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13/04/2004
-
08h43
KATIA CALSAVARA
da Folha de S.Paulo
Os corpos estão por um fio. No ar rarefeito, as últimas sensações, o caminhar esbaforido entre a vida e a morte. Como fica um homem saído de uma situação-limite? Além do ar, falta o chão, a luz, o eixo, o que mais?
O espetáculo "Near Life Experience" foi criado no ano passado pelo coreógrafo francês de origem albanesa Angelin Preljocaj (1957), após período sabático de um ano, em que esteve no monte Kilimanjaro, no nordeste da Tanzânia.
A viagem, de fato, ficou longe de ser apenas física. Rendeu à sua companhia, o Ballet Preljocaj, que se apresenta apenas hoje e amanhã, em São Paulo, um intrincado desafio: aproximar o estágio de quase-morte de outras sensações fronteiriças, como transe, histeria, coma, orgasmo, desmaio.
Embalados pela trilha sonora do grupo francês Air --formado por Nicolas Godin e Jean-Benoit Dunckel, responsáveis pela trilha do filme "As Virgens Suicidas", de Sofia Coppola--, os bailarinos representam estados inquietantes da mente e do corpo em movimentos ora "slow motion" (em câmera lenta), ora desenfreados.
"Vivi isolado e tive a oportunidade de refletir. Meu organismo estava desgastado, a falta de oxigênio me fazia andar como um velho. Cheguei ao topo [do Kilimanjaro, com 5.895 metros de altura] em seis dias e estava perdido. Fiquei com medo de me perder também em meu cérebro", disse Preljocaj na estréia de "Near Life Experience", no ano passado, na França.
Ele acrescenta que, no ano em que esteve afastado dos palcos, visitou também as margens do rio Ganges, na Índia, onde refletiu sobre a violência presente em suas obras. "Questionei se poderia criar uma dança não influenciada pela guerras, uma arte abstrata dos problemas do mundo."
Clima sombrio
A experiência de quase-morte e a conseqüente "volta" à vida real conduz sua mais recente criação. A iluminação estilo luz-no-fim-do-túnel em tons de azul, branco e vermelho, de Patrick Riou, aliada à música tantas vezes sombria, cria o clima necessário para as intensas "relações" do elenco. Em grandes grupos ou em solos, duos e trios, os bailarinos se apóiam uns nos outros quase o tempo todo. Usam fios que os interligam, além de bolas de diversos tamanhos que dificultam as passadas pelo palco.
Além de trazer sua companhia, Preljocaj veio ao Brasil para acompanhar os últimos momentos da remontagem de seu sensualíssimo "Liqueurs de Chair" ("Licores da Carne"), de 1988, para o Balé da Cidade de São Paulo.
Preljocaj estudou teatro nô, dança clássica e contemporânea, mas considera seu aprendizado com o coreógrafo norte-americano Merce Cunningham o início de sua arte. "Antes de conhecê-lo, eu não estava convencido de que poderia criar para a dança, achava que isso era eficiente apenas no showbiz."
À Folha, ele disse ainda jamais ter imaginado poder pagar suas contas com o dinheiro que ganha como coreógrafo e que, sinceramente, não faz a menor idéia do motivo de ser convidado para remontar e criar para companhias de dança do mundo inteiro.
Em 1990, Angelin Preljocaj fez sucesso com a releitura do clássico "Romeu e Julieta" para o Ballet da Ópera de Lyon. Desde 1996, sua companhia é residente do Centro Coreográfico de Aix-en-Provence (França). O artista começou a explorar mais o vídeo em suas criações a partir de 1999 e confirma a sua "revolução" coreográfica com obras como "Helikopter" e "MC 14/22".
