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23/04/2004 - 04h30

"Idéia é hoje mais importante que tecnologia", afirma DJ Cohen

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THIAGO NEY
da Folha de S.Paulo

A música eletrônica depende cada vez menos da tecnologia. Daqui a alguns anos, compor será tão fácil quanto discar um número de telefone. Deve-se levar em conta o que diz Renato Cohen.

Nos últimos dois anos, este paulistano de 29 anos tornou-se o principal produtor de música eletrônica do país. Dos maiores defensores da democratização do processo de criação de música, ele aponta reviravolta na relação máquina-homem da eletrônica.

"Hoje uma música não soará diferente apenas pelo fato de ter sido feita digitalmente. Não depende mais da máquina; depende de quem produz a música."

Ele sabe o que fala. De sua cabeça saiu "Pontapé", hit tecno que estourou --e ainda reverbera-- no planeta em 2002. A faixa abriu as portas do mundo para Cohen. Só no último mês, fez apresentações na Austrália, Japão, Inglaterra e França. No sábado, é atração de peso do Skol Beats. De sua casa, em SP, ele falou à Folha.

Folha - Faz dez anos que você começou a mexer com música, e hoje ser DJ é uma profissão, é o sonho de muitos jovens...

Renato Cohen -
Outro dia me perguntaram: "Como anda o mercado para DJs brasileiros?". Eu não acho que tenhamos um mercado, não sei se você pode tratar isso como uma profissão. Uma profissão na qual você se prepara por dez anos para talvez não dar em nada? Se você considerar que tem 2.000, 3.000 pessoas querendo fazer isso, mas apenas poucos conseguem viver exclusivamente disso... Acho que não dá ainda para chamar de profissão.

Folha - O fascínio pelo DJ continua crescendo. Você sente isso?

Cohen -
Sim, bastante. Acho que a música eletrônica está passando por uma mudança muito grande: nos últimos dez, 15 anos, foi uma música experimental, em que o DJ era um cara que ficava num canto sem se importar se alguém ia vê-lo ou não. Na verdade, as pessoas estavam lá pela música. Hoje o público tem a necessidade de ver o DJ, de saber o que ele está fazendo. Do mesmo jeito que o público queria assistir a uma banda, hoje ele quer assistir à performance dos DJs.

Folha - A música eletrônica ficou velha?

Cohen -
Não é uma coisa tão nova, passou a fase do deslumbre. Não é que não vai ter mais nada novo, que se esgotou. É que hoje uma música não soará diferente apenas pelo fato de ter sido feita digitalmente. Agora não depende mais da máquina, do meio de produção, pois todos têm acesso a esses meios; agora depende de quem está produzindo a música. Quanto mais a tecnologia perde força, quanto mais fácil ela se torna, mais importante são as idéias. Nenhuma máquina vai ter idéia por você.

Folha - Existe a percepção de que ser DJ é um negócio glamouroso...

Cohen -
É que as pessoas vêem o DJ por duas horas, quando ele está tocando... Nem sei quantas horas fiquei dentro de um avião nas últimas três semanas. Quase dei a volta ao mundo.

Folha - Onde você esteve?
Cohen -
Austrália, França, Japão, Inglaterra...

Folha - Você nunca usou ritmos brasileiros em sua música. Por quê?

Cohen -
Não acho certo pegar uma coisa que só tem aqui, na sua cultura, e querer ser diferente por causa disso. Nunca ouvi forró ou frevo, mas seria muito fácil eu ir lá, colocar isso numa música só para ser diferente. Você não vê referência de música country no tecno de Detroit ou de Chicago.

Folha - Que tipo de equipamento você usa?

Cohen -
Comecei faz muito tempo, então tenho tudo analógico.

Folha - Você acha que a música eletrônica substituirá o rock no papel que este exerce para os jovens?

Cohen -
Acho que sim. No rock a música e a atitude se complementam. Na música eletrônica não existe atitude. É a música por si só. Não é como o hip hop ou como o rock, em que a idéia é mais forte do que a música. Não tem letra, não tem mensagem política, não tem ideologia. E talvez por isso seja uma música tão universal. A eletrônica vai ser a música das próximas décadas, como o rock foi nos últimos 40 anos. Para quem está crescendo hoje, fazer música será como discar um número no telefone.

Folha - O crescimento da música eletrônica é muito associado ao aparecimento do ecstasy na Europa. Você concorda?

Cohen -
Não totalmente. É a mesma coisa que afirmar que tudo o que aconteceu no rock nos anos 60 e 70 foi por causa do LSD. Não acho que seja. Houve toda uma estética, um comportamento nos anos 70, como o aparecimento da TV colorida, uma série de coisas que influenciaram e ajudaram o crescimento da música daquela época.

Folha - O tecno é grande no Brasil, mas ainda não chegou à massificação que é o drum'n'bass, por exemplo. Por quê?

Cohen -
O drum'n'bass se encaixou perfeitamente com a música brasileira, com a bossa nova. Tentar fazer isso com tecno não soa bem. Eu comecei a gostar de MPB por causa do d'n'b.

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