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13/05/2004 - 06h28

"Da Cor do Pecado" ainda peca com negros, diz cineasta Joel Araújo

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LAURA MATTOS
da Folha de S.Paulo

A trama "Da Cor do Pecado" é um marco pela escalação da primeira protagonista negra em novelas da TV Globo. Peca, no entanto, por ter poucos negros no elenco e pelo fato de, na maior parte do tempo, inserir a personagem Preta (Taís Araújo) em um núcleo majoritariamente branco.

Essa é a opinião do cineasta Joel Zito Araújo, autor do livro e documentário "A Negação do Brasil - O Negro na Telenovela Brasileira" (2000), resultado de um levantamento da participação de atores negros em 174 novelas exibidas entre 64 e 97 pela Globo e Tupi.

Araújo tornou-se um dos principais debatedores do país sobre a presença do negro na televisão. Foi convidado para um debate hoje, Dia da Abolição, no Centro Cultural Banco do Brasil de São Paulo, com o apresentador Netinho de Paula, o cineasta Jefferson De e o ator Maurício Gonçalves.

Araújo só não poderá comparecer porque prepara para o próximo mês o lançamento de seu longa-metragem de ficção "Filhas do Vento" (com Taís Araújo, Ruth de Souza, Milton Gonçalves, entre outros) no Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA).

Desde 1997, quando encerrou sua pesquisa de televisão, o cineasta continua monitorando as telenovelas. E afirma que a situação melhorou, mais ainda está longe de ser ideal. "Em termos numéricos, quase nada mudou. A participação de negros fica abaixo dos 10% do elenco, mesmo em "Da Cor do Pecado". Essa novela teve uma iniciativa saudável em escalar uma protagonista negra. Houve um impacto positivo na auto-estima dos negros, que vejo até pela minha família", diz.

Outro problema de "Da Cor do Pecado", segundo ele, é Preta praticamente não ter convívio com a comunidade negra, principalmente após a morte da mãe (interpretada por Solange Couto).

"Isso é comum nas novelas. É o caso também do Bruno, de "Celebridade". É um negro num papel de famoso, fotógrafo badalado. Mas não possui família, não tem história", diz. Na trama, Bruno, interpretado por Sérgio Menezes, mora sozinho num flat luxuoso.

Sobre as críticas, Luís Erlanger, diretor da Central Globo de Comunicação, afirmou: "É muito comum se culpar a janela pela paisagem. O destaque de negros na nossa sociedade ainda não é o desejado --basta ver, por exemplo, o número de jornalistas negros na Redação da Folha de S.Paulo. As novelas retratam essa realidade que, felizmente, está mudando".

Araújo diz que a TV Globo demonstra estar preocupada com esse tema, o que não vê em outras emissoras. Cita explicitamente a Record, controlada pela Igreja Universal. "Eles desvirtuaram completamente o projeto original da série "Turma do Gueto". Ela abordaria a realidade dos negros, mas passou a estereotipá-los, a explorar a violência. Além disso, há os programas da Igreja Universal que são preconceituosos com o candomblé e a umbanda."

O presidente da Record, Dennis Munhoz, respondeu, por meio de sua assessoria, que a série "aborda o problema da violência na periferia de São Paulo, independentemente da raça dos moradores".

Segundo ele, a emissora "abre espaço em sua programação para a comunidade negra, tendo os programas "Domingo da Gente", apresentado por Netinho de Paula, "Domingo Espetacular", com Nill Marcondes, e, na Record Internacional, a apresentadora Joyce Ribeiro". Sobre os programas da Universal, disse: "Eles são exibidos em horários locados à igreja, sendo de nosso conhecimento que a linha editorial não apresenta nenhum tipo de preconceito".

Na avaliação do senador Paulo Paim, a situação está melhor. Ele é autor do Estatuto da Igualdade Racial, em votação no Congresso, que prevê cota obrigatória de 20% de negros na programação.

"Percebi um avanço, mas isso não significa que as cotas não sejam mais necessárias. Eu adoraria que não fosse preciso adotar essa política, mas ainda há muito em que avançar", afirma o senador.

A Globo, contrária às cotas, está abaixo dos 20% previstos no estatuto, pelas contas de Araújo. "Nossas escalações são por critérios artísticos, porque achamos que o sistema de cotas cria injustiças e não resolve o problema. E se essa cota for usada em papéis que reforçam o preconceito contra negros?", questiona Erlanger.

PARTICIPAÇÃO DOS NEGROS NA TV. Debate com Netinho, Jefferson De e Maurício Gonçalves. Onde: CCBB (r. Álvares Penteado, 112, São Paulo). Quando: hoje, às 19h. Quanto: grátis.
 

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