que a Globo não mostrara. Enquanto isso acontecia por trás, na tela propósitos ufanistas eram derrotados pela soturna "BR-3", defendida pelo black power Toni Tornado.

Mais confusão houve na fase internacional do festival, quando o maestro negro Erlon Chaves ofendeu o regime ao cantar "Eu Também Quero Mocotó" (de Jorge Ben) rodeado de moças brancas seminuas, que dançavam e acariciavam-no sensualmente.

"Toni Tornado tinha uma consciência social de que as pessoas não têm idéia. Não por acaso, ele, Erlon e Wilson Simonal eram negros. Depois do FIC, o regime caiu violentamente sobre eles", afirma.

São algumas das histórias desvendadas em "A Era dos Festivais", que ainda discorre sobre a ruína de Geraldo Vandré após o FIC de 68, histórias policialescas de fãs politizadas e, claro, o auge das disputas entre os "ortodoxos" (Chico, Vandré, Elis) e os tropicalistas (Caetano e Gil) em 67, antes de a parábola começar a cair.

"A Era dos Festivais"
Autor: Zuza Homem de Mello
Editora: Editora 34
Páginas: 528
Quanto: R$ 64,00
Onde comprar: pelo telefone 0800 140090 e na Livraria da Folha

 

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