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27/03/2004 - 06h28

Satyros guiam Kaspar Hauser ao "útero"

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VALMIR SANTOS
Enviado especial da Folha de S.Paulo a Curitiba

Companhia até há pouco apontada por alguns como "aberração do teatro brasileiro", com peças rejeitadas menos pelos equívocos de concepção, mais pela barreira moral, Os Satyros alcançam os 15 anos usufruindo a maturidade dessa trajetória de provocações e indiferença nenhuma.

É o que se espera do seu novo projeto, "Kaspar ou a Triste História do Pequeno Rei do Infinito Arrancado de Sua Casca de Noz", que estréia na Mostra Oficial em Curitiba, na Ópera de Arame.

Atualmente, Os Satyros têm sede em Curitiba e São Paulo.

Desde "Sades ou Noites com os Professores Imorais" (1990), da obra do Marquês de Sade, até montagens mais recentes, como o drama "De Profundis", de Oscar Wilde, e a tragédia grega "Antígona", de Sófocles, construiu-se uma identidade experimental como supra-sumo de cerca de 40 peças até aqui.

Integrantes da companhia desde o início, o diretor e dramaturgo Rodolfo García Vázquez e o ator Ivam Cabral querem dar vazão a essa linguagem de risco em "Kaspar", montado em Curitiba dois anos atrás, com seis atores, e remontado agora, com 26.

O enigma de Kaspar Hauser inspira o espetáculo. Trata-se de um mito alemão do século 19, sobre o garoto que, inexplicavelmente, foi mantido numa cela escura, a pão e água, durante cerca de dez anos. Kaspar é alçado à praça de Nuremberg em 1828, como um ser excepcional, a mais perfeita tradução do espírito da época no romantismo: um homem doce, generoso e ao mesmo tempo melancólico.

Seu processo de socialização teria começado antes, na cela, quando um misterioso homem lhe ensinou a escrever e falar. Exilado do mundo, ele teve seus sentidos aguçados. Kaspar (interpretado por Cabral) passa a ser objeto de estudo, "o filho da Europa", então embalada pelos ditames conflitantes do humanismo libertário, da religião e do início das pesquisas psicológicas.

O espetáculo percorre a fase do seu "renascimento", quando é aclamado; passa pela acusação de que é uma farsa; e chega ao seu assassinato. Quatro anos de ascensão e queda para quem contava apenas 16, 17 anos de vida. "Nosso Kaspar está em busca do útero, da volta. A paixão com que ele é recebido, no início, e a forma como é desprezado depois, largado na sarjeta, serve como metáfora para entender o mundo descartável em que vivemos", diz Cabral, 40.

O que é nato ou imposto? Eis uma das perguntas-chave.

A encenação não situa tempo e espaço (a Alemanha do século 19, por exemplo). O cenário de Fabiano Machado traz referências pós-industriais. Os figurinos, também dele, se aproximam da estética cyberpunk. O público é disposto ao longo de um corredor e envolto por projeções em paredes metálicas "opressivas".

No elenco, Os Satyros agregam a experiência de veteranos do meio teatral, como a atriz Irene Stefânia (a Mãe onírica e saudosa), o crítico e dramaturgo Alberto Guzik (Narrador), o professor da USP Antonio Januzzelli (Daumer, o tutor rousseauniano de Kaspar, que acreditava na pureza da alma de seu protegido) e o professor da Unicamp Waterloo Gregório (Meyer, o último tutor de Kaspar).

Na próxima terça, "Kaspar" participa em São Paulo do evento "Underground: ?passado/presente?", no Sesc Consolação.

13º FESTIVAL DE TEATRO DE CURITIBA. Até amanhã. Inf.: tel. 0/xx/ 41/323-4600; www.festivaldeteatro.com.br. Patrocinadores: Itaú, Petrobras, TIM e Prefeitura de Curitiba.

A fotógrafa Lenise Pinheiro, o crítico Sergio Salvia Coelho e o repórter Valmir Santos viajam a convite do festival

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