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13/05/2004 - 13h39

Em Cannes, cineasta fala sobre o documentário "Salvador Allende"

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da France Press, em Cannes

Com "Salvador Allende", o cineasta chileno Patricio Guzman presta uma homenagem ao presidente de seu país --deposto por um golpe militar em 1973-- e reforça "a importância da memória para construir o futuro".

Com imagens de arquivo e entrevistas de testemunhas de todos os setores, o documentário revê a história de Allende, sua carreira política, sua eleição, as esperanças e a efervescência do Chile na época, as tensões dos dias que antecederam o golpe de Estado e sua morte.

"Sempre admirei Allende e, com os anos, essa admiração só faz aumentar", disse Patricio Guzmán, que há três anos exibiu em Cannes, na Semana da Crítica, outro documentário, "O Caso Pinochet".

A falar sobre os motivos que o levaram a fazer um outro filme sobre esse período da história chilena --retratada também em "A Batalha do Chile"-- ele disse: "Quando filmei 'A Batalha do Chile' eu era muito jovem. Todos da equipe éramos muito jovens. Não tínhamos credenciais para entrar no Palácio de la Moneda. Sempre filmamos Allende do lado de fora. Agora, eu quis fazer um filme sobre Allende, centrado em Allende, já que em 'A Batalha' ele não aparece tanto quanto deveria. É uma dívida que eu tinha com ele."

Ao ser lembrado de que vários dos filmes latinos apresentados no festival abordam a história política dos países da região e seus personagens, o cineasta comentou: "Não é casual que haja filmes que olhem para nosso passado, porque agora estamos tomando consciência da importância da memória para construir o futuro. A memória não existia na América Latina, como tampouco [existiam] os direitos humanos e a democracia. Eu acredito que agora a memória chegou para ficar, como um tema definitivo", disse.

"Na América Latina nos faz falta mais profundidade na análise histórica. Uma forma de chegar a isso é produzir filmes, livros, peças de teatro, etc", reiterou Guzmán.

"O passar do tempo fez com que eu valorizasse mais o papel de Allende. Talvez porque no momento dos fatos muitas coisas acontecessem para que eu pudesse valorizar sua sabedoria, sua forma de construir uma maneira diferente de chegar ao socialismo, sua capacidade negociadora, seu desejo de convergência, seu humor. Tudo isso valorizo mais agora do que naquela época", explicou o cineasta.

Por outro lado, em relação ao general Augusto Pinochet, ele disse que sua avaliação "não mudou desde então". "Sempre me pareceu uma pessoa nefasta. Acredito que é o pior personagem que o Chile produziu em toda a sua história", avaliou.

Ao falar do Chile atual, o cineasta reivindica o direito à utopia, à esperança, à inclinação ao impossível. "Hoje, o Chile é um país de acordos internacionais e superestruturais nos quais a sociedade civil não é levada em consideração. É um país de arranha-céus e trabalhadores que ninguém ouve, que não tem qualquer participação no governo", continuou.

O país tem "um governo honesto e democraticamente eleito", mas se trata de uma "democracia limitadíssima. Não há vontade política de mudar a Constituição deixada pela ditadura", acrescentou.

"(Quando) me dizem que não é possível, eu respondo que quase todas as coisas, politicamente falando, são impossíveis de fazer. Uma das lições de Allende foi que ele fez o impossível", concluiu.
 

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