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19/09/2000 - 03h57

Rap norte-americano traz boas surpresas

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MARCELO VALLETTA, da Folha de S.Paulo

Enquanto o rap brasileiro se prepara para tentar alcançar o "mainstream" de vez, bons discos produzidos nos EUA, país onde o estilo fabrica milionários -sejam eles picaretas ou artistas de valor-, chegam ao Brasil.

O melhor deles é "War & Peace Vol. 2 (The Peace Disc)", continuação de projeto iniciado em 1998 pelo rapper californiano O'Shea Jackson, 30, muito mais conhecido como Ice Cube.

Cube, oriundo de Los Angeles, é um dos rappers mais importantes dos EUA. Nos anos 80, formou com Dr. Dre e Eazy-E o NWA -sigla para Niggaz with Attitude, "pretos com atitude", em tradução livre-, cujo primeiro disco, "Straight Outta Compton", de 1988, é considerado um dos marcos do gangsta rap, vertente mais radical e violenta do estilo.

Multimídia, além de rapper e compositor, Cube é também ator -participou de filmes como "Anaconda", "Três Reis" e "Boyz n" the Hood"-, roteirista, produtor e diretor de cinema.

O segundo volume de "War & Peace" (Guerra e Paz), lançado no final de março deste ano nos EUA, traz música mais dançante que o anterior, mas nem por isso deixa de apresentar letras fortes, que unem ao discurso político do rapper palavrões e demonstrações de homofobia e machismo -pois é, ninguém é perfeito.

Logo em seguida aparece um diálogo grosseiro, porém hilário, em que o cáften Romeu cobra dinheiro da prostituta Julieta, que afirma ter "uma bunda do tamanho do Alasca".

Baixarias à parte, o álbum traz ótimas músicas, como "You Can Do It", com refrão colante -o disco encerra com uma versão instrumental desta canção-, "24 Mo" Hours", na qual Cube cita Sly & the Family Stone, "Waitin" ta Hate", funky, com guitarra sampleada, e "Gotta Be Insanity", que nos leva aos primórdios do rap, lembrando o som de Grandmaster Flash e Kurtis Blow -revisitar o rap do início dos 80 parece ser a tendência atual.

Outro destaque é a vinheta "Dinner with the CEO" (Jantar com o Presidente da Empresa), em que Cube pergunta ao chefe da gravadora sobre seu contrato e a edição de sua obra, e o interlocutor dispara: "Você quer uma Ferrari preta ou vermelha?".

Logo em seguida entra "Record Company Pimpin'", que contém a frase "por favor, escute minha demo" sampleada, enquanto Cube repete "só quero ser livre". E ele consegue, em meio a tantas novas promessas do rap que pululam a todo momento nos EUA.

Busta Rhymes, o esquisitão

Do outro lado do país, surge o mais recente disco do grandalhão nova-iorquino Busta Rhymes, 28 (Trevor Smith para os íntimos).

"Anarchy" é o quarto álbum solo de Rhymes, que começou a carreira com o grupo Leaders of the New School, apadrinhado pelo Public Enemy.

Atualmente, ele se divide entre o trabalho solo e o grupo Flipmode Squad, que agrega artistas de sua gravadora, a Flipmode Entertainment.
Não é apenas a aparência de Rhymes -muito alto e com longos "dreadlocks"- que chama a atenção: seu estilo de cantar o rap, às vezes muito rapidamente, como um locutor de corridas de jóquei-clube, o destaca da batelada de MCs dos EUA. Outra característica do artista é estrelar videoclipes muito bem cuidados, em que aparece quase como uma figura de histórias em quadrinhos.

Em "Anarchy", a originalidade de Rhymes continua a dar as caras. Várias músicas apresentam bases não-convencionais, como em "Bladow!!", "How Much We Grew", "We Comin" Through" e "Make Noise", esta com participação de Lenny Kravitz.

Outras faixas de destaque são "Fire" -o primeiro single do álbum- e a brilhante "Salute da Gods!", com sample de "Betcha by Golly Wow", do grupo soul Stylistics, gravada recentemente por aquele cara que a gente conhece como Prince. Beleza.

Wyclef Jean, o eclético

Nascido no Haiti, mas criado em Nova York, o MC e produtor Wyclef Jean -notório por fazer parte do trio Fugees, que também revelou a fantástica cantora Lauryn Hill- lança seu segundo projeto solo, "The Ecleftic - 2 Sides 2 a Book".

O disco sucede "The Carnival", de 1997, mas, desta vez, os companheiros do Fugees não aparecem -o fim do grupo não foi confirmado até hoje, apesar de seu último disco ter saído em 1996.

Em compensação, entre os convidados especiais de "The Ecleftic" aparecem nomes como o cantor country Kenny Rogers e a cantora de r'n'b Whitney Houston -chamada por Jean de "a diva original". Hmm, sei.

O diferencial de Jean é trazer a influência de ritmos caribenhos para o rap, mas sem soar exótico demais. A faixa "It Doesn't Matter", por exemplo, traz um flerte sutil com o rock steady jamaicano, com instrumentos de sopro.

O reggae também aparece com destaque no álbum. "911", com participação de Mary J. Blige, evoca Bob Marley, é bela e pungente.

O estilo também surge em "Hollyhood to Hollywood" e com mais força ainda em "Diallo", com louvações a Jah e baixo no estilo dub, teclado e uma força do senegalês Youssou N'Dour.

Outra amostra de originalidade é "Runaway", que traz o Earth, Wind & Fire -funciona melhor quando Wyclef se junta de verdade aos artistas que quer homenagear/aproveitar, em vez de simplesmente samplear alguma de suas canções, como fez anteriormente com Queen e Bee Gees.

E é justamente na música que encerra o álbum que Jean comete seu maior deslize: ele faz o favor de desenterrar a tenebrosa "Wish You Were Here", talvez a pior música do Pink Floyd (por isso talvez uma das mais populares).

Pelo menos a versão de Jean, que acelera a original, acrescenta beats e traz vocal reggae, é bem melhor. Mas, ainda assim, bem que ela podia ter ficado de fora.

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