Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
22/05/2004 - 08h16

Crítica: "Kaspar" oferece modelo para questionamento do mundo

Publicidade

SERGIO SALVIA COELHO
Crítico da Folha de S.Paulo

Na praça central de Nuremberg, em um dia de 1828, surge Kaspar Hauser, como uma milagrosa prova de que todo homem nasce puro e é corrompido pela sociedade. Preso em um quarto escuro do nascimento até quase a vida adulta, por razões misteriosas, o processo de adaptação do "filho da Europa" ao mundo moderno passou à posteridade como uma pungente denúncia contra as suas arbitrariedades e hipocrisias.

Tema de um dos mais belos filmes de Werner Herzog e de um estudo de Izidoro Blikstein, Kaspar torna-se agora o ponto de partida de mais uma provocação do grupo Os Satyros. Junto a um elenco de mais de 20 atores, o diretor Rodolfo Garcia Vázquez criou um roteiro ágil e enxuto, que não despreza o erudito.

O que pode desorientar o público que vier em busca de um solene tratado é que a montagem opta por uma linguagem despudoradamente adolescente, aberta a todos os anacronismos, quase como uma história em quadrinhos. O figurino e cenário de Fabiano Machado remetem ao universo de Ranxerox, de Valentina, com o vigor reforçado pela trilha lírica de Hermelino Neder e Luis Pinheiro.

Assim, os atores se arriscam a atuar no limite da caricatura, com resultados desiguais. Ivam Cabral mantém a empatia com a platéia, graças ao seu grande senso de humor, embora seu tom estereotipado possa ser contraproducente. A montagem conta com Antonio Januzzelli, mestre que formou grande parte dos jovens diretores da cidade, e que agora oferece ao público sua paixão vigorosa. Da mesma forma, Alberto Guzik empresta ao Narrador a credibilidade de quem relata há décadas a aventura do teatro paulista, com seu belo timbre de voz.

Na outra ponta, porém, se um casal de crianças traz um refrescante contraponto, o elenco jovem trai a inexperiência com a difícil proposta expressionista de caricaturas vivas. A iluminação também poderia ganhar em essencialidade. No entanto, a despretensão e o entusiasmo da montagem oferecem uma imperdível oportunidade de repensar o mundo a partir da pça. Roosevelt.

Kaspar ou a Triste História do Pequeno Rei do Infinito Arrancado de sua Casca de Noz
Avaliação:
Texto e direção: Rodolfo García Vázquez
Com: Ivam Cabral, Alberto Guzik
Onde: Espaço dos Satyros (pça. Franklin Roosevelt, 214, tel. 3258-6345)
Quando: qui. a sáb., às 21h; dom., às 20h
Quanto: de R$ 20 a R$ 25
 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página