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16/04/2004 - 07h27

No cinema, Tom Ripley nem sempre se dá bem

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SÉRGIO DÁVILA
da Folha de S.Paulo

Tom Ripley nasceu bem cedo, numa manhã nas areias de Positano, na italiana Costa Amalfitana, ali mesmo onde, do mar, Ulisses pediu que seus marinheiros o amarrassem ao mastro para impedir que o canto das sereias o fizesse se lançar às águas.

A texana Patricia Highsmith (1921-1995) caminhava por ali cuidando de sua própria vida, no começo dos anos 50. Vinha de escrever um romance, "Pacto Sinistro", que daria origem a uma obra-prima de Alfred Hitchcock.

De repente, cruza por um rapaz andando sozinho, pensativo. Naquele momento, por nada, ela começa a imaginar o que o teria levado até ali e o que ele estaria fazendo por aquela região. Quando voltou ao quarto do hotel, passou a criar possibilidades de vida passada e futura para o estranho, que nunca mais veria.

Surgia assim "O Talentoso Mr. Ripley", pronto em poucos dias, o primeiro de uma série de cinco livros que daria a luz a um dos anti-heróis mais adoráveis da literatura policial, que influenciaria do refinado canibal Hannibal a variados Stephen King.

Tom Ripley, o rapaz americano que (como seu antecessor brasileiro Macunaíma) não tem nenhum caráter, flerta com o assassinato em série, adora o luxo, gosta de música erudita e artes e é bissexual, logo ganharia o cinema.

A primeira adaptação é do livro original e saiu da França, com Alain Delon no papel principal e René Clement na direção. "O Sol por Testemunha" ("Plein Soleil", 1959) teve seu lugar no cinema "sério" --François Truffaut dizia que Clement fazia "cinema de papai"--, mas eliminou toda a tensão homossexual entre Ripley e o amigo rico Dick.

A segunda veio da Alemanha, com Wim Wenders. Seu "O Amigo Americano" ("Der Americanische Freund", 1977) encontra um Ripley mais velho, frio e calculista, que se parece mais com a cara de Dennis Hopper, que o interpreta, do que com a criação de Highsmith, mas o filme é genial.

O mais famoso, não por acaso dos EUA, é "O Talentoso Mr. Ripley" (1999), em que o chato Anthony Minghella procura homenagear o original cinematográfico em detrimento do romance, e o resultado é um Ripley tíbio, inseguro de suas ações, que se encaixa perfeitamente em Matt Damon.

Eis que chega do mundo globalizado (EUA, Reino Unido, Itália), pelas mãos de Liliana Cavani (de "O Porteiro da Noite"), uma nova adaptação de "O Amigo Americano", agora com o nome original do romance, "Ripley's Game" (O Jogo de Ripley), que no Brasil ganha o título de "O Retorno do Talentoso Ripley" e estréia hoje.

Em uma palavra? Médio. Não ajuda o fato de o papel-título ter ficado com John Malkovich. O ator desenvolveu uma persona cinematográfica tão forte (uma espécie de Jack Nicholson entediado) que agora só funciona em autoparódias (como em "Quero Ser John Malkovich").

Aqui, demora a convencer como o Ripley maduro, semiaposentado numa vila italiana (no livro era uma cidadezinha parisiense), que volta à ativa por insistência de um ex-sócio e para se vingar de um pobre coitado, que ele flagra o insultando.

Especialmente constrangedora é a seqüência em que ele e o tal coitado, agora já transformado em assassino de aluguel, esperam seus inimigos na vila. Aí, Ripley vira Stallone...

Avaliação:

O Retorno do Talentoso Ripley (Ripley's Game)
Direção: Liliana Cavani
Produção: EUA/Reino Unido/Itália, 2004
Quando: a partir de hoje nos cines Bristol, Paulista e circuito
 

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