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29/03/2004 - 04h35

Análise: Fragmentos amorosos vencem medo no discurso curitibano

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SERGIO SALVIA COELHO
Crítico da Folha de S.Paulo

"Provisoriamente não cantaremos o amor." Na montagem de Marcelo Lazzaratto para "Terror e Miséria do Terceiro Reich", de Brecht, um jovem hitlerista, perplexo, recita Carlos Drummond de Andrade. "Morreremos de medo e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas."

Por sua vez, o poema de Brecht "Aos que Virão Depois de Nós" empresta seu título para a releitura da tragédia de Cassandra, da tribo gaúcha Ói Nóis Aqui Traveiz: "Que tempos são estes, em que é quase um delito falar de coisas inocentes, pois implica silenciar tantos horrores!".

Mesmo assim, se falou muito de amor nesses últimos 11 dias. Violência e poder sufocando o amor cotidiano foi o grande tema do 13º Festival de Teatro de Curitiba. Na Mostra de Teatro Contemporâneo, o amor uniu desconhecidos em "Investigação sobre o Adeus", de Edson Bueno; impulsionou "O Que Diz Molero", o "romance-em-cena" de Aderbal Freire-Filho; enfrentou a aridez em "Agreste", da companhia Razões Inversas; foi destruído pela inveja (e não ciúmes) no "Otelo", do Folias d'Arte; foi dissecado em cena pela "Temporada de Gripe", de Felipe Hirsch; e fez rir no "Carioca", dos Fodidos Privilegiados.

O Fringe deixou bastante a desejar. Salvarem-se aqueles que se organizaram em subcuradorias, como a dos alunos de teatro da Unicamp, que em "Terror e Miséria do Terceiro Reich" promoveram em Curitiba uma intervenção urbana à altura dos bons tempos do Teatro da Vertigem, além de um ótimo "Circulo de Giz Caucasiano"; e os diretores/atores locais que através de uma "Coletiva de Teatro" retomaram a abandonada casa do Novelas Curitibanas para exercícios metalinguísticos, sendo "A Melhor Parte do Homem", de Giovana Soar, o mais embasado.

Despojamento foi o segredo dos jovens mineiros da Cia. Clara, que em "Coisas Invisíveis" compartilharam experiências de amor e morte. Estratégia que depende de excelentes atores, o que revelaram ser Marcos Suchara, no trágico e trash "Licurgo", e Tatiana Blum, que provou ser possível falar de sexo sem cair no deboche tolo na peça "As Confidências da Gorda e o Rato".

No extremo oposto, é a produção cheia de recursos que sustenta "A Longa Viagem...", de Enéas Lour, o que infelizmente faltou para que o texto de Guilherme Durães, "Opus 69", pudesse impor sua poesia transtornada.

Inchado por um critério meramente quantitativo, porém, o Fringe se condena a oferecer condições insultantes, desestimulando a vinda de montagens sérias mas sem recursos, que se diluem na superoferta de espetáculos, como foi o caso de "Licurgo", e dando uma visibilidade indevida a exercícios que só têm sentido para colegas de curso, como "Prêtà-Porque", de Rafael Camargo, ou a apelações oportunistas que se espraiam em seguida como um câncer pela cidade.

O caso mais sério é o de "Eu Quero Sexo", de João Luiz Fiani, pouco mais que um arremedo de programa de auditório. A mensagem "pedagógica", repisando o óbvio (camisinha, masturbação, não-preconceito) mal disfarça em uma cena o endosso à pedofilia. Que seja expulso dos palcos do festival este abjeto fazedor de shows caça-níqueis, a que não se pode chamar de teatro.

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