NEAR LIFE EXPERIENCE
Com: Companhia Ballet Preljocaj
Onde: Sesc Vila Mariana (r. Pelotas, 141, Vila Mariana, São Paulo, tel. 0/xx/11/5080-3000)
Quando: hoje e amanhã, às 21h
Quanto: de R$ 10 a R$ 20
Leia mais
"Nunca fiz nada sem sexualidade", diz coreógrafo
Preljocaj cria coreografia explorando situações-limite
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da Folha de S.Paulo
Os corpos estão por um fio. No ar rarefeito, as últimas sensações, o caminhar esbaforido entre a vida e a morte. Como fica um homem saído de uma situação-limite? Além do ar, falta o chão, a luz, o eixo, o que mais?
O espetáculo "Near Life Experience" foi criado no ano passado pelo coreógrafo francês de origem albanesa Angelin Preljocaj (1957), após período sabático de um ano, em que esteve no monte Kilimanjaro, no nordeste da Tanzânia.
A viagem, de fato, ficou longe de ser apenas física. Rendeu à sua companhia, o Ballet Preljocaj, que se apresenta apenas hoje e amanhã, em São Paulo, um intrincado desafio: aproximar o estágio de quase-morte de outras sensações fronteiriças, como transe, histeria, coma, orgasmo, desmaio.
Embalados pela trilha sonora do grupo francês Air --formado por Nicolas Godin e Jean-Benoit Dunckel, responsáveis pela trilha do filme "As Virgens Suicidas", de Sofia Coppola--, os bailarinos representam estados inquietantes da mente e do corpo em movimentos ora "slow motion" (em câmera lenta), ora desenfreados.
"Vivi isolado e tive a oportunidade de refletir. Meu organismo estava desgastado, a falta de oxigênio me fazia andar como um velho. Cheguei ao topo [do Kilimanjaro, com 5.895 metros de altura] em seis dias e estava perdido. Fiquei com medo de me perder também em meu cérebro", disse Preljocaj na estréia de "Near Life Experience", no ano passado, na França.
Ele acrescenta que, no ano em que esteve afastado dos palcos, visitou também as margens do rio Ganges, na Índia, onde refletiu sobre a violência presente em suas obras. "Questionei se poderia criar uma dança não influenciada pela guerras, uma arte abstrata dos problemas do mundo."
Clima sombrio
A experiência de quase-morte e a conseqüente "volta" à vida real conduz sua mais recente criação. A iluminação estilo luz-no-fim-do-túnel em tons de azul, branco e vermelho, de Patrick Riou, aliada à música tantas vezes sombria, cria o clima necessário para as intensas "relações" do elenco. Em grandes grupos ou em solos, duos e trios, os bailarinos se apóiam uns nos outros quase o tempo todo. Usam fios que os interligam, além de bolas de diversos tamanhos que dificultam as passadas pelo palco.
Além de trazer sua companhia, Preljocaj veio ao Brasil para acompanhar os últimos momentos da remontagem de seu sensualíssimo "Liqueurs de Chair" ("Licores da Carne"), de 1988, para o Balé da Cidade de São Paulo.
Preljocaj estudou teatro nô, dança clássica e contemporânea, mas considera seu aprendizado com o coreógrafo norte-americano Merce Cunningham o início de sua arte. "Antes de conhecê-lo, eu não estava convencido de que poderia criar para a dança, achava que isso era eficiente apenas no showbiz."
À Folha, ele disse ainda jamais ter imaginado poder pagar suas contas com o dinheiro que ganha como coreógrafo e que, sinceramente, não faz a menor idéia do motivo de ser convidado para remontar e criar para companhias de dança do mundo inteiro.
Em 1990, Angelin Preljocaj fez sucesso com a releitura do clássico "Romeu e Julieta" para o Ballet da Ópera de Lyon. Desde 1996, sua companhia é residente do Centro Coreográfico de Aix-en-Provence (França). O artista começou a explorar mais o vídeo em suas criações a partir de 1999 e confirma a sua "revolução" coreográfica com obras como "Helikopter" e "MC 14/22".
NEAR LIFE EXPERIENCE
Com: Companhia Ballet Preljocaj
Onde: Sesc Vila Mariana (r. Pelotas, 141, Vila Mariana, São Paulo, tel. 0/xx/11/5080-3000)
Quando: hoje e amanhã, às 21h
Quanto: de R$ 10 a R$ 20
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