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24/04/2004 - 06h27

Obras discutem "excesso" de títulos

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MARCELO PEN
crítico da Folha

"A leitura de livros está crescendo aritmeticamente; a escrita de livros está crescendo exponencialmente." É com essa frase de impacto que o poeta e ensaísta mexicano Gabriel Zaid, 70, inicia o seu "Livros Demais!".

O autor lança por terra a profecia do canadense Marshall McLuhan (1911-80) sobre o fim da era do livro diante das novas tecnologias eletrônicas. Desde a invenção da TV, por exemplo, enquanto a população mundial aumenta num passo de 1,8% ao ano, a produção livresca avança na velocidade de 2,8%.

No período quatrocentista de Gutenberg, lançavam-se cem obras por ano. Em 1952, já com o advento da TV, a soma girava em torno de 250 mil lançamentos. Em 2000, o total foi de 1 milhão de títulos. Temos quase um livro publicado a quase 30 segundos.

Mas qual a pertinência dessas considerações num país como o Brasil? Para o editor Felipe Lindoso, 54, que traduziu o ensaio do mexicano e acaba de lançar "O Brasil Pode Ser um País de Leitores?", a tese de Zaid constitui um paradoxo. Embora Lindoso concorde que se lancem livros demais, esse conjunto ainda representaria "livros de menos". Em entrevista à Folha, o autor diz que "a questão é fazer que cada livro ache seus leitores, promovendo o que Zaid chama de "encontros felizes". Assim, livros demais serão sempre livros de menos nesse mundo de infinitos interesses".

No Brasil, o caso complica. A produção de livros de 2002 foi 320 milhões, o que resulta em menos de dois exemplares per capita. Para Lindoso, "no setor dos livros, se replica a desigualdade de acesso que marca a sociedade brasileira em outras áreas".

Ou seja, aqui não faltam somente os "encontros felizes" de Zaid. Falta o motor para que os próprios encontros possam ocorrer. "Precisamos entender que a imensa maioria da população não tem meios de acesso ao que se produz", explica Lindoso.

Para solucionar esse problema, o autor propõe que a política cultural brasileira, que em termos gerais não se alterou desde a época de D. João 6º (basta trocarmos a figura do rei pela dos "incentivadores"), em vez de favorecer somente os artistas e produtores, também garanta "o acesso da população aos bens culturais".

Uma forma de conseguir esse acesso seria investindo nas bibliotecas públicas, ausentes em 25% das cidades brasileiros. Outra se dá pela educação. "Descobrir o prazer da leitura pode ser ensinado. Se criarmos as condições para isso, na família e na escola, e dermos acesso ao livro, o Brasil pode realmente se tornar um país dos leitores", aposta Lindoso.

A afirmação do brasileiro encontra esteio na obra de Zaid, que alega que a cultura só tem sentido se estiver inserida na prática da vida. "Cultura é conversação", diz o mexicano, "escrever, ler, editar, imprimir, distribuir, catalogar, resenhar podem ser o combustível para essa conversação, modos de mantê-la viva". E conclui: "Se os livros não nos encorajam a viver plenamente, estão mortos".

LIVROS DEMAIS!
Autor:
Gabriel Zaid
Editora: Summus Editorial
Quanto: R$ 20 (112 págs.)

O BRASIL PODE SER UM PAÍS DE LEITORES?
Autor:
Felipe Lindoso
Editora: Summus Editorial
Quanto: R$ 25 (224 págs.)

Especial
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