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09/04/2004 - 08h44

Disco "perdido" dá vida ao Acabou la Tequila

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GUILHERME WERNECK
da Folha de S.Paulo

A adoração ao inacessível, à raridade, é parte indissociável da cultura pop. No termômetro usado para medir o potencial "cult" de uma banda, nada faz o mercúrio subir tão facilmente quanto um disco perdido.

Recém chegado à enorme lista de bandas que tiveram suas gravações salvas das trevas --que vai de Rolling Stones a Mutantes, do Joy Division à Legião Urbana--, o Acabou la Tequila lança, depois de cinco anos, "O Som da Moda", o seu álbum "póstumo".

O grupo carioca, que surgiu em meados dos anos 90, fez só um disco quando estava em atividade, o homônimo "Acabou la Tequila", lançado em 1994 pelo selo independente Excelente Discos.

Na época, o álbum passou quase despercebido pelo mainstream no Rio de Janeiro, mas alcançou um sucesso relativo em São Paulo. A faixa de trabalho "Biscoito" tocou bem nas rádios roqueiras de São Paulo, e a banda emplacou o clipe da música na MTV.

"Em São Paulo, a gente fazia shows das grandes rádios, ia a programas de TV populares, essa coisa toda", lembra o guitarrista, baixista e produtor Kassin, 30, um dos fundadores do Acabou la Tequila, que lança "O Som da Moda" por seu selo, o Ping Pong.

Excelente Discos era o selo de Brian Butler e Carlos Eduardo Miranda e foi um dos primeiros a ser incorporados pela Abril Music, em 1998. Contratado como executivo da Abril, Butler levou com ele o Acabou la Tequila. Só que, em 1999, com uma reviravolta de poder na gravadora e com a saída de Butler, a banda passou de promessa a maldita, foi dispensada e implodiu antes de estourar.

"Quando estávamos no meio da mixagem do disco, mudou a diretoria da Abril. E as músicas de "O Som da Moda" iam contra o que a gravadora queria. Os executivos não acreditavam no disco. E, pensando no que foi lançado pela Abril depois, a gente era mesmo um peixe fora d'água", lembra Kassin.

"O disco ficou na geladeira e foi uma luta conseguir os direitos dele. Até que, uns dois anos depois, o Dado Villa-Lobos conseguiu comprá-los, mas o selo dele, que iria lançar o disco, também fechou", diz Kassin. "Hoje, Eu e Berna [Ceppas] temos o Ping Pong e achávamos que seria legal lançar finalmente o disco. Então, o Dado nos cedeu os direitos."

Ouvindo "O Som da Moda" hoje parece criminoso o fato de o disco ter ficado tantos anos na "geladeira". Mas se, por um lado, é fácil, hoje, identificar no Acabou la Tequila o seu rico DNA, que infectou o cenário independente do Rio, por outro, não custa lembrar que o meio dos anos 90 foi uma época de faroeste no pop-rock brasileiro, com as grandes bandas dos anos 80 perdendo prestígio e novos nomes, como Raimundos, Skank e Planet Hemp ainda engatinhando.

Contudo, para ter uma dimensão do desperdício que foi o fim prematuro do Acabou la Tequila, basta pensar na trajetória dos membros da banda.

O vocalista Renatinho montou o Canastra e canta no Carne de Segunda. O baterista Nervoso passou pelo Beach Lizards, pelo ícone indie carioca Autoramas e hoje tem carreira solo como cantor. Léo Monteiro, o segundo baterista da banda, toca no Duplex e na multiestrelar Orquestra Imperial. O baixista Donida toca na impagável Matanza. E Kassin, além de tocar com Domenico e Moreno Veloso, é um dos melhores produtores de hoje, tendo no currículo a produção de Los Hermanos e Caetano Veloso.

Com o disco novo na praça, a banda voltou a fazer shows. O mais importante aconteceu no festival Humaitá pra Peixe, em janeiro deste ano. "Antes, tínhamos a banda e um monte de projetos paralelos, agora o Tequila se tornou nosso projeto paralelo", diz Kassin, contando que o grupo ainda compõe junto e já tem "umas cinco músicas novas".

Mesmo assim uma pergunta fica no ar. Cinco anos depois "O Som da Moda" faz sentido? Resposta rápida: faz todo o sentido do mundo. O disco é uma coleção de gemas pop e mostra as raízes das transgressões de gêneros que muitas bandas adotam até hoje. Afora isso, se baseia todo num humor que não envelheceu. Faixas ácidas como "Eu Era Pop" e "O Som da Moda" --que tem como refrão a repetição de "Radio Jaba", numa entonação que lembra Talking Heads-- ainda são atuais. Da mesma forma, as misturas improváveis, como o reggae grávido de xote de "Tu É Choque" ou o rock embebido em dixieland de "Dallas", conseguem soar estranhamente modernas.

Como diz o hermano Marcelo Camelo no texto para a imprensa: "Ouça e celebre os que cultivam a diferença em nome da unidade".

O Som da Moda
Avaliação:
Artista: Acabou la Tequila
Lançamento: Ping Pong
Quanto: R$ 18, em média
 

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