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01/04/2004 - 07h56

N*E*R*D apaga linha entre rock e hip hop

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ALEXANDRE MATIAS
Free-lance para a Folha de S.Paulo

De um ponto de vista, eles voltaram e não estão satisfeitos com o que estão ouvindo. De outro, eles nunca foram embora e se esforçam para acelerar alguns processos que vêem como inevitáveis na evolução de seu campo de ação. Ambas as facetas se completam: se por um lado são uma banda de rock nada ortodoxa, por outro são os produtores mais requisitados do mercado. Imagine se o Radiohead pudesse realmente ser o Aphex Twin --e, ao mesmo tempo, uma dupla de hip hop.

Estes são Chad Hugo e Pharrell Williams, que, ao lado de seu velho amigo de infância Shay, formam o N*E*R*D, grupo que lança seu segundo disco, o virulento "Fly or Die". Sem Shay, os dois também são conhecidos como Neptunes, codinome que usam para reinventar o pop radiofônico neste início de século.

São eles os responsáveis por faixas-chave na atual psicogeografia da música popular do planeta, como "I'm a Slave 4 U" (Britney Spears), "Beautiful" (Snoop Doggy Dogg), "Hot in Here" (Nelly) e "Señorita" (Justin Timberlake). Uma assinatura sonora menosprezada até por eles mesmos, que batizaram sua primeira coletânea como "Clones", escancarando que a saturação em relação ao próprio som começou dentro de casa.

Daí o projeto paralelo N*E*R*D, em que os dois podem explorar novas fronteiras sônicas. "In Search of...", de 2002, é um dos álbuns do século 21 que menos foram levados a sério. Mas, se "In Search of..." pregava um hedonismo sem culpa e a celebração dos hormônios adolescentes num disco de festa que não parece respeitar fronteiras entre hip hop, rock e soul, "Fly or Die" é menos flexível. Composto sobre os pilares "rock" e "hip hop", o disco se dispõe a agilizar a fusão entre os gêneros em termos de mercado.

Parecem profetizar que a colisão entre o universo do Linkin Park e Strokes e o de Jay-Z e Beyoncé é o caminho para a extinção do pop descartável produzido pela indústria fonográfica. Olhando de perto, Eminem e Kurt Cobain são a mesma pessoa. Outkast e White Stripes estão no mesmo barco. Como nós.

Por isso o novo disco do trio soa tão inflexível. É um passo para trás em relação a "In Search of...", mas é quase didático nesse sentido. Esquece o soul ensolarado de "Things Are Getting Better" e a melancolia blue de "Bobby James". Aqui o principal sentimento é o mesmo que move novos roqueiros e manos do hip hop para fora de todas as noites: a apatia.

Ou melhor: "Fly or Die" briga contra a apatia e a forma que ela é manipulada sobre quem não sabe direito o que quer da vida --independente da faixa etária. "Essa é pra molecada! Só pra molecada!", a faixa-título fecha a porta na cara dos pais para uma conversa séria: "Voar ou morrer / Afundar ou nadar/ O que devo fazer?".

Soando como se Stevie Wonder fosse o parceiro de Billy Joe Armstrong no Green Day, quando cantam "eu não vou para a guerra", em "Drill Sargeant", não estão apenas criticando a Doutrina Bush. Nem descrevem apenas uma psicodelia sintética na otimista "Wonderful Place". Palavras não precisam ser tomadas literalmente, utopia e guerra são metáfora para estados de espírito que nos circundam diariamente.

"Fly or Die" soa como se o punk dos anos 90 tivesse acontecido 20 anos antes, com a devida pompa e ostentação que a década de 70 exigia. Mas cada audição descobre uma nova camada de sutileza, mais um ponto em comum entre os tais pilares citados. Rock e hip hop são bem mais parecidos do que suas biografias podem supor. Mais do que isso, diz o N*E*R*D, é a mesma coisa. Vamos logo.

FLY OR DIE. Artista: N*E*R*D. Quanto: R$ 70, em média (importado). Onde encontrar: www.amazon.com.
 

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