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20/09/2000 - 05h07

Ivaldo Bertazzo leva "Mãe Gentil" para a margem do caos

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VALMIR SANTOS, da Folha de S.Paulo

O que para Ivaldo Bertazzo é o caos, para Zeca Baleiro é a quizumba, o rolo, como se diz no Maranhão. E para quem vai ver o mundaréu de gente, 81 pessoas, a maioria adolescentes de periferia, sacolejando para além da bunda, entre placentas, caixas de papelão, sacos de lixo e afins, o recado que se quer dar é o seguinte: os guetos, quando estruturados, emanam uma ordem perfeita, ainda que assentada sobre a montanha do precário.

"Mãe Gentil", o novo espetáculo do coreógrafo Bertazzo, 51, dá à luz logo mais à noite, na zona leste de São Paulo (hoje e amanhã apenas para convidados). O Sesc Belenzinho abre as portas para o projeto que contempla também o braço "Mestres-Artesãos", oficina com artistas populares da região Nordeste e do norte de Minas Gerais, realizada no mês passado, cujo resultado é vertido para exposição, livro e videodocumentário, todos lançados agora. O projeto segue para o Rio, no Trapiche das Artes, de 19 a 29 de outubro.

Em "Mãe Gentil", a guinada é para a periferia da periferia urbana. É na zona leste de São Paulo ou no Complexo Habitacional da Maré, no Rio, que o coreógrafo encontra subsídios para sua pesquisa. Desloca a atenção dos cidadãos dançantes "mais burgueses" para encontrar a pedra bruta (a ser lapidada) em jovens que não têm consciência dos códigos correntes da dança, mas herdam naturalmente suas próprias "inscrições" em gestos e movimentos.

Durante cerca de três meses de ensaios (apenas um "estalinho") com adolescentes do Centro Alternativo de Artes e Cidadania (Caac), uma ONG com sede no bairro paulistano do Belenzinho, Bertazzo afirma ter obtido "resultados absurdos". Criado há dez anos, o Caac é dirigido por Ivan Antonio, responsável pela elaboração de um método denominado "Teatro da Solidão Solidária".

"Encontrei nessa garotada da zona leste uma mobilidade funcional e útil, que vem do fato de eles estarem sempre em trânsito, quer nos metrôs, nos trens de subúrbio, nos ônibus ou mesmo andando a pé nas ruas", diz.

Esses 49 jovens, todos estudantes, como que se apropriam naturalmente da cidade. A circulação molda um "corpo mais dançarino", segundo o coreógrafo. "Eles provocaram uma revolução na minha cabeça." Bertazzo não teme que o título do espetáculo, "Mãe Gentil", e a co-realização do Conselho da Comunidade Solidária, presidido pela primeira-dama Ruth Cardoso, soem como discurso oficial, sobretudo na proa dos 500 anos.

"Não que eu queira tirar o compromisso do governo e pôr tudo nas costas do cidadão, mas só por meio das parcerias é possível começar a agir efetivamente", diz Bertazzo. "É tão pouco o que se precisa fazer para acionar um movimento dentro de cada pessoa e fazer com que ela tome posse da sua identidade."

Como em "Além da Linha d'Água" (99), o projeto, orçado em R$ 1,5 milhão, é uma realização conjunta do Serviço Social do Comércio (Sesc-SP) e do Conselho da Comunidade Solidária.

Musical: Mãe Gentil
Concepção e direção: Ivaldo Bertazzo
Direção musical: Zeca Baleiro Com: Rosi Campos, Sandra Pêra, Juçara Morais, Tadeu di Pietro, Gilson Nunes e outros
Quando: estréia hoje, às 21h, apenas para convidados (amanhã também); qui. a sáb., às 21h; dom., às 20h. Até 8/10
Onde: Sesc Belenzinho, galpão de exposições (av. Álvaro Ramos, 991, tel. 0/xx/11/6096-8143)
Quanto: R$ 20
Patrocinador: Petrobras

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