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26/03/2004 - 04h41

Curitiba mostra outras possibilidades de Bertolt Brecht

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SERGIO SALVIA COELHO
da Folha de S.Paulo, Enviado especial a Curitiba

Bertolt Brecht (1898-1956) sempre estava disposto a rever seus textos, para os adaptar às novas circunstâncias. Por isso a montagem de Enéas Lour "A Longa Viagem do Comandante Fulano de Tal através do Grande Oceano", longe de desrespeitar o texto de origem "O Vôo sobre o Oceano", está, ao contrário, próximo do espírito do mestre.

Fundindo trechos de outras peças e acrescentando monólogos, o espetáculo traça com magia a primeira travessia por avião do Atlântico por um frágil herói que a concentrada atuação de Fernando Bachstein aproxima de Dom Quixote.

O canto é um grande trunfo de "O Círculo de Giz Caucasiano" o novo espetáculo da Cia Zero Zero. Com uma energia à flor da pele, a montagem sabe tornar clara a fábula da criada que adota o filho abandonado de sua ama, demonstrando sua tese (a terra é de quem cuida dela) sem deixar de ser divertida.

Seu diretor Marcelo Lazzaratto aumenta a aposta com outro Brecht, "Terror e Miséria do Terceiro Reich", de duração e elenco ainda maiores. Para mostrar como o nazismo instala seu terror, Lazzarato mobilizou um verdadeiro exército entre seus alunos da Unicamp, formando a Cia. Les Commediens Tropicales.

Com uma estratégia que consagrou outrora em Curitiba o Teatro da Vertigem, a montagem transformou o Moinho Rebouças em um campo de concentração. Onde não foi possível sugerir uma cozinha, o ator escreve a carvão na parede a descrição do cenário. Porque Lazzaratto se preocupa antes de tudo com o ator.

É ele que deve conquistar o público e, se às vezes trai sua inexperiência por um volume inadequado de voz, está absolutamente consciente de sua responsabilidade. Em um pobre país sem heróis, no qual o "espetáculo" se substitui à mudança e o medo já se infiltra novamente na esperança, Brecht continua nas ruas e nos jornais, e os soldados de Lazzarato fazem seu batismo de fogo.

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