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23/09/2000 - 04h27

"O Traje" traz uma hora e meia de magia inesquecível

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FABIO CYPRIANO, da Folha de S.Paulo

No palco , apenas um imenso tapete, quatro cadeiras, uma mesa, uma cama e duas araras de roupas. Mas o que os quatro atores de "O Traje" (Le Costume), com encenação de Peter Brook, fazem com esses elementos em uma hora e meia de espetáculo é de uma magia inesquecível.

Maphikela (Sotigui Kouyaté, o mesmo ator que interpretou Prospero, com Brook, na montagem de "A Tempestade"), um negro de Sophiatown, na África do Sul, entra para anunciar o drama que vai se desenvolver. Seus gestos são largos, e suas mãos materializam vários dos comentários que faz, de maneira popular.

Ao longo do espetáculo, todos os atores não apenas representam seus personagens, mas distanciam-se deles para narrar o que com eles ocorre.
São contadores de histórias e intérpretes da própria trama. Não se trata aqui apenas de criar um distanciamento à Brecht, mas muito mais de produzir um jogo teatral simples e, ao mesmo tempo, envolvente.

Pois bem, na cidade de Sophiatown, dois negros, Matilda (Ta- nya Moodie)
e Philemon (Cyril Guei), vivem aparentemente um grande romance, até que Philemon descobre que sua mulher o trai todas as manhãs. Ele a surpreende, e o amante escapa deixando seu terno, o traje.

O marido, então, decide que o terno passará a fazer parte do cotidiano do casal, até que Matilda, sufocada -mas culpada- pela nova situação, busca tornar sua vida mais animada entrando para uma organização de mulheres casadas e se torna uma cantora.

A trama é simples, e Brook faz uma encenação leve, um musical com direito até a Chico Buarque, assobiado por Philemon quando prepara o café da manhã para a mulher. As canções são uma forma de dinamizar o espetáculo.

Brook acha que o pior inimigo do teatro é o tédio, e "O Traje" é uma demonstração de como o encenador consegue se livrar dele de maneira lúdica e cativante. Não há um só momento de dispersão, mesmo sem efeitos espetaculares. Existe uma forma de concentração sobre a interpretação de cada ator que faz com que ela se torne hipnótica. E isso não ocorre apenas por uma intensidade dramática, mas por uma forte ironia na própria maneira de interpretar.

Cada ator está consciente de que participa de um jogo, portanto é livre para jogar como quiser, o que torna a encenação muito mais autêntica.

Mas, sob essa aparência lúdica, há uma história terrível, do sofrimento da traição e das dificuldades em suportar a culpa, temas que são prorrogados até o minuto do espetáculo. Apenas nos últimos instantes, a tensão que permanece no ar sobre a existência do terno, admitida e não discutida, termina de maneira dramática. Magistralmente, Brook nos faz rir durante todo o espetáculo, para que se saia dele chorando.

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