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21/05/2004 - 03h56

Para bailarinos, Robert Altman capta verdades

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da Folha de S.Paulo

A convite da Folha, alguns diretores, assistentes e bailarinos das principais companhias de dança de São Paulo (Balé da Cidade, Stagium e Cisne Negro) assistiram a "De Corpo e Alma", de Robert Altman. A idéia era saber se poderiam se identificar com as cenas do filme. Seria esse um bom retrato do cotidiano dos bailarinos?

Quase sem história, o filme mostra algumas cenas vivenciadas por bailarinos, como as disputas, a solidão que surge após um momento de glória no palco, as flores levadas aos camarins, as dores no corpo, a relação com o diretor, aqui interpretado por Malcolm McDowell (o rosto marcante de "Laranja Mecânica", de Stanley Kubrick).

Para Hulda Bittencourt, diretora do Cisne Negro, o filme poderia ter o rótulo de documentário. "Trata-se do dia-a-dia do Joffrey Ballet. Não se pode simplesmente generalizar, a realidade deles é diferente da nossa. Mas, com certeza, é importante ser visto por quem não é do ramo porque traz momentos bastante reais", comenta Bittencourt.

Ana Teixeira, bailarina e assistente de direção do Balé da Cidade, acha que a linguagem do filme será mais bem compreendida por quem já passou ou passa por isso. "O filme mostra uma realidade um pouco arcaica em comparação com a atual, como a relação com os diretores. Na minha opinião, essa hierarquia mudou muito", comenta.

"Algo que o filme consegue mostrar muito bem é como os bailarinos podem ser descartáveis, porque acontece muito isso. Nós somos uma espécie de vedetes, dos outros e de nós mesmos. Na hora de ir para um baile, vestimos fantasias. E a vida real é como o palco, cheia de fantasias", acrescenta Teixeira.

Ricardo Ordoñez, professor do Ballet Stagium, diz que é muito grande o vocabulário de situações dentro de uma companhia de dança, mas se viu identificado em muitos momentos. "São tantas as situações que fica impossível retratar todas. Mas, em geral, muito do que aparece acontece em grandes grupos", disse.

Muitos riram da cena em que o elenco faz uma peça de fim de ano e imitam o diretor e cenas de balés que dançam. "Aquilo tudo é bastante real, acontece de verdade", fala Fabiana Fornes, bailarina do Cisne Negro.

O filme alterna momentos de extrema beleza, como quando ocorre uma apresentação ao ar livre, com outras bastante bizarras, como o show-Broadway do final. "Tive vontade de entrar debaixo da cadeira", comenta Bittencourt.

Em apresentações desse tipo, que ocorrem em praças, parques, pátios de instituições, os bailarinos são desafiados a dançar em pisos duros, debaixo de chuva, em qualquer lugar. "Já aconteceu algo parecido conosco", disse Fornes. Ela completa dizendo que achou o longa histórico. "É um filme que faz pensar."

Ordoñez fala que uma das cenas de que mais gostou foi a do trapézio. "Achei muito bem filmada, bem coreografada, é realmente belíssima. Sem contar os pés da bailarina, que são maravilhosos", disse.

Outros profissionais presentes não gostaram das cenas em que o elenco aparece vestido de monstro. E ficaram tristes quando viram um jantar sendo servido em cima do palco. "Ah, isso não dá", ouviu-se na platéia durante a exibição do filme.

E o que você gostaria de perguntar a Altman? "Será que essa é visão dele mesmo? Será que se não tivesse sido encabeçado por alguém o filme teria saído como saiu? Se ele entrasse sozinho em uma companhia de dança, como teria filmado, era isso o que eu gostaria de perguntar."

Para alguns dos presentes, uma das falhas é retratar pouco a relação que os bailarinos têm com seu próprio corpo, além das angústias que passam devido às limitações físicas.

No final do bate-papo, ficaram curiosos para saber como os leigos em dança vão interpretar o filme. "Acho que será muito interessante ver a reação de pessoas que não convivem com o dia-a-dia do balé", disse Hulda Bittencourt.
 

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