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25/03/2004 - 12h02

Estreante, cia. Clara faz sucesso no Fringe de Curitiba

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JANAINA FIDALGO
enviada especial a Curitiba

Sem apoio das leis de incentivo e sem patrocínio, os atores da cia. Clara, de Belo Horizonte, enfrentaram mais de 1.000 km de ônibus para participar do 13º Festival de Teatro de Curitiba. Os custos da viagem, orçada em cerca de R$ 2.000 (passagens e taxa do festival), foram bancados pelo próprio grupo que, de volta à capital mineira, fará duas apresentações no Palácio das Artes, neste domingo, para equilibrar as contas.

"Viemos de ônibus, pagando a própria passagem. Aqui conseguimos alguns apoios importantes de alimentação e alojamento. Olhamos na internet, ligamos para os restaurantes daqui e conseguimos [refeição] para praticamente todos os dias. Ficamos [hospedados] na sede do grupo Portátil", conta o diretor de "Coisas Invisíveis", Anderson Aníbal, 34.

Estreante em um festival de teatro --e pela primeira vez fora de Belo Horizonte--, a cia. Clara enfrentou outro problema no Fringe. Houve queda de energia em duas sessões. Na primeira vez o espetáculo não pôde ser exibido e na outra a luz voltou em tempo.

"É impressionante!", diz Aníbal, que mesmo diante dos obstáculos que surgem no caminho não se abala. "Eu sou muito feliz, é muito prazeroso estar falando das minhas coisas e ver as pessoas se identificando."

Alunos da Fundação Clóvis Salgado, com exceção de um integrante do grupo que estudou na Universidade Federal de Minas Gerais, Aníbal e a atriz Grace Passô formaram a cia. Clara há três anos. A primeira montagem do grupo, de 2002, foi "Todas as Belezas do Mundo", peça vencedora do prêmio Estímulo às Artes Cênicas Maria Clara Machado, da Fundação Clóvis Salgado.

"Coisas Invisíveis", com texto de Gustavo Naves Franco, ganhou novos atores e estreou em julho de 2003. A banda, que ganhou o nome da primeira peça, deixou de lado os instrumentos mais pesados de "Todas as Belezas" para executar, ao vivo, uma trilha acústica e extremamente tocante.

"Propus ao grupo que nós fizéssemos ["Coisas Invisíveis"] com a mesma estrutura do primeiro espetáculo porque não conseguimos aprovar nenhuma lei de incentivo em Belo Horizonte. Decidimos usar o dinheiro que ganhamos na bilheteria e montamos um espetáculo com o que nós tínhamos: os músicos, os atores e o mesmo esquema da área demarcada de cena", diz o diretor.

Enquanto "Todas as Belezas do Mundo" fala sobre o encontro, por meio de textos mais longos (dois monólogos e um diálogo), no texto de "Coisas Invisíveis" a cia. Clara trabalha a relação afetiva e tudo o que a envolve usando mais diálogos do que monólogos.

Para falar sobre as relações e de tudo aquilo que acontece a nossa volta sem que vejamos --as coisas invisíveis--, o espetáculo recorre à singeleza das falas, das expressões e dos gestos. As partidas, as despedidas, os desencontros e a solidão, sentimentos inerentes à vida, são tratados e compartilhados com a platéia de maneira poética e tocante.

"Sempre falo com os atores para pensarmos que as pessoas estão aqui para ver, mas também para serem olhadas nos olhos. A gente nunca sai de cena depois que acaba o espetáculo. A tendência é chegar no público e cumprimentar como as personagens: 'Oi, meu nome é fulano de tal'. A idéia é um dia não precisar nem de aplauso. As pessoas só se abraçarem e falarem: 'oi que bom que você está aqui, obrigado!'. Perder esse rigor", diz Aníbal.

O trabalho é fruto, em grande parte, da vontade que Aníbal sente de "inaugurar uma forma de falar de sentimento e de afetividade" em uma tentativa de chegar ao universal a partir do íntimo.

"Não é piegas falar disso. [A proposta é] Tentar mostrar como é possível falar disso, como as pessoas podem ser tocadas... Chega de niilismos e ceticismos. Meu pensamento é por aí. Talvez as pessoas confundam com ingenuidade, mas acho que é doçura mesmo... e honestidade. Trabalho muito com o coração, com instinto, com a minha emoção", diz.

Em "Coisas Invisíveis", as vidas de Otto (Gustavo Bones), Luíza (Ana Vida), André (Henrique Meirelles) e Sofia (Grace Passô) se cruzam em diferentes momentos e em situações parecidas, nos encontros, separações, reencontros e perdas.

Planos

Em maio, a cia. Clara deve reestrear "Todas as Belezas do Mundo", exibir "Coisas Invisíveis" e lançar um CD com as trilhas sonora dos dois espetáculos em Belo Horizonte.

"Serão quatro dias. Todos os dias terá uma sessão de 'Todas as Belezas' e 'Coisas Invisíveis', mais o show da banda", conta.

A repórter Janaina Fidalgo viaja a convite da organização do 13º Festival de Teatro de Curitiba

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