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02/05/2004 - 06h06

Monitores sem treinamento adequado falam bobagens sobre Picasso

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FABIO CYPRIANO
da Folha de S.Paulo

"Picasso teve uma visão de Nossa Senhora Aparecida e pintou, em 1907, a tela "Três Figuras sob uma Árvore"." A afirmação tresloucada, quem diria, não foi dita por um fanático religioso em uma igreja, mas por um monitor que "explicava" uma das obras da exposição "Picasso na Oca", em cartaz no parque Ibirapuera.

O tal monitor, entretanto, não é um dos 64 educadores preparados pela BrasilConnects, que organiza a mostra, mas um acompanhante de grupos, muitas vezes de escolas, que contratam empresas de turismo para levar alunos à exposição.

"Não podemos impedir esses grupos de entrarem na mostra, mas percebemos que os monitores que os acompanham andam falando muitas bobagens. Por isso resolvemos afixar um aviso na entrada da exposição que explica que apenas as pessoas identificadas com a marca BrasilConnects estão aptas a dar informações sobre a mostra", diz Rachel Mattara, coordenadora do programa educativo da instituição.

O festival de bobagens que se ouve na mostra é, de fato, sem fim: "Picasso pinta o nu feminino para mostrar como a mulher é frágil e, por isso, todos os homens que retratou estão vestidos", ou então, "os quadros que estão aqui não são originais, os verdadeiros são bem maiores". Os próprios educadores da BrasilConnects reúnem as "pérolas" mais impressionantes que ouvem num caderno vermelho.

Desde a Mostra do Redescobrimento, organizada em 2000, um verdadeiro mercado informal se organiza em torno das exposições "blockbuster" da BrasilConnects. São empresas de eventos e turismo que disponibilizam transporte e monitores para grupos.

Na última quarta-feira, a Folha de S.Paulo acompanhou um desses grupos, o da empresa Harpia, com uma escola infantil. Três monitores acompanhavam as crianças, revezando-se na descrição das obras. "Nós recebemos uma apostila, mas a gente improvisa porque a teoria é uma coisa muita chata", diz Bisteka, 18, estudante do primeiro ano de turismo e um dos três monitores.

Entre as improvisações de Bisteka, o rapaz apontava para obras e falava: "Vejam que há uma flecha aqui neste quadro, por isso é uma obra muito abstrata", ou então, "acho que Picasso gostava muito de rock, porque há muitas guitarras em sua obra".

Segundo Samuel Elias Luciano, proprietário da Harpia, Bisteka era apenas um "apoio". "Treinamos seis pessoas, todas elas com visitas à exposição, explicação de obra por obra e depois elaboramos um catálogo. O Bisteka faz parte de um novo grupo que será preparado", diz Luciano, cuja empresa cobraria R$ 16 por aluno de uma escola em Higienópolis.

Já os educadores, é assim que são chamados os monitores preparados pela BrasilConnects, passam por cursos de 30 horas, além de ter acompanhamento permanente durante a exposição. Uma sala de leituras, também aberta gratuitamente ao público, localizada na Oca, contém livros sobre Picasso (1881-1973) e seis terminais de internet para consulta, onde os educadores se atualizam.

"A gente se sente mal quando ouve esses absurdos na exposição. Às vezes, fico dias pensando em como abordar certos temas, e esses outros monitores simplificam tudo", conta Paloma Automare, formada em letras pela Universidade de São Paulo (USP), uma das educadoras. Entre seus colegas, segundo Mattara, "há arquitetos, artistas plásticos e até pessoas com mestrado na Sorbonne [em Paris]".

O setor educativo da BrasilConnects, que não cobra pela monitoria, não tem condições de atender à demanda de acompanhantes. "Atenderemos até sábado [ontem] 100 mil estudantes, dos mais de 500 mil visitantes que tivemos. Temos 1.200 escolas em lista de espera. Como a exposição foi prorrogada por mais 45 dias [até 13 de junho], esperamos conseguir alcançar boa parte das escolas", conta Mattara. Para quem preferir ir sozinho, a entidade oferece monitoria gratuita em sessões diárias, com horários divulgados no site da instituição: www.brasilconnects.org.

PICASSO NA OCA. Mostra com 126 obras do acervo do Museu Picasso, de Paris. Curadoria: Dominique Dupuis-Labbé. Quando: de ter. a sex., das 9h às 20h; sáb. e dom., das 10h às 20h; até 13/ 6. Onde: Oca (pq. Ibirapuera, portão 2, São Paulo, tel. 0/xx/11/3253-7007). Quanto: R$ 10. Patrocinador: Bradesco.

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