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14/04/2004 - 07h05

Safra de livros da Bienal é cheia de "som e fúria"

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CASSIANO ELEK MACHADO
da Folha de S.Paulo

Tivesse de se abraçar a uma só frase, a maior parte dos bons lançamentos de ficção da Bienal de São Paulo provavelmente agarraria a velha sentença de "Macbeth": a vida "é uma história contada por um idiota, cheia de som e fúria, sem sentido algum".

A literatura de qualidade que "estréia" no Centro de Exposições Imigrantes traz as marcas da radicalidade, da solidão, dos tempos difíceis. São sinais onipresentes, que aparecem tanto gravados à brasa em "A Princesa de Clèves", da francesa Madame de Lafayette (1634-1693), fundamento do romance moderno psicológico, do qual a Record lança nova tradução, como tatuados no corpo presente de "A Morte Sem Nome" (Planeta), do paulistano Santiago Nazarian, 26.

"Cada palavra dói tanto em mim quanto em você, ou deveria. Furo seus olhos. Abro seu estômago", crava, perfurocortante. Algo do gótico de Nazarian puxa o novelo dos contos mais escuros de Lygia Fagundes Telles. E alguns deles, como "Venha Ver o Pôr-do-Sol", reaparecem na Bienal em traje de gala. A primeira-dama, no bom sentido, da literatura brasileira publica uma antologia, o volume "Meus Contos Preferidos" (Rocco).

A própria escritora sinaliza na introdução a nota de corte das histórias selecionadas: "Giram em torno dos encontros e desencontros, da busca e da solidão --enfim, ainda e sempre o ser humano que é inexplicável".

E assim voltamos à citação shakespeariana, à vida nua de sentidos. E ao grande (re)lançamento da Bienal. Em texto sobre "O Som e a Fúria", o escritor Luiz Ruffato diz que William Faulkner sustentava que o título lhe ocorrera inconscientemente.

Seja como for, a sentença está em todos os poros do livro, que a editora Cosac & Naify lança, vertida ao português pelo melhor tradutor de ficção contemporânea em língua inglesa disponível na praça, Paulo Henriques Britto.

Nesse livro de lirismo furioso, publicado originalmente em 1929, o escritor do Mississippi pinta um retrato sombrio das angústias contemporâneas por meio da decadência de uma família da aristocracia sulina americana. Os Compson vivem na terra fictícia na qual o escritor ambienta a maior parte de sua obra, o condado de Yoknapatawpha.

Foi inspirado nessa região imaginária que o mais faulkneriano dos autores que o continente já deu, Juan Carlos Onetti (1909-94), criou sua Santa María. A terra fictícia do escritor uruguaio aparece pela primeira vez no romance "A Vida Breve" (1950), que também ganha esmerada nova edição, da Planeta. Traduzido pela "experta" Joselly Vianna Baptista, o livro tira Onetti do esquecimento fantástico com que nosso país tem tratado sua ficção.

Onetti volta, Faulkner volta, "As Tentações de Santo Antão", de Flaubert, volta, o Nobel alemão Heinrich Böll (1917-85) e os sons e fúrias de "O Anjo Silencioso" chegam. E isso é só o prefácio.

A Bienal ainda terá novas dos brazucas Amilcar Bettega Barbosa e Michel Laub, a literatura em tinta fresca da revista "Ficções 12" (7 Letras), o canto do cisne de Waly Salomão e o "patinho feio" Glauco Mattoso em dose dupla (Landy e Geração), os "sensations" ingleses Adam Thirlwell ("Política") e Mark Haddon ("O Estranho Caso do Cachorro Morto") e o brilhante J.M. Coetzee e seu novo "Elizabeth Costello".

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