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10/04/2004 - 06h50

Dalton Trevisan na velocidade da sombra

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MARCELINO FREIRE
Especial para a Folha de S.Paulo

-...

-?

-...

Toda vez que sai um livro do Trevisan é a mesma história. O povo fica sem saber o que dizer. Como eu, e agora? O enclausurado produz mais uma obra. Blablablá. Há quem diga que ele repete a fórmula. Que o vôo do Vampiro não quer mais voar.

Será?

Sei não.

De minha parte, pegarei o avião. E baterei em Curitiba. Para ficar de pirraça e de vigília. Ali, na porta de sua casa. Que mais parece castelo e tem pintura cariada, à esquina de uma rua movimentada.
Vim bater palmas.

E mesmo assim, nada. Que palhaçada! Desse jeito não dá. Penso em chamar a polícia armada. Entrarei com uma ordem judicial. Não se esconde assim um patrimônio nacional.

Gritarei um elogio. "Dalton, seu novo livro é animal."

?!!

Putz! Essa foi mal.

Quem sabe lendo um trecho de um dos cem minicontos agora reunidos? Perolazinhas do tipo: "Diante do túmulo do velho bem-querido. Cabeça trêmula, a velhinha: E você? Por que ainda não me enterrou?"
É isso. Vou morrer ali, só para feder. Lembrarei: feito aquele poema do Drummond, "O Mito".

Aproveitarei para dizer que continuo vendo, sim, proximidades entre Curitiba e a cidade de Itabira. O mesmo retrato na parede. A mesma vidinha besta.

Igualzinha àquela lá do miniconto "A Auréola": "Não fumo, não bebo, não jogo, não minto, não trepo. Estou com medo de virar santa."

Ou àquela da mãe e da filhinha sentadas na grama, "duas bolas de sorvete para cada uma".

O que me fascina, mais uma vez, nas narrativas do Trevisan é o tom melancólico que elas têm. Sorrisinhos viúvos, demoninhos do bem. Tudo correndo sem pressa, para a morte que neste e nos outros livros do autor é sempre incerta.

Pra que pressa, pô? Engana-se quem acha que os contos do Dalton são rápidos porque são curtos. Não são flashes e nem relâmpagos. Têm eles a velocidade da sombra. Puxa, que coisa bonita!

Dalton, escute só: você escreve na velocidade da sombra.

Nossa, juro que depois dessa minha descoberta, ele abrirá a janela e me olhará.

...

?

...

Feito uma "Arara Bêbada", sei que rachará o bico, pode apostar.

Marcelino Freire é escritor, autor, entre outros, de "BaléRalé".

ARARA BÊBADA
Autor: Dalton Trevisan
Editora: Record
Quanto: R$ 19,90 (112 págs.)
 

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