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01/06/2004 - 04h35

Crise de gravadoras ajuda e atrapalha prêmios musicais

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PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Folha de S.Paulo

Começa nesta semana a temporada 2004 de prêmios de música brasileira. Hoje acontece a entrega do Prêmio Multishow, no Teatro Municipal do Rio, com transmissão direta, às 21h, do canal pago de TV que lhe dá nome. Ontem aconteceu, em São Paulo, a primeira eliminatória do Prêmio Visa, neste ano dedicado à revelação de instrumentistas.

A pergunta subjacente é: há razões para celebrações no atual cenário de desmonte da indústria fonográfica? Quem começa a responder é José Maurício Machline, 47, diretor de uma terceira competição, o Prêmio Tim (ex-Sharp, ex-Caras), que terá cerimônia de entrega em 7 de julho, também no Teatro Municipal carioca.

"Eu não estou nem aí para as gravadoras. Acho que a crise é muito boa para os artistas. Neste ano recebemos 17% mais discos que em 2004", afirma, citando o impulso de produção independente que tem decorrido da paralisação relativa das gravadoras.

O Tim existe em função dos discos lançados no Brasil ao longo de cada ano, premiando-os por categorias que vão do erudito ao mais popular. Num júri plural de 20 nomes, entram críticos, jornalistas e artistas que vão de Otto a Wando, de Paulo César Pinheiro a Jorge Vercilo.

Pelos critérios de laurear discos, Maria Rita, que foi destacada em 2001 na premiação da Associação Paulista de Críticos de Arte, pode ser a revelação de 2003 do Tim.

É a filha de Elis Regina, aliás, quem lidera o Prêmio Multishow em termos de número de indicações --concorre em cinco categorias, assim como o grupo Skank. Se o Tim se baseia em comissão "VIP" de julgadores, o Multishow é uma votação popular --ou melhor, semipopular, pois se restringe a consumidores de TV paga que possuem computador para votar pela internet.

Apesar do caráter ao mesmo tempo popular e elitista, a lista resultante de indicados é plural como o júri do Prêmio Tim. Maria Rita disputa o prêmio de melhor cantora com Gal Costa, Paula Toller, Ana Carolina e Sandy; Maria Rita concorre com Sandy & Junior pelo melhor CD do ano; e assim por diante (leia lista completa em www.multishow.com.br).

O diretor artístico da festa de entrega é Leonardo Netto, 54, também empresário dos cantores Marisa Monte, Arnaldo Antunes e Adriana Calcanhotto e da atriz Regina Casé --seus contratados não participarão da cerimônia, com exceção de Regina, mestre de cerimônias do prêmio com o produtor Nelson Motta.

À diferença de Machline, ele afirma que a crise fonográfica repercute no prêmio, sim. "A crise afeta, pelo lado empresarial. O Multishow teve de fazer um investimento grande [R$ 3 milhões, segundo o canal]. Nas edições anteriores tínhamos uma ajuda maior das gravadoras, nesse sentido."

Se fala em "ajuda", tem de falar em "lobby" também --as gravadoras fazem lobby para colocar seus artistas na tela (além das premiações, a festa engloba números musicais rápidos de vários artistas)? "Lobby é uma realidade. As gravadoras fazem, no seu papel de direito, colocar o maior número possível de artistas. Mas não sou doido de colocar quem não queira porque gravadora pediu", diz.

Pelo Tim, Machline dá sua versão sobre o assunto "lobby": "Já houve, sim, mas não de artistas propriamente. As gravadoras tentavam, mas, como não dava certo, desistiram". Mas separa o distanciamento das gravadoras de razões ligadas à crise: "Nosso processo é muito claro, por isso as pessoas não fazem lobby".

Diretamente ligado à indústria fonográfica permanece o Video Music Brasil, da MTV, focado exclusivamente no mercado de videoclipes. Neste ano, o prêmio foi adiado do tradicional agosto para outubro, segundo a MTV em razão da mudança da data do equivalente norte-americano, Video Music Awards --esse vai acontecer em agosto, evitando a proximidade com a data traumática de 11 de setembro.

Num campo bastante diverso dos de Tim, Multishow e VMB, permanece o Prêmio Visa, praticamente isolado no posto de evento exclusivo de revelação de novos talentos musicais, que se alternam a cada ano nas categorias músico instrumental, vocal e compositor. Neste ano foram 514 inscritos, dos quais saem agora 24 semifinalistas.

Entrando na sétima edição com os atrativos de um CD gravado e R$ 110 mil ao vencedor, o Visa já premiou nomes como o instrumentista Yamandú Costa e os cantores Mônica Salmaso e Renato Braz. Se o primeiro foi revelação indiscutível em seu campo, os outros dois não chegaram até hoje a se consolidar como nomes de ponta da nova MPB.

"Mônica Salmaso faz um excelente trabalho, mas pega por exemplo uma música de Clementina de Jesus, que é quente, e torna morna. Eles são muito comportados, então em termos de sucesso comercial não acontecem, não vão acontecer nem crescer mais que isso", critica/autocritica o produtor-executivo do evento, Zé Nogueira, 74.

Com júri de músicos e críticos, o Visa, ligado à Rádio Eldorado, do Grupo Estado, tende a seguir padrão mais conservador, privilegiando qualidades técnicas às vezes em detrimento do poder de comunicação popular de seus concorrentes.

"Esse pessoal da música é meio radical, então de fato às vezes os candidatos selecionados são todos dessa linha", reconhece Nogueira. "Mas se um grupo de rap de qualidade se inscrevesse, acho que teria chance, sim", completa.
 

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