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27/05/2004 - 03h30

Em filme de Emmerich, aquecimento da Terra provoca catástrofe

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FERNANDO EICHENBERG
free-lance para a Folha de S.Paulo, em Paris

Qual seria sua última mensagem se o mundo fosse acabar amanhã? "No more Bush" [chega de Bush], disparou o diretor alemão Roland Emmerich, referindo-se ao atual presidente dos Estados Unidos, George W. Bush.

A irônica e afiada resposta do cineasta de "Independence Day" (96) e "Godzilla" (98) revela seu estado de espírito político, mas também inspira seu novo filme, "O Dia Depois de Amanhã", que tem pré-estréia no Brasil hoje. A estréia é amanhã.

Emmerich volta à carga com um filme-catástrofe, uma superprodução da Fox orçada em mais de US$ 120 milhões e sustentada numa trama de destruição do planeta causada por graves alterações climáticas.

No filme, o aquecimento global deflagra o degelo das calotas polares, mudanças nos fluxos das correntes marítimas e uma série repentina de manifestações meteorológicas anormais, prenúncios de uma nova era glacial. As alterações do clima provocam, por meio da utilização de numerosos e espetaculares efeitos especiais, intensas nevascas em Nova Déli, descomunais chuvas de granizos em Tóquio, devastadores tornados em Los Angeles e uma gigantesca onda sobre Nova York.

O climatologista Jack Hall (Dennis Quaid), que tentara alertar as autoridades mundiais para os riscos do aquecimento da Terra, se lança numa operação suicida de salvamento de seu filho, Sam (Jake Gyllenhaal), encurralado numa Nova York congelada.

A maior tragédia climática atinge o hemisfério Norte, e os americanos correm em fuga desesperada rumo ao Sul, ainda resguardado por temperaturas mais clementes. Numa curiosa e surrealista cena, os refugiados são barrados pelo governo do México, que manda fechar suas fronteiras com os EUA para evitar a descontrolada invasão. Enquanto cidadãos americanos tentam atravessar ilegalmente o Rio Grande, os governos chegam a um acordo, graças ao perdão da Casa Branca à dívida externa dos países latinos.

"O Dia Depois de Amanhã" estréia poucos meses depois da divulgação pelo Pentágono americano, em fevereiro último, de um relatório sobre eventuais efeitos perigosos decorrentes de um recrudescimento das temperaturas do planeta, revelando um cenário similar ao descrito no filme, embora com previsões menos iminentes. "Não esperava por esse apoio do Pentágono e de Bush", ironizou Jeffrey Nachmanoff, responsável pelo roteiro, durante as entrevistas para a imprensa internacional, em Paris.

Embora não negue a coloração política da trama, o roteirista enfatizou ter escrito uma história de entretenimento, e não um cenário para um filme de Michael Moore (vencedor da Palma de Ouro de Cannes com "Fahrenheit 9/11", um documentário contra Bush).

O diretor Roland Emmerich diz ter realizado um filme que ataca a política ambiental da atual administração Bush. "O governo americano não apenas nega que o aquecimento global exista, mas também que seja de responsabilidade humana. Ele informa o povo americano sobre o que está ocorrendo no Iraque da mesma maneira que informa sobre o aquecimento do planeta", afirmou. Para o produtor Mark Gordon, o filme poderá até mesmo ajudar na campanha de John Kerry, candidato do Partido Democrata às próximas eleições americanas, embora descarte a intenção. "Penso que o filme pode fazer as pessoas refletirem sobre o ambiente e também se conscientizarem de que o governo Bush não trata corretamente essa questão", disse.

Emmerich recebeu críticas por ter voltado a destruir Nova York num de seus filmes, agora pela terceira vez e num contexto pós-atentados de 11 de setembro. Mas, na sua opinião, são observações impertinentes: "Devemos continuar fazendo filmes como antes. Se não pudermos mais mostrar explosões nas telas das salas de cinema, os terroristas terão vencido", contestou.

Além das controvérsias políticas, o filme proporcionou também polêmicas científicas. Cientistas e especialistas da Nasa, a agência espacial americana, desmentem que o aquecimento da Terra possa causar uma nova Idade do Gelo, como sugere o filme. "Cientistas mudam toda hora de opinião, como políticos. Mas é bom que as pessoas estejam discutindo isso. E mesmo que o aquecimento global não provoque uma nova Idade do Gelo, certamente provocará uma série de estragos", rebateu Emmerich.

O diretor defende a questão ambiental como um problema humano, e não político. "Às vezes penso que já é tarde para que se possa fazer algo."
 

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