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10/05/2004 - 04h31

Doris Monteiro, 69, canta no subterrâneo

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PEDRO ALEXANDRE SANCHES
do enviado especial da Folha de S.Paulo ao Rio

Nesta quinta-feira, no Espaço Cultural Sérgio Porto (RJ), ela participará de um show em homenagem aos 80 anos de Billy Blanco, artífice de samba-canção, canção de fossa e sambas satíricos que ela difundia nos anos 50 e 60.

Na terça passada, a Folha a acompanhou num show que fazia, às 12h30, no Tribunal de Contas do Estado do Rio, na av. Rio Branco. Da platéia acompanhavam-na fãs velha-guarda de samba-canção e bossa nova, do centro carioca e/ou de Doris Monteiro.

Pouco se sabe hoje sobre Doris no Brasil oficial. Há 23 anos não grava disco só seu. Conta ao público que fará 70 anos em outubro e quer morrer cantando --ou não morrer, se pudesse escolher.

Agente e receptora de nossa conhecida falta de memória, deixa de lembrar a seus espectadores que foi introdutora entre cantoras daqui, em 1951, do canto moderno --suave, manso, discreto.

Não havia João Gilberto, mas já cantavam com discrição três ídolos seus: Dick Farney, Lúcio Alves, Tito Madi. Nora Ney se lançaria no final de
51, Dolores Duran só daria o ar de sua graça em 52.

Sem o antecedente de Doris, Nara Leão não teria sido musa sussurrante dos 60, talvez nem mesmo cantora. Relacionou-se com uma Elis Regina ainda desconhecida --a pimentinha abria seus shows em Porto Alegre (RS). "Eu era a estrela maior, ela fazia escada. Para mim, Elis é a maior cantora brasileira de todos os tempos. Não me dava com ela, mas isso não tem nada a ver."

Reinventou-se nos 60, abandonando a fossa e aderindo a um modo mais suingado de cantar bossa nova --sambalanço. Na TV, foi ao "Fino da Bossa" de Elis. "O público me aplaudiu muito, ela cochichou: "Não precisa ficar muito animadinha, que temos uma claque só para aplaudir todo mundo". Respondi no ato: "Ah, meu amor, agora entendo por que você é tão aplaudida"."

Nova revolução viveria no pós-tropicalismo. A partir de "Mudando de Conversa" (69), remodelou o modo suingado de sambar (leia ao lado). Ficou próxima de Wilson Simonal e Erasmo Carlos --com quem tocava Ricardo Jr., seu marido e arranjador.

Em 71, gravou o clássico em samba-soul "É Isso Aí" ("preparei uma roda de samba só pra ela/ mas se ela não sambar/ isso é problema dela"), do antitropicalista Sidney Miller. Sabe que essa onda vem sendo revalorizada pelo público jovem: "Charles Gavin me disse que é impressionante como essas músicas são atuais". Sabe que Paula Lima releu "É Isso Aí": "Uma jovem regravar minha música me dá um tremendo orgulho, sou louca para conhecê-la".

Observa que Elis só se dava com homens, lembra Maria Bethânia. "É mascarada, nem olha na minha cara. Nós nos encontramos na esteira do aeroporto, fingiu que nem me conhecia", diz, admitindo que tampouco dirigiu palavra à outra. Rita Lee? "Gosto demais. É roqueira, mas seu rock é sutil, não é agressivo. "Pagu" é espetacular, gostaria de gravá-la."

Roberto Carlos? "Uma vez nos encontramos na av. Rio Branco, tarde da noite. Brincou: "Fazendo o que na rua esta hora, Doris?". "O mesmo que você", respondi, e ele: "Ah, mas sou homem, eu posso". Ele chega, abre os braços."

Brinca quando percebe que alguém não a reconhece --"Não está mais falando com Doris Monteiro por quê?". Mas também passa por maus lençóis: "Atravesso a rua para não cumprimentar. Esqueci o nome da pessoa, como vou passar e não falar nada?".

Goza instantes de celebridade em Copacabana, onde mora há 69 anos. "Me param na rua, "olha ali a Doris Monteiro". Adoro isso, sabe?". Ri quando a chamam de Doris Day: "Não, sou Doris Night". Absolve quem a confunde com Maria Creuza --ela própria demora para distinguir Alceu Valença de Moraes Moreira, afinal.
 

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