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26/05/2004 - 04h19

Brasil se arma para exportar indústria cinematográfica

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LAURA MATTOS
da Folha de S.Paulo

O Brasil parece ter encontrado um "espetáculo do crescimento" viável. Mercado e governo se armam para transformar o país em um pólo internacional de produções de publicidade, longas-metragens e programas de TV.

Com a retomada do cinema nacional consolidada e a vitrine mundial gerada pelo fenômeno "Cidade de Deus", de Fernando Meirelles --e agora por "Diários de Motocicleta", de Walter Salles--, o próximo passo seria exportar serviços de produção.

Começam a se fortalecer associações de produtoras que miram o mercado externo, e o governo inicia um trabalho de divulgação internacional.

Já há sinais claros de um aumento na procura da mão-de-obra brasileira por produtores estrangeiros. Na semana passada, por exemplo, o Brasil passou a ser cenário de uma megaprodução japonesa. A série televisiva "Haru e Natsu", da NHK, a maior rede de TV do Japão, está sendo rodada, em Campinas (interior de São Paulo), com a participação de quase mil brasileiros. É uma parceria com a Casablanca, produtora de "Turma do Gueto" e "Metamorphoses", exibidas na Record.

Outro dado dessa globalização audiovisual: de 2002 para 2003, dobrou o volume de trabalhos publicitários estrangeiros produzidos no país, com a geração de US$ 50 milhões (mais de R$ 150 milhões). O levantamento é de Eitan Rosenthal, presidente do conselho da FilmBrazil, associação formada há dois anos, inicialmente por produtoras de propaganda, que agora agrega cineastas.

Uma das principais vantagens para os gringos é financeira. Com a desvalorização do real em relação ao dólar e ao euro, o Brasil passa a ser mais barato para Estados Unidos e países da Europa.

"A renda bruta da indústria de cinema na Califórnia é um terço do PIB brasileiro. E um terço de toda a produção californiana é realizada em outros países, por questões de custo. Nosso objetivo é buscar parte desse mercado, que já começa a abrir os olhos para o Brasil", afirma Rosenthal.

Além disso, o país tem a vantagem de oferecer vários tipos de paisagens, da urbana São Paulo à selvagem floresta amazônica. Isso sem falar das praias, tão cobiçadas lá fora. No caso da série japonesa, o cenário exigido pelo roteiro determinou a vinda da equipe ao Brasil, segundo Mineyo Sato, diretor-executivo da NHK.

Ele diz que a rede costuma fazer parcerias com a China, Estados Unidos e Filipinas. "Com o Brasil, é a primeira vez, e temos planos para futuros projetos", afirma.

Outro exemplo desse aquecimento de mercado é o da Trattoria, produtora da qual Rosenthal é sócio. No ano passado, foi responsável por filmar o clipe do rapper norte-americano Snoop Dogg no Rio, que estreou na MTV dos EUA. A encomenda foi feita pela gravadora do cantor a uma produtora do país, que terceirizou o trabalho para o Brasil.

Segundo Rosenthal, um videoclipe brasileiro tem um orçamento médio em torno de R$ 50 mil. No caso de Snoop Dogg, diz, só o valor gasto no Brasil foi de US$ 200 mil (mais de R$ 600 mil).

"Nessa negociação, a paisagem das praias do Rio foi essencial para a escolha do Brasil. Mas já filmamos um comercial para a Danone de Portugal, na via D. Pedro 2º, perto de Campinas, como se fosse uma estradinha portuguesa. Até "maquiamos" um caminhão para se parecer com os de lá."

O cenário também foi indiferente no caso da Master Shot Films, de São Paulo, que há pouco mais de um ano finalizou o longa "The Champagne Club" para Los Angeles. Os atores americanos filmaram no interior do Rio, sem que o filme ressaltasse o local.

"A procura internacional vem crescendo. Recentemente, quase fechamos com uma TV francesa para rodar um "reality show" em Angra dos Reis [Rio]. Só perdemos o contrato porque o governo do Taiti ofereceu vários benefícios, a fim de divulgar o turismo do local. Estamos agora sendo sondados para fazer um longa-metragem alemão", diz Vicente Miceli, sócio da Master Shot.

A O2 Filmes, de Fernando Meirelles, vive um "boom" de trabalhos estrangeiros desde novembro do ano passado. Segundo Paulo Morelli, um dos sócios, só neste período já foram realizadas produções publicitárias (de marcas como Audi e Siemens) para Coréia do Sul, Espanha, França, Inglaterra e Estados Unidos.

Meirelles, que está em Londres no início das filmagens do longa "O Jardineiro Fiel", afirmou à Folha, por e-mail, que já é "estatístico" o crescimento do Brasil como exportador audiovisual. Na opinião do cineasta, são vários os fatores que levaram o Brasil a despontar: organização do mercado, incentivo do governo, moeda desvalorizada, competência dos profissionais brasileiros e a vitrine gerada por "Cidade de Deus" no Oscar. "Tecnicamente o Brasil melhorou muito, graças a investimentos em todos os setores da indústria, equipamentos, laboratórios e finalização. O câmbio deu o empurrão final", disse o diretor.

Nova ordem mundial

Outro fator favorável à transformação do Brasil em um "paraíso audiovisual" é a recente mudança da União Européia com entrada da Polônia, Hungria e República Tcheca. Os três países há anos absorvem parte da produção da Europa pelos custos mais baixos.

Quando adotarem o euro, perderão esse atrativo. Assim, o Brasil poderá se colocar como nova alternativa à Europa, como vem fazendo a Nova Zelândia, Austrália e África do Sul.
 

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