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28/05/2004 - 04h16

Filme argentino contrasta paisagem épica com vidas insignificantes

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SILVANA ARANTES
da Folha de S.Paulo

"Histórias Mínimas" é a volta por cima do cineasta argentino Carlos Sorín, 60. Recebido em sua estréia ("La Película del Rey", 1996) com um punhado de prêmios, incluindo o Leão de Prata na Mostra de Veneza, Sorín conheceu logo a queda.

Seu segundo filme, "Eversmile, New Jersey" (1989), rodado em inglês, com Daniel Day-Lewis, foi um fiasco, devido ao "excesso de confiança produzido pelo sucesso do primeiro", diz o diretor, que esperou mais de uma década para retornar ao cinema, com essas "Histórias Mínimas" (e profundamente argentinas), que estréiam hoje em São Paulo.

Com apenas um ator profissional no elenco, Javier Lombardo (Roberto), o longa dominou em 2003 a premiação do cinema de seu país, o Cóndor de Prata, vencendo em oito categorias, inclusive melhor filme e diretor. Sorín falou à Folha.

Folha - Por que o sr. escolheu filmar não-atores?

Carlos Sorín -
Porque posso trabalhar com eles não como atores, mas como pessoas que, por suas características, estão muito próximas dos personagens. Escolho os intérpretes quando o roteiro está pela metade e termino de escrever para eles, sob medida.

Assim, a filmagem se transforma num jogo cujo objetivo é eliminar as inibições naturais de quem nunca esteve diante de uma câmera. Filmando muito, surgem, sem querer, instantes de verdade. "Histórias Mínimas" é uma colagem desses momentos.

Folha - Esse método é também um modo de desafiar a fronteira entre ficção e documentário?

Sorín -
Suponho que sim. Essa zona difusa entre a ficção e o documentário me seduz. É estimulante trabalhar num terreno em que não se sabe de antemão o que é certo e o que não é. A TV, por exemplo, encontrou nos "reality shows" uma forma apaixonante de mostrar algo que não se sabe se é verdade ou não.

Folha - Filmar na Patagônia é afirmar a distância do "centro"?

Sorín -
A Patagônia é uma região que me atrai muito, pelo que há nela de ausência, pelo vazio que produz atrás dos personagens. Parecia-me interessante o contraste de um cenário de dimensões épicas com as histórias insignificantes dos personagens. Mas o verdadeiro cenário de meus filmes é o rosto humano, não as paisagens, daí minha tendência de narrar em primeiros planos.

Folha - "Histórias Mínimas" defende a substância da vida comum ou apregoa a falta de um grande sentido em qualquer existência?

Sorín -
Acho que qualquer história, por mais banal que pareça, pode ser uma história de cinema. Mas sinto uma forte atração por tudo o que ressalte o caráter precário, mínimo, insignificante dos desejos humanos. Vistas sob o prisma da paisagem natural, que leva milhões de anos para sofrer mudanças, as histórias humanas são necessariamente intranscendentes, todas --a dos grandes homens e as histórias mínimas.
 

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