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21/03/2004 - 06h11

Exposição mapeia a contracultura dos anos 70, 80 e de hoje

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PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DIEGO ASSIS

da Folha de S.Paulo

Como a contracultura e o desbunde dos anos 70 originaram a geração yuppie dos 80? Cultura subterrânea ainda faz sentido, no meio dos anos 2000?

Perguntas como essas serão suscitadas pela mostra "Underground -?Passado/Presente?", mas não serão respondidas numa visita à mostra de música, teatro e história em quadrinhos que o Sesc Consolação manterá em cartaz de amanhã a 4 de abril.

Coordenado pela historiadora Andréa Nogueira e a comunicadora Cecília Manam Pasteur, o evento reuniu um extenso rol de exemplares da cultura dita subterrânea, underground, alternativa, independente, maldita etc.

"É um movimento que surgiu no pós-guerra, de contestação e produção alternativa, fora do mercado corrente", teoriza Andréa Nogueira, 37. "É uma questão muito presente na mídia de hoje: tudo é incorporado pelo mercado? Achamos que sim."

O roteiro se fixa nas décadas de 70 e 80, mas espirra também na produção atual, sobretudo na mostra de teatro e performance (veja programação completa em www.sescsp.com.br). Mas não parece haver um fio condutor que emende nexos no elenco reunido.

"Não é linear nem didático, mas apresenta as referências", sintetiza Nogueira, que diz ter buscado apoio de teóricos para a formulação da mostra. Cita entre eles Antônio Bivar, Aguilar, Kid Vinil e Clemente (do grupo punk Inocentes), que participarão da programação de debates e palestras.

Talvez por limitação de orçamento (o Sesc não divulga os custos), o evento se foca quase só na cena paulistana. É o que confina, por exemplo, o rico lote cultural difundido nos 70 a partir do Rio de Janeiro --o chamado "desbunde". Representante dessa vertente no evento é o carioca Jorge Mautner, 63, amigo e parceiro de Gilberto Gil, ex-desbundado e hoje ministro da Cultura.

Mautner opina sobre a permanência do conceito: "Hoje a contracultura é a cultura. As minorias são endossadas, os homossexuais são aceitos. Tudo é assimilado, a contracultura passa a ser cultura".

Ele reflete sobre como os desbundados dos 70 teriam cedido vez aos yuppies dos 80. "O desbunde era de esquerda, anarquista, anticonsumista. Ter dinheiro era um pecado para eles, mas a geração yuppie apareceu pró-consumista, pró-capitalista."

Diz que os 80 foram o momento de encontro do underground com o sistema. "Hoje ele é reconhecido como tal, é aceito. Tudo está à venda: moda, tatuagem, sadomasoquismo, fetiche."

Kid Vinil, egresso do punk e intérprete do sucesso "Sou Boy" (83), descreve sob seu ângulo a transição de que fala Mautner:

"A cena punk inicial foi nosso verdadeiro underground, pois tudo era artesanal, feito com mínimos recursos. Depois a mídia acabou criando as bandas mais comerciais que chegaram ao sucesso, em que até eu me incluo".

Udigrudi

No universo dos quadrinhos e fanzines, a mostra também acompanha essa trajetória. Começa em 71, sob influência do "flower power", com a revista "Grilo", que apresentou a olhos brasileiros o conteúdo subversivo da revisa americana "Zap Comix", berço de Robert Crumb, Gilbert Shelton e Spain Rodriguez.

"Crumb serviu de base para o quadrinho alternativo brasileiro. Até então os gibis não tinham essa cara aqui. Existia um código de ética que impedia que se falasse de sexo, drogas e rock'n'roll", afirma Gualberto Costa, 49, responsável pela parte de HQs da mostra.

No vácuo da "Grilo" veio uma onda de revistas universitárias, feitas artesanalmente e distribuídas nas festas da época: "Balão" (FAU), "Quadreca" (ECA), "Bicho" (Faap) etc. "Participar dessas revistas era como fazer parte de um movimento", lembra Costa, um dos fundadores da "Capa".

Assim como na música, os anos 80 trouxeram a profissionalização do "udigrudi" nas HQs. Filhotes do experimentalismo da década anterior, revistas como "Chiclete com Banana" e "Circo" ganharam espaço considerável nas bancas do país e fizeram dos subversivos Rê Bordosa, Bob Cuspe e cia. os novos queridinhos de punks a yuppies da "década perdida".
 

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