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23/03/2004
-
14h56
da France Presse, em Toulouse (França)
"O Prisioneiro da Grade de Ferro", documentário de Paulo Sacramento, foi apresentado hoje na mostra competitiva do Festival de Cinema Latino-americano de Toulouse.
"Quis obter uma relação íntima entre o documentário e as pessoas que seriam mostradas. Este filme é uma tentativa de democratizar a criação da própria imagem dos presos. Durante sete meses, estivemos na prisão, ensinando a eles em oficinas os princípios rudimentares da filmagem", disse Paulo Sacramento após a exibição do filme, que concorre ao prêmio Coup de Coeur de Melhor Documentário.
Filmada no complexo penitenciário do Carandiru, um ano antes de sua desativação, a fita mostra a falta de liberdade, a tristeza, o confinamento, a desesperança e a destruição lenta de centenas de seres humanos que durante duas horas revelam seu cotidiano nas celas e pavilhões da penitenciária. O presídio, o maior da América Latina, foi palco de um massacre em que 111 presos morreram em 2 de outubro de 1992.
Sacramento cedeu câmeras digitais aos presos, que mostram ao espectador sua vida sem meias-palavras, com um desejo profundo de dar testemunho das violações dos direitos humanos que sofrem: falta de atendimento médico, morosidade da Justiça, condições de confinamento "piores que a de animais".
Atrás dos altos muros, cercados de arames e guaritas de sentinelas armados, a vida continua. Os presos-cineastas filmaram o cotidiano na prisão: de partidas de futebol nos pátios ao pavilhão dos homossexuais, sessões de tatuagem, a produção clandestina de álcool, as seitas religiosas, as ocupações, as visitas, a convivência com ratos.
"Filmaram 190 horas. Os presos não puderam participar da montagem deste enorme material filmado, mas eles assistiram outras reportagens na TV e obras de ficção sobre o mundo carcerário. Discutiu-se com eles sobre a imagem que se tem dos presos, sobre a forma como as pessoas do lado de fora pensam o mundo no presídio", disse Sacramento.
"Buscávamos, sobretudo, que os prisioneiros pudessem se identificar com o produto final, que eles fossem donos de suas próprias imagens", acrescentou. Mesmo quando o filme ainda não tinha sido distribuído no Brasil, era assistido em várias prisões e o resultado, segundo Sacramento, era emocionante.
Dentro da opressiva sensação de viver num campo minado que resume a vida na cadeia, os presos sempre mantêm a esperança de recuperar a liberdade e muitos trabalham para conseguir reduções de pena.
Sacramento também mostrou o Carandiru do lado de fora, integrado à paisagem urbana e entrevistou ex-diretores e ex-vigilantes.
"A prisão não reeduca ninguém. A única função que cumpre é a de isolar os delinqüentes, mantê-los separados da sociedade", disse um dos ex-funcionários do presídio.
A criatividade de alguns reclusos parece um raio de sol dentro das celas escuras. Alguns são pintores, poetas, místicos.
"Pedir Justiça, às vezes, se você é pobre e cometeu um erro na sociedade, é como bater na porta do céu. Ninguém te ouve", desabafou um deles.
"O Prisioneiro da Grade de Ferro" é apresentado em Toulouse
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"O Prisioneiro da Grade de Ferro", documentário de Paulo Sacramento, foi apresentado hoje na mostra competitiva do Festival de Cinema Latino-americano de Toulouse.
"Quis obter uma relação íntima entre o documentário e as pessoas que seriam mostradas. Este filme é uma tentativa de democratizar a criação da própria imagem dos presos. Durante sete meses, estivemos na prisão, ensinando a eles em oficinas os princípios rudimentares da filmagem", disse Paulo Sacramento após a exibição do filme, que concorre ao prêmio Coup de Coeur de Melhor Documentário.
Filmada no complexo penitenciário do Carandiru, um ano antes de sua desativação, a fita mostra a falta de liberdade, a tristeza, o confinamento, a desesperança e a destruição lenta de centenas de seres humanos que durante duas horas revelam seu cotidiano nas celas e pavilhões da penitenciária. O presídio, o maior da América Latina, foi palco de um massacre em que 111 presos morreram em 2 de outubro de 1992.
Sacramento cedeu câmeras digitais aos presos, que mostram ao espectador sua vida sem meias-palavras, com um desejo profundo de dar testemunho das violações dos direitos humanos que sofrem: falta de atendimento médico, morosidade da Justiça, condições de confinamento "piores que a de animais".
Atrás dos altos muros, cercados de arames e guaritas de sentinelas armados, a vida continua. Os presos-cineastas filmaram o cotidiano na prisão: de partidas de futebol nos pátios ao pavilhão dos homossexuais, sessões de tatuagem, a produção clandestina de álcool, as seitas religiosas, as ocupações, as visitas, a convivência com ratos.
"Filmaram 190 horas. Os presos não puderam participar da montagem deste enorme material filmado, mas eles assistiram outras reportagens na TV e obras de ficção sobre o mundo carcerário. Discutiu-se com eles sobre a imagem que se tem dos presos, sobre a forma como as pessoas do lado de fora pensam o mundo no presídio", disse Sacramento.
"Buscávamos, sobretudo, que os prisioneiros pudessem se identificar com o produto final, que eles fossem donos de suas próprias imagens", acrescentou. Mesmo quando o filme ainda não tinha sido distribuído no Brasil, era assistido em várias prisões e o resultado, segundo Sacramento, era emocionante.
Dentro da opressiva sensação de viver num campo minado que resume a vida na cadeia, os presos sempre mantêm a esperança de recuperar a liberdade e muitos trabalham para conseguir reduções de pena.
Sacramento também mostrou o Carandiru do lado de fora, integrado à paisagem urbana e entrevistou ex-diretores e ex-vigilantes.
"A prisão não reeduca ninguém. A única função que cumpre é a de isolar os delinqüentes, mantê-los separados da sociedade", disse um dos ex-funcionários do presídio.
A criatividade de alguns reclusos parece um raio de sol dentro das celas escuras. Alguns são pintores, poetas, místicos.
"Pedir Justiça, às vezes, se você é pobre e cometeu um erro na sociedade, é como bater na porta do céu. Ninguém te ouve", desabafou um deles.
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