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20/03/2004
-
08h41
SERGIO SALVIA COELHO
enviado especial da Folha a Curitiba
O Festival de Curitiba abre com uma estréia nacional, prata da casa: "Investigação Sobre o Adeus", do Grupo Delírio de Edson Bueno, marca os 20 anos da companhia curitibana assumindo todos os riscos de uma investigação teatral, o que faz com que sejam fecundas as fragilidades da montagem.
Antes de tudo, assumiu-se o risco de uma "dramaturgia participativa": Bueno foi escrevendo o texto durante os ensaios, a partir de improvisos dos atores. A grande desvantagem do método é a de dificultar o distanciamento necessário do diretor/autor em relação ao texto, que, aqui, muitas vezes se dilui em cenas redundantes e diálogos explícitos demais.
No entanto, o fato de os atores participarem da criação possibilita que suas qualidades e fraquezas interpretativas sejam incorporadas aos personagens. Assim, o tom praticamente declamativo de Tupaceretan Matheus acaba ajudando a caracterizar um professor formal e patético, que mantém a serenidade à custa de antidepressivos; e o grande carisma de Léa Albuquerque, inteligente e delicada nos menores detalhes, torna inesquecível a sua dona-de-casa que abandona sua família às gargalhadas.
Por seu lado, Maíra Weber, intensamente sensual, e a garra de Diego Fortes dão um contraponto de juventude à trama, que vai se construindo à partir do encontro acidental desses quatro personagens em busca de um sentido para a vida. Na rodoviária, à meia-noite, o professor espera o ônibus para ir resgatar o corpo de sua mulher, que morreu de câncer, e topa com seu ex-aluno, que foge da polícia após ter matado os assassinos de sua namorada; juntam-se a eles a balconista alpinista social, que vai encontrar seu futuro noivo, e uma dona de casa que, mesmo tendo sido humilhada demais, não perde a compaixão.
Cada um tem seu "adeus", que ilumina, completa e anula o do outro. Esse desnudar progressivo se sustenta com revelações interessantes e símbolos poéticos: a moça vai para "Margens do Paraíso", o professor, para "Santa Terezinha de Algum Lugar". O montagem se beneficia com trilha sonora e projeções de vinhetas em vídeo precisas e delicadas, que esclarecem o universo de cada um, e sobretudo com quebras momentâneas da lógica narrativa, mais instigantes.
Ainda mergulhada demais no próprio processo, perdendo-se, por muitas vezes, em autocondescendência, "Investigação Sobre o Adeus", ao assumir riscos, não deixa de honrar o passado do grupo. Afinal, o que importa não é tanto se chegar sempre ao Paraíso, e sim se manter na estrada.
Avaliação:
Especial
Confira o que acontece no Festival de Teatro de Curitiba
Crítica: Grupo Delírio se abre aos riscos
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enviado especial da Folha a Curitiba
O Festival de Curitiba abre com uma estréia nacional, prata da casa: "Investigação Sobre o Adeus", do Grupo Delírio de Edson Bueno, marca os 20 anos da companhia curitibana assumindo todos os riscos de uma investigação teatral, o que faz com que sejam fecundas as fragilidades da montagem.
Antes de tudo, assumiu-se o risco de uma "dramaturgia participativa": Bueno foi escrevendo o texto durante os ensaios, a partir de improvisos dos atores. A grande desvantagem do método é a de dificultar o distanciamento necessário do diretor/autor em relação ao texto, que, aqui, muitas vezes se dilui em cenas redundantes e diálogos explícitos demais.
No entanto, o fato de os atores participarem da criação possibilita que suas qualidades e fraquezas interpretativas sejam incorporadas aos personagens. Assim, o tom praticamente declamativo de Tupaceretan Matheus acaba ajudando a caracterizar um professor formal e patético, que mantém a serenidade à custa de antidepressivos; e o grande carisma de Léa Albuquerque, inteligente e delicada nos menores detalhes, torna inesquecível a sua dona-de-casa que abandona sua família às gargalhadas.
Por seu lado, Maíra Weber, intensamente sensual, e a garra de Diego Fortes dão um contraponto de juventude à trama, que vai se construindo à partir do encontro acidental desses quatro personagens em busca de um sentido para a vida. Na rodoviária, à meia-noite, o professor espera o ônibus para ir resgatar o corpo de sua mulher, que morreu de câncer, e topa com seu ex-aluno, que foge da polícia após ter matado os assassinos de sua namorada; juntam-se a eles a balconista alpinista social, que vai encontrar seu futuro noivo, e uma dona de casa que, mesmo tendo sido humilhada demais, não perde a compaixão.
Cada um tem seu "adeus", que ilumina, completa e anula o do outro. Esse desnudar progressivo se sustenta com revelações interessantes e símbolos poéticos: a moça vai para "Margens do Paraíso", o professor, para "Santa Terezinha de Algum Lugar". O montagem se beneficia com trilha sonora e projeções de vinhetas em vídeo precisas e delicadas, que esclarecem o universo de cada um, e sobretudo com quebras momentâneas da lógica narrativa, mais instigantes.
Ainda mergulhada demais no próprio processo, perdendo-se, por muitas vezes, em autocondescendência, "Investigação Sobre o Adeus", ao assumir riscos, não deixa de honrar o passado do grupo. Afinal, o que importa não é tanto se chegar sempre ao Paraíso, e sim se manter na estrada.
Avaliação:
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