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02/05/2004 - 07h07

Grandes nomes da MPB revivem em musicais no Rio de Janeiro

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VALMIR SANTOS
da Folha de S.Paulo, Enviado especial ao Rio

O besteirol segue como gênero cativo nesses palcos, ora com tentativas de reinventar a si, ora com mais do mesmo. Mas o que vem dando samba na temporada carioca é o casamento dos musicais com o cancioneiro da velha guarda e até da contemporaneidade.

Pelo menos seis peças em cartaz recontam a vida invariavelmente dramática de intérpretes daquela cepa dos anos 1940 e 50, como Orlando Silva (1915-78), Geraldo Pereira (1918-55) e Isaurinha Garcia (1923-93), ou de gerações mais recentes, como Clara Nunes (1943-83), Raul Seixas (1945-89) e Gonzaguinha (1945-91).

E há ainda uma exceção, um atalho que só confirma a regra: a bem-sucedida carreira do musical "Ópera do Malandro", letra e música de Chico Buarque, mais um projeto da dupla Charles Möeller e Cláudio Botelho, com sessões lotadas no teatro Carlos Gomes, na praça Tiradentes, coração do teatro de Revista no início do século 20, a matriz de tudo o que se concebe como musical brasileiro.

A Folha reuniu intérpretes de cinco produções para falar sobre a "coincidência" dos musicais que diz muito nas entrelinhas, segundo Jorge Maya, 39, protagonista de "Geraldo Pereira, um Escurinho Brasileiro", no teatro de um shopping. "Antigamente, havia uma comunhão muito grande entre a música e o teatro. Ela foi congelada, talvez diluída pelo advento da televisão. Mas agora essa demanda está de volta", diz.

Como ele, os colegas Tuca Andrada, 39, no papel-título de "Orlando Silva, o Cantor das Multidões", na Sala Baden Powell, e Alexandre Schumacher, 29, do personagem buarqueano Max Overseas, o rei da boemia na Lapa dos anos 40, jogam suas fichas na valorização do gênero.

Mais que isso: vislumbram vôos para além dos musicais biografados, espécie de antecâmara. Ou seja, a expectativa é pelo surgimento de autores esmerados em versos cantados em cena, como o compositor de "Construção" o fez em suas incursões fundamentais pela escrita teatral, vide "Gota d'Água" e "Calabar", que configuram a clássica trilogia dos musicais brasileiros, aquela à qual o diretor mineiro Gabriel Villela chegou a recorrer para contrapor o que via como mera reprodução dos musicais da Broadway.

"Em breve, a gente não vai precisar mais pegar um John Gay, um Brecht", diz Schumacher, citando autores montados com recorrência em vários países. Aliás, o inglês John Gay e a dobradinha alemã Kurt Weill e Bertolt Brecht são criadores que inspiraram "Ópera do Malandro".

"Há uma carência, não só nesse tipo de dramaturgia, mas tudo indica que a gente está caminhando para novos textos", diz Andrada.

Maya ressalva que as criações de Chico ocorreram em plena efervescência cultural e política da década de 70. Daí a esperança do ator para que essa onda descortine de fato um movimento e reafirme a vocação do brasileiro, no palco e na platéia, para com os musicais.

Se depender do ator Rick Garcia, 24, neto de Isaurinha Garcia, diva da época de ouro do rádio no país, tempos melhores virão. Ele está no elenco de "Personalíssima", encabeçado por Rosamaria Murtinho, e se diz um entusiasta. "Os amigos, muitos da minha idade, não sabiam quem era a minha avó", afirma.

"O público está muito heterogêneo, não se trata apenas de saudosismo", diz Maya. É questão também de memória. "O teatro musical é vivo por isso. Como é que a bossa nova, por exemplo, explode para o mundo, e a maioria das pessoas daqui não sabe quem a inspirou", coloca para a roda, mais que porta-voz do mangueirense Geraldo Pereira, de quem João Gilberto era admirador.

Até o mês passado, estava em cartaz "Obrigado, Cartola!", homenagem a outro bamba vivido por Flávio Bauraqui. "Até para criar o novo a gente tem que andar um pouquinho para trás", professa Roberta do Recife, a intérprete de Clara Nunes.
 

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