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23/03/2004 - 05h33

"Molero" ressuscita teatro em Festival de Curitiba

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SERGIO SALVIA COELHO
Crítico da Folha de S.Paulo

Enquanto, espalhados por Curitiba, dezenas de grupos experimentam novas fórmulas de fazer teatro, denunciam essas mesmas fórmulas como velhas, Aderbal Freire-Filho propõe com maestria, em "O que Diz Molero", o seu "romance-em-cena".

Trata-se, em poucas palavras, de encenar um texto não teatral sem resumi-lo nem transformar em imagem tudo o que não é diálogo. Assim, cada ator descreve e interpreta simultaneamente seu personagem.

A fórmula não se pretende nova. O próprio romance-em-cena enquanto "gênero" foi inventado por Freire-Filho há mais de dez anos, em "A Mulher Carioca aos 22 Anos", que foi um marco no teatro nacional e gerou montagens inesquecíveis como "Bugiaria", de Moacir Chaves.

Estavam em "Bugiaria", aliás, Orã Figueiredo, Gillray Coutinho e Claudio Mendes, atores da já mítica companhia de Aderbal, que hoje ressurge com o nostálgico nome de "(Saudades do) Centro de Demolição e Construção do Espetáculo". Completam esse elenco de tirar o fôlego Augusto Madeira, Raquel Iantas e Chico Dias, o único a não se desdobrar em múltiplos papéis, mas que mantém com mão firme o fio da meada pelo olhar deslumbrado e terno do protagonista.

No caudaloso romance de Diniz Machado, fenômeno editorial português desconhecido no Brasil, o banal e o inverossímil se cruzam a todo instante. Trata-se de um história sobre a importância de contar histórias, já que o Molero do título é o autor de um relatório extenso sobre a vida de um anônimo Rapaz, o que está sendo examinado por dois agentes com nomes de máquinas de escrever. Na primeira parte, uma psicanalítica análise de seus traumas de infância, na segunda, o que fez na mocidade para sublimar isso, através dos filmes vistos, e da escrita da poesia e do teatro. Por fim, o rapaz vai viver suas aventuras, mas só o consegue através das palavras. Vai ao Panamá, por exemplo, só por fascínio por seu acento no "á".

Um prato abarrotado para o romance-em-cena. E a montagem o concretiza de modo deslumbrante. Pode-se fazer o reparo que, no longo espetáculo que exige uma enorme energia dos atores, o ritmo cai por vezes no segundo ato, ou que a associação livre surrealista de Machado não raro se torna exibida. Mas são tantos os achados geniais de marcação e o prazer do elenco que beira a ingratidão se irritar com isso.

O belo e simples cenário de José Manuel Castanheira, tocado pela luz arrepiante de Maneco Quinderé se transforma em prédios de periferia e esquinas exóticas, fornecendo as gavetas de onde os atores tiram os adereços dos personagens, que por sua vez a trilha de Dudu Sandroni joga no colo de Fellini e Chaplin. Morreu o teatro? Em Curitiba, "O que Diz Molero" o fez levantar e dançar.

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