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24/03/2004 - 16h09

"O Carioca" estréia no Festival de Curitiba rindo das mazelas do Rio

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JANAINA FIDALGO
Enviada especial da Folha Online a Curitiba

Ao mesmo tempo que evoca o orgulho carioca, com as belezas e alegria do Rio de Janeiro, a cia. Os Fodidos Privilegiados faz rir dos problemas que assolam a cidade --da violência à incompetência política-- em "O Carioca", comédia musical que estreou ontem à noite no Guairinha, dentro da programação do 13º Festival de Teatro de Curitiba.

Intercalando textos das peças "Tribofe" e "Capital Federal", de Artur de Azevedo (1855-1908), com cenas de teatro de revista, a esquetes de fatos do cotidiano carioca, o grupo, fundado pelo diretor Antônio Abujamra, narra a história de uma família do interior de Minas Gerais que se muda para o Rio de Janeiro disposta a encontrar Gouveia, o noivo da filha do casal (Quinota).

Ex-caixeiro-viajante, Gouveia é um jogador inveterado, cuja amante (Lola) é uma falsa espanhola. No Rio, a família enfrenta as dificuldades da cidade grande, a então capital federal. Eusébio, o pai, ao tentar livrar o futuro genro da envolvente e interesseira Lola, acaba por se encantar com a "espanhola". Neste meio tempo, o garoto Juquinha, filho de Eusébio, desaparece. Já a criada da família, Benvinda, foge para morar com um português que tenta insistentemente suavizar suas expressões e maneiras.

Entre uma cena e outra, a cia. Os Fodidos Privilegiados, dirigida por João Fonseca, volta ao século 21 com referências às mazelas do Rio de Janeiro --as mesmas, ou quase as mesmas, de qualquer grande cidade brasileira. Nos flashes da atualidade, o grupo mostra, por exemplo, a dimensão implícita em determinados palavrões. Um dos alvos é a governadora do Rio, Rosinha Garotinho ("Votou na Rosinha? Então foda-se"). A recente polêmica envolvendo Luma de Oliveira também serve de inspiração para o grupo ("A mangueira do bombeiro da Luma é grande pra caralho!").

Do teatro de revista vem o uso de placas com frases e acontecimentos atuais --novamente a governadora volta à berlinda ("Rosinha declara: a vaidade feminina é coisa de mulher"). Em outro cartaz o grupo compara a proporção tomada pela polêmica envolvendo o dramaturgo Gerald Thomas, que abaixou as calças no Teatro Municipal do Rio após ser vaiado pela platéia, à ausência de reação diante do fechamento do teatro-sede da cia. Os Fodidos Privilegiados.

A narração futebolística de um arrastão em plena praia, no qual o time dos marginais faz vários "dóoooolares" ao assaltar um turista estrangeiro; o diálogo entre as duplas "cocaína e maconha" com o "álcool e a nicotina" e o trocadilho com o nome de uma garota (Bala) perdida, compõem algumas das esquetes em que o grupo ri e faz rir da própria desgraça.

A descrição contemporânea da vida carioca passa ainda pela TV, com alusão a novelas ("Mulheres Apaixonadas", "Celebridade" e "Pedro, o Escamoso"), telejornais policiais ("Cidade Alerta" e "Brasil Urgente") e "reality-shows" ("Big Brother Brasil").

Um texto sobre o excesso de preocupação com o embelezamento da cidade em detrimento de problemas vitais, como as inundações, apesar de ter sido escrito em 1915 por Lima Barreto, mostra como a evolução é lenta. Mais que isso, como a vida na metrópole tem se degradado a cada dia.

O CARIOCA, com a cia. Os Fodidos Privilegiados
Texto: Artur de Azevedo
Direção: João Fonseca
Com: Alexandre Pinheiro, Daniella Olivert, Filomena Mancuzo, Humberto Câmara Netto, Isley Clare, Nello Marrese, Marcos Corrêa, Paula Sandroni, Roberto Lobo, Rose Abdallah e Ricardo Souzedo
Onde: Guairinha (r. 15 de Novembro, s/nº, centro, 0/xx/41/322-2628)
Quando: hoje (24), às 20h, e amanhã (25), às 20h
Quanto: R$ 20

A repórter Janaina Fidalgo viaja a convite da organização do 13º Festival de Teatro de Curitiba

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