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21/05/2004 - 05h00

Diretora Asia Argento descreve tristeza da infância

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PEDRO BUTCHER
Enviado especial a Cannes

Cannes 2004 chega à reta final dominado por dois temas: a política (exemplo claro em "Fahrenheit 9/11", de Michael Moore) e o abuso e abandono infantil, presente em um punhado de filmes (de "La Mala Educación", de Almodóvar, a "Nobody Knows", de Hirokazu Kore-eda). Mas a abordagem mais radical veio dos olhos de Asia Argento, diretora e atriz de "The Heart Is Deceitful above All Things" (O Coração É Enganador acima de Tudo), exibido na Quinzena dos Realizadores.

Aos 28 anos, Asia Argento tem mais de 30 longas como atriz, boa parte deles dirigidos por seu pai, o mestre do horror italiano Dario Argento. Mas está abandonando o título de diva do cinema gótico para abraçar o de cineasta "underground". Em 2000, estreou como diretora com "Scarlet Diva", sobre uma estrela em viagem autodestrutiva, história de caráter visivelmente autobiográfico. Agora, tomou a narrativa autobiográfica de um outro autor para falar, indiretamente, de sua infância.

Ela conta que encontrou no livro homônimo de J.T. Leroy um espelho de seus tempos de criança. "Apesar das diferenças, que são imensas, reconheci minha infância ali. O livro me fez pensar em cores, luzes e cheiros de um mundo que foi muito parecido com o meu", diz Asia, que faz a mãe destrutiva do pequeno Jeremiah, alter ego de Leroy.

De mãe ausente, ela assume um papel ainda mais perverso, seguidamente recuperando e abandonando a criança, vítima de toda a sorte de abusos dos muitos homens da vida dela. O garoto é interpretado por três atores em desempenho excepcional: Jimmy Bennet, que faz Jeremiah quando bem pequeno, e os gêmeos Dylan e Cole Sprouse, revezando-se nas cenas em que está mais crescido.

Asia assegura que sua infância não foi tão traumática, mas reconhece que ser criança, para ela, foi algo triste. Aos cinco anos, viu pela primeira vez um filme de horror do pai. Não sabe qual, mas as lembranças não são as melhores. "Não sou meu analista, por isso não posso dizer o que isso representou. Mas não vou deixar minha filha ver filmes de terror nessa idade. Não é moralismo, só acho que crianças pequenas não devem passar por essa experiência."

Asia agora é mãe de uma menina de três anos e diz que está em fase de transformação: "Esse filme me ensinou muito. Aprendi que a vida não precisa ser uma guerra o tempo todo. Também estou aprendendo com minha filha, lutando para que ela seja feliz".

Apesar de não ser um filme de horror convencional, a visão da infância pintada em "The Heart" é apavorante. "O mundo da criança é de injustiça. Não me refiro só às que sofreram grandes abusos. Quer injustiça maior do que querer um sorvete e não poder ter?"

Agora, viaja aos EUA, onde vai atuar em "Last Days", novo filme de Gus van Sant, sobre a cena musical grunge. "O filme se passa nos dias que antecederam o suicídio de Kurt Cobain. Sou dessa geração, adorava o Nirvana. Acho que será outra experiência pessoal."
 

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