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03/05/2004 - 08h36

Elenco de "Samwaad - Rua do Encontro" ensina mais do que dança

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ALESSANDRA KORMANN
da Folha de S.Paulo

"Em vez de estudar como a personalidade molda o movimento, queremos investigar como o "movimento" pode construir a identidade do adolescente; como o jovem, por meio do gesto e apoiando-se no gesto, é capaz de se expressar, se desenvolver e se estabelecer na sociedade."

Essa é a proposta do coreógrafo Ivaldo Bertazzo, 54, apresentada no livro "Espaço e Corpo - Guia de Reeducação do Movimento" (ed. Sesc), que pode ser vista materializada no espetáculo "Samwaad - Rua do Encontro", em cartaz no Sesc Belenzinho.

O elenco, formado por 55 jovens de sete ONGs de São Paulo, a maioria com menos de 20 anos, aprendeu mais do que dançou nos oito meses de ensaio. Eles passam por consultas médicas e odontológicas, têm aulas de lingüística, percussão e origami. É um atendimento holístico. "Um olhar de mãe", segundo a assistente social Cléo Regina Miranda, 55.

Bertazzo explica: "O nosso corpo já tem as marcas da personalidade. Os jovens mais introvertidos têm um tipo específico de postura, já os muito extrovertidos abrem as pernas quando ficam em pé, separam os braços do corpo. A gente trabalha a construção do movimento por uma outra via. Quando desenvolvemos a coordenação motora, estamos induzindo a rapidez de raciocínio."

O trabalho procura explorar e realizar as potencialidades de cada perfil. "Com o origami, o jovem mais extrovertido vai trabalhar muito o aspecto psicológico, a concentração. O mais introvertido precisa mais do trabalho de percussão, para desenvolver uma expansão mais agressiva da sonoridade."

Com o trabalho, os jovens aprenderam, nos ensaios de terça a domingo, seis horas por dia, a conviver melhor em grupo e a respeitar as diferenças. "Saber aguardar cinco minutos para expressar seus problemas é um aprendizado para o resto da vida", acredita Bertazzo.

De fato, para quem assiste ao espetáculo, a sintonia transborda. É como se fosse um só corpo --a chamada dança-coral.

Além da diversidade entre eles, os jovens tiveram outros tipos de encontro: no espetáculo, elementos da cultura indiana convivem em harmonia com ritmos brasileiros como samba e o choro.

"O aprendizado é muito intenso. O objetivo não é formar bailarinos, mas, se formar, ótimo. A sensibilidade, o feminino, devem permear todas as profissões."

Para Bertazzo, o que os meninos mais aprenderam foi a escutar, em vários sentidos. E a dosar a própria emoção.

Para Márcio Greyk, 16, do Projeto Samaritano, foi aprender a se expressar melhor com todo o corpo. Para Samara Cristina das Neves Souza, 18, do Centro de Educação Popular da Comunidade Nossa Sra. Aparecida, foi ter mais responsabilidade. E mais respeito com os outros. E superar obstáculos. Para José Mario de Jesus Candido, 17, da Associação Sarambeque de Desenvolvimento Cultural e Social, o mais importante foi desenvolver a auto-estima. "Aprendi que você nunca pode baixar a cabeça."

Todos pretendem levar os ensinamentos artísticos e de vida para as suas comunidades quando o espetáculo acabar.

"Uma hora ele vai acabar. Mas eu não estou preocupada com o depois. Hoje eles são", diz a assistente social. "Eles vão multiplicar tudo isso. As pequenas coisas que aprenderam serão as grandes coisas para a vida deles."

SAMWAAD - RUA DO ENCONTRO Espetáculo com 55 jovens de sete ONGs de São Paulo, dirigido por Ivaldo Bertazzo. Onde: Sesc Belenzinho (av. Álvaro Ramos, 915, São Paulo, tel. 0/xx/11/6602-3700). Quando: de qua. a dom., às 21h; até 27/6. De R$ 7 a R$ 20.
 

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