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23/03/2004 - 05h55

Coletiva faz casarão renascer do zero em Curitiba

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SERGIO SALVIA COELHO
Crítico da Folha de S.Paulo

Para a pequena platéia disposta em diagonal, o velho casarão do Novelas Curitibanas se expõe de quina, como preconizava Strindberg para sua "Senhorita Júlia". Nessa velha sala esquecida desde 1999, os pombos do forro não raro tomam a palavra, enquanto lá fora os ônibus passam sob o protesto dos cachorros. É nesse contexto naturalista que jovens diretores de Curitiba, querendo escapar das armadilhas das leis de incentivo, propõem questionar em grupo o que ainda se pode fazer em teatro.

Cada um tem sua própria receita. Rafael Camargo, em "Prêtà-Porque", se limita a esquetes rasos que aspiram apenas ao riso cúmplice da platéia. Fernando Kinas, embora pretendendo um questionamento maior das falcatruas teatrais, como os clichês do drama de amor, o marketing das formas exóticas e o engajamento instantâneo, nesse "Titânio" apenas esboçado depende tanto quanto Camargo da condescendência do público, se tornando falcatrua também.

Mais madura e mais embasada, partindo das experiências do grupo francês Théâtre de la Tentative, "A Melhor Parte do Homem" de Giovana Soar é uma jam session de cinco atores/ diretores questionando o próprio processo teatral. Combinando um tom quase espontâneo com marcas quase arbitrárias, são bons atores atuando para um público de iniciados.

A CiaSenhas de Sueli Araújo retoma a essencialidade de seus primeiros trabalhos para um recorte de pequenas tragédias cotidianas. "Bicho Corre Hoje" expõe a solidão e a sordidez de duas vizinhas que sobrevivem pela esperança de ganhar na loto, num fio narrativo sustentado na técnica corporal de Greice Barros e Patrícia Saravy.

A narrativa volta em "Moby Dick e Ahab na Terra do Sol", sobre o impasse criativo. Gregório General, alter-ego do autor e diretor Paulo Biscaia Filho, é um cineasta que arriscou tudo e foi execrado pela crítica. Refugiado em um velho cinema, recebe a visita da ex-namorada e espera se reabilitar. O falastronismo de Gregório, endossado com melancolia por Leandro Daniel, tem belo contraponto na delicadeza de Mariana Zanette.

A tela do cinema, através da qual o publico vê tanto a peça quanto a projeção invertida dos filmes do artista-personagem, acaba valendo enquanto metáfora de todo o projeto Coletiva de Teatro. Espaço em branco a ser preenchido, como a inatingível baleia branca Moby Dick, que ao mesmo tempo instiga e angustia, impede e incentiva, o teatro, no velho casarão curitibano, renasce de sua própria impossibilidade.

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