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01/04/2004
-
04h10
SILVANA ARANTES
da Folha de S.Paulo
Recordista de público na França (1,8 milhão de espectadores e renda de 3 milhões de euros), o documentário "Ser e Ter", que estréia amanhã no Brasil, é hoje mais do que um filme.
"Ser e Ter" está no centro de uma polêmica cinematográfica e judicial desencadeada pelos processos que o professor Georges Lopez, 58, retratado no longa dando aulas para 13 alunos de uma escola rural francesa, move na Justiça contra o cineasta Nicolas Philibert, os produtores e distribuidores do filme.
Lopez reclama o pagamento de 250 mil euros (cerca de R$ 890 mil), questiona a lisura do uso de sua imagem (as filmagens teriam ocorrido sem seu pleno acordo) e a autoria do filme. O professor argumenta que a verdadeira obra existente no documentário é o curso que ele ministra aos alunos, o que o tornaria um co-autor de "Ser e Ter" e, portanto, legítimo beneficiário dos lucros do filme.
Por esses elementos, "O Caso 'Ser e Ter'" é tema de debate, hoje, no Festival Internacional de Documentários - É Tudo Verdade.
O cineasta Nicolas Philibert, 53, diz que "é o gênero de cinema documental, na França e no resto do mundo, que estará ameaçado se Lopez ganhar essa causa".
O diretor acha que uma eventual vitória do professor abriria precedente para introduzir na relação documentaristas/documentados a mediação de um pagamento, subtraindo desse formato de cinema um de seus princípios essenciais, o da "liberdade recíproca" --o cineasta decide o que filmar e a pessoa filmada decide se acolhe ou não a presença do diretor, sua câmera e suas perguntas.
"Se pagasse quem vou filmar, essa pessoa se tornaria minha empregada. Isso seria frear sua liberdade de recusar a presença da câmera", diz Philibert.
A Folha de S.Paulo não conseguiu localizar Georges Lopez. Depois do lançamento do filme, ocorrido em 2002 na França, o professor se aposentou e deixou o povoado de Saint-Étienne-sur-Usson, local das filmagens. A decisão da Justiça francesa sobre o processo está prevista para setembro próximo.
O CASO "SER E TER" - Debate entre os especialistas em cinema Anna Glogowsky, Michel Marie e Henri Gervaiseau. Onde: Itaú Cultural (av. Paulista, 149, SP). Quando: hoje, às 14h30. Quanto: grátis. Informações: www.etudoverdade.com.br.
Documentário acirra debate sobre construção da verdade em filmes
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da Folha de S.Paulo
Recordista de público na França (1,8 milhão de espectadores e renda de 3 milhões de euros), o documentário "Ser e Ter", que estréia amanhã no Brasil, é hoje mais do que um filme.
"Ser e Ter" está no centro de uma polêmica cinematográfica e judicial desencadeada pelos processos que o professor Georges Lopez, 58, retratado no longa dando aulas para 13 alunos de uma escola rural francesa, move na Justiça contra o cineasta Nicolas Philibert, os produtores e distribuidores do filme.
Lopez reclama o pagamento de 250 mil euros (cerca de R$ 890 mil), questiona a lisura do uso de sua imagem (as filmagens teriam ocorrido sem seu pleno acordo) e a autoria do filme. O professor argumenta que a verdadeira obra existente no documentário é o curso que ele ministra aos alunos, o que o tornaria um co-autor de "Ser e Ter" e, portanto, legítimo beneficiário dos lucros do filme.
Por esses elementos, "O Caso 'Ser e Ter'" é tema de debate, hoje, no Festival Internacional de Documentários - É Tudo Verdade.
O cineasta Nicolas Philibert, 53, diz que "é o gênero de cinema documental, na França e no resto do mundo, que estará ameaçado se Lopez ganhar essa causa".
O diretor acha que uma eventual vitória do professor abriria precedente para introduzir na relação documentaristas/documentados a mediação de um pagamento, subtraindo desse formato de cinema um de seus princípios essenciais, o da "liberdade recíproca" --o cineasta decide o que filmar e a pessoa filmada decide se acolhe ou não a presença do diretor, sua câmera e suas perguntas.
"Se pagasse quem vou filmar, essa pessoa se tornaria minha empregada. Isso seria frear sua liberdade de recusar a presença da câmera", diz Philibert.
A Folha de S.Paulo não conseguiu localizar Georges Lopez. Depois do lançamento do filme, ocorrido em 2002 na França, o professor se aposentou e deixou o povoado de Saint-Étienne-sur-Usson, local das filmagens. A decisão da Justiça francesa sobre o processo está prevista para setembro próximo.
O CASO "SER E TER" - Debate entre os especialistas em cinema Anna Glogowsky, Michel Marie e Henri Gervaiseau. Onde: Itaú Cultural (av. Paulista, 149, SP). Quando: hoje, às 14h30. Quanto: grátis. Informações: www.etudoverdade.com.br.
